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ARQUEOASTRONOMIA
Comparado a Stonehenge, sítio mostraria conhecimentos indígenas sobre o céu
Amapá pode ter "observatório" pré-histórico
DA REPORTAGEM LOCAL
Arqueólogos do Iepa (Instituto
de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá) dizem ter identificado um observatório astronômico pré-histórico
no município de Calçoene, a 390
quilômetros da capital do Estado
amazônico. Trata-se de um conjunto de pedras dispostas em círculo, cuja estrutura estaria ligada
a eventos celestes, como o solstício de inverno (momento do ano
em que um dos hemisférios da
Terra está na sua posição mais
distante do Sol).
A presença de círculos de pedras maciças no Amapá é conhecida há tempos. "Há relatos do começo do século passado falando
disso", conta o arqueólogo
Eduardo Góes Neves, da USP. Os
próprios moradores de Calçoene
já sabiam da existência das pedras. Mas é a primeira vez que alguém tenta atribuir formalmente
um significado astronômico a
elas, diz a arqueóloga Mariana
Petry Cabral, coordenadora do
estudo do Iepa ao lado de seu colega e marido João Saldanha.
"Trata-se de uma estrutura
muito bonita, no alto de uma colina", conta ela. "Quando passamos a examiná-la, percebemos
uma inclinação que poderia estar
associada ao solstício de inverno e
decidimos verificar isso".
Eles tiraram a prova (no hemisfério Norte, onde está o Amapá, a
data costuma corresponder ao dia
22 de dezembro) e dizem ter verificado que uma das pedras realmente parece estar exatamente
alinhada com o Sol no solstício de
inverno. Nesse dia, quando o astro alcança sua posição mais alta
no céu (o chamado zênite), ele
apareceria logo acima da pedra,
de forma que ela não lança sombra nenhuma no chão.
A hipótese de Cabral é que o círculo tenha sido um misto de observatório e centro ritualístico.
Chegam a compará-lo com Stonehenge, famoso monumento
pré-histórico do Reino Unido.
"Claro que Stonehenge é muito
maior. É mais uma comparação
para situar o público leigo", diz.
Para Germano Afonso, especialista em arqueoastronomia (a astronomia dos povos antigos) da
Universidade Federal do Paraná,
tanto a localização quanto a disposição das pedras são coerentes
com a interpretação astronômica.
"Não é de surpreender, porque na
verdade há outros exemplos parecidos em outros Estados do Brasil", afirma ele. No entanto, ele diz
não concordar com a hipótese, levantada por Cabral, de que apenas uma sociedade complexa poderia ter montado a estrutura.
"Não é preciso uma organização social mais elaborada do que
a da maioria dos índios da época
do Descobrimento para isso",
afirma. Góes Neves concorda:
"Conhecimento astronômico
vem da observação da natureza, e
qualquer grupo caçador-coletor
tem isso." O astrônomo Ronaldo
Rogério de Freitas Mourão, por
sua vez, diz que é "uma pretensão" associar o sítio a Stonehenge.
Cabral e colegas querem, agora,
escavar o local em busca de indícios da época de sua construção.
Também querem determinar a
origem das pedras: elas claramente foram transportadas para lá,
mas não se sabe de que distância
podem ter vindo.
(RJL)
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