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MEDICINA
Unesp testa larvas de moscas para cicatrizar feridas difíceis
REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL
Povoar deliberadamente
uma ferida com larvas de
mosca vai contra os instintos
mais viscerais de higiene,
mas é um ótimo jeito de facilitar a cicatrização. O resultado vem de uma pesquisa da
Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Botucatu,
que testou a abordagem em
ratos de laboratório.
Para a coordenadora do estudo, Maria José Trevizani
Nitsche, do Departamento
de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Botucatu,
a abordagem pode minimizar problemas circulatórios e
até evitar amputações em
diabéticos, que sofrem com
feridas necrosadas (recobertas com tecido morto), normalmente difíceis de curar.
"As larvas já são usadas para esse fim nos EUA e na Europa", diz Nitsche, explicando que testes nacionais são
necessários antes de aplicar
o conceito na prática médica
brasileira. "É claro que as larvas de mosca [das espécies
Chrysomya megacephala e
Chrysomya putoria] são criadas em condições estéreis
para evitar doenças", afirma.
Ambos os bichos têm a peculiaridade de se alimentar
com tecido necrosado. Com
a ajuda de um de seus orientadores de doutorado, o especialista em insetos Wesley
Godoy, da USP de Piracicaba, Nitsche determinou qual
é a melhor maneira de aplicar os bichos numa ferida.
São entre cinco e dez larvas por centímetro quadrado
do ferimento, que são deixadas à vontade por 15 horas
no dorso dos ratos. Para simular as feridas humanas, os
roedores recebem uma dose
de ácido clorídrico (que causa necrose), após anestesia.
"Após esse período, as larvas tinham crescido de 2 mm
para 1 cm de comprimento.
E a ferida não tinha mais tecido necrosado nem secreções", conta a pesquisadora.
Ambos os dados são importantes, explica ela, porque a
presença de necrose impede
que a cicatrização siga seu
curso, enquanto a secreção
associada a ela pode fazer a
ferida infeccionar.
Em diabéticos, feridas necrosadas surgem como resultado dos problemas de
circulação do sangue e da falta de sensibilidade nas extremidades do corpo que resultam da doença. "A pessoa se
coça e nem percebe o aparecimento das feridas", diz
Nitsche. O plano agora é testar o emprego das larvas em
pacientes humanos.
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