São Paulo, sábado, 12 de setembro de 2009

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MEDICINA

Unesp testa larvas de moscas para cicatrizar feridas difíceis

REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL

Povoar deliberadamente uma ferida com larvas de mosca vai contra os instintos mais viscerais de higiene, mas é um ótimo jeito de facilitar a cicatrização. O resultado vem de uma pesquisa da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Botucatu, que testou a abordagem em ratos de laboratório.
Para a coordenadora do estudo, Maria José Trevizani Nitsche, do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Botucatu, a abordagem pode minimizar problemas circulatórios e até evitar amputações em diabéticos, que sofrem com feridas necrosadas (recobertas com tecido morto), normalmente difíceis de curar.
"As larvas já são usadas para esse fim nos EUA e na Europa", diz Nitsche, explicando que testes nacionais são necessários antes de aplicar o conceito na prática médica brasileira. "É claro que as larvas de mosca [das espécies Chrysomya megacephala e Chrysomya putoria] são criadas em condições estéreis para evitar doenças", afirma.
Ambos os bichos têm a peculiaridade de se alimentar com tecido necrosado. Com a ajuda de um de seus orientadores de doutorado, o especialista em insetos Wesley Godoy, da USP de Piracicaba, Nitsche determinou qual é a melhor maneira de aplicar os bichos numa ferida.
São entre cinco e dez larvas por centímetro quadrado do ferimento, que são deixadas à vontade por 15 horas no dorso dos ratos. Para simular as feridas humanas, os roedores recebem uma dose de ácido clorídrico (que causa necrose), após anestesia.
"Após esse período, as larvas tinham crescido de 2 mm para 1 cm de comprimento. E a ferida não tinha mais tecido necrosado nem secreções", conta a pesquisadora. Ambos os dados são importantes, explica ela, porque a presença de necrose impede que a cicatrização siga seu curso, enquanto a secreção associada a ela pode fazer a ferida infeccionar.
Em diabéticos, feridas necrosadas surgem como resultado dos problemas de circulação do sangue e da falta de sensibilidade nas extremidades do corpo que resultam da doença. "A pessoa se coça e nem percebe o aparecimento das feridas", diz Nitsche. O plano agora é testar o emprego das larvas em pacientes humanos.


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