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Biólogo brasileiro "cura" célula autista
Alysson Muotri, que trabalha nos EUA, utilizou molécula para recuperar neurônios defeituosos em laboratório
Estudo indica caminho para criar tratamento contra o autismo, mas os medicamentos ainda têm de ser aprimorados
RAFAEL GARCIA
EM BOSTON
O biólogo que reproduziu
o comportamento dos neurônios de crianças autistas em
um pires de laboratório
anuncia agora um passo crucial em seu trabalho.
Em estudo publicado hoje,
o brasileiro Alysson Muotri,
da Universidade da Califórnia em San Diego, descreve
como "curou" um punhado
de células defeituosas com
uma droga experimental.
Ao recriar neurônios a partir de células retiradas da pele de crianças com uma síndrome de autismo genética,
Muotri identificou características da doença independentes do sintoma comportamental, observando as células vivas em microscópios.
"Isso sugere que a técnica
tem um potencial de diagnóstico", diz. "É a primeira
descrição de um modelo humano que recapitula uma
doença psiquiátrica."
O biólogo é cauteloso, porém, quando questionado sobre se seu trabalho é a descoberta de um tratamento para
o autismo. A droga usada no
experimento, a IGF-1, altera
os níveis de insulina no organismo, e pode levar a uma série de efeitos colaterais indesejados caso seja administrada no sistema nervoso de
pessoas normais.
Mesmo que a descoberta
de um medicamento adequado possa levar décadas, Muotri se diz otimista. Ele está
elaborando testes com uma
série de outras drogas em um
sistema robótico de experimentação, como o que empresas farmacêuticas usam.
"Não acho que uma droga
conseguiria consertar tudo,
no caso de alguém que tenha
desenvolvido um problema
de cognição e memória mais
profundo. Mas mostramos
que é possível reverter o estado desses neurônios em
grande medida." As descobertas ganharam a capa da
prestigiosa revista "Cell".
No estudo com células, reprogramadas, ele usou material biológico de crianças
portadoras da síndrome de
Rett, uma das variantes mais
graves das várias doenças
designadas como autismo.
Essa condição é causada
pelo defeito em um único gene, o que facilita seu estudo
em laboratório, mas não é representativa de todas as outras síndromes do autismo.
"Nós não sabemos ainda,
porém, por que esse gene
causa autismo quando sofre
mutações", diz. Se for possível descobrir o mecanismo
por meio do qual a doença se
desenvolve, talvez seja possível entender a biologia dos
casos esporádicos de autismo, que aparentam ter uma
relação muito mais complexa com a genética.
NOVA FERRAMENTA
Para isso, Muotri está estudando também neurônios reprogramados a partir de células da pele de crianças com
outros tipos de autismo.
A técnica que ele usa para
criar neurônios a partir de células é a mesma inventada
pelo japonês Shinya Yamanaka, que reverteu células
adultas a um estágio de desenvolvimento similar ao de
células-tronco embrionárias.
Em menos de três anos, essas células -conhecidas pela sigla iPS- se tornaram
uma ferramenta tão popular
na biologia experimental que
Yamanaka já é visto como
candidato ao prêmio Nobel.
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