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EUA soletram DNA de eucalipto do Brasil
Americanos, de olho na aplicação energética da planta, escolhem por projeto de pesquisa brasileiro entre outros 120
Pesquisas genômicas do
vegetal já feitas no Brasil
cobriram menos de 10% de
toda a informação; cientista
diz que é preciso saber tudo
Leonardo Wen - 25.abr.2006/Folha Imagem
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Plantação de eucalipto em Teixeira de Freitas, na Bahia |
DA REPORTAGEM LOCAL
Um projeto para o seqüenciamento na íntegra do genoma
do eucalipto, que nasceu por
iniciativa de um grupo de pesquisa brasileiro, acaba de ser
aprovado pelo Joint Genome
Institute, uma verdadeira usina de soletrar genomas ligada
ao Departamento de Energia
do governo dos EUA.
Em três anos, o mundo conhecerá todo o livro genético
do eucalipto, planta que ganha
cada vez mais importância por
causa de sua utilidade energética. A iniciativa, além do Brasil,
conta com grupos da África do
Sul e da Austrália.
"O interessante é que o
exemplar da planta escolhido
para o seqüenciamento é de
São Paulo, da Companhia Suzano de Papel e Celulose", disse à
Folha o pesquisador Dario
Grattapaglia, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia,o líder do projeto de pesquisa pelo lado do Brasil. O eucalipto é nativo da Austrália.
Todo o trabalho computacional de anotação e de montagem
do genoma será feito nos Estados Unidos. Os dados serão públicos e vão ser colocados na internet. "Isso será muito bom.
Com as ferramentas genéticas
que já temos, conseguiremos
nos manter na liderança desse
campo de pesquisas", diz o
cientista da Embrapa.
Dentro da classificação dos
botânicos, o eucalipto é um gênero que agrupa mais de 700
espécies. Apenas 20 são plantadas. "O nosso estudo é sobre o
eucalipto tropical, o Eucalyptus
grandis", disse o pesquisador.
O projeto organizado pelo
Brasil concorreu com outros
120 que foram apresentados
num único ano, na chamada referente a 2008, para o instituto
americano. O fato de o eucalipto entrar na lista das iniciativas
aprovadas - ele não foi o único
- tem tudo a ver com o interesse americano pelo setor industrial atrelado ao vegetal.
"Existem várias empresas
americanas atuando no Brasil.
Essa planta é importante porque hoje, além do papel e da celulose, ela é usada como fonte
de energia, por exemplo, como
combustível vegetal na produção de aço", explica Grattapaglia. "Outra aplicação é que, no
caso das plantações, o eucalipto pode ser usado em projetos
de seqüestro de carbono".
Dados em falta
O Brasil tem dois grupos de
pesquisa que já seqüenciaram o
genoma do eucalipto. No entanto, apenas as chamadas
ESTs (seqüências que expressam proteínas) foram soletradas. Grattapaglia considera essencial, agora, que todo o genoma seja conhecido.
Tanto o grupo paulista, financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo), quanto o
federal -liderado por Grattapaglia, que contou com recursos do Ministério de Ciência e
Tecnologia- encerraram seus
trabalhos com menos de 10%
do genoma da planta decifrado.
"No nosso caso, mais importante do que o seqüenciamento
em si foi a rede de pesquisa que
nós montamos no país. Com
ela, conseguimos apresentar
esse projeto aos americanos".
O grupo paulista, trabalhando sozinho, vem obtendo alguns resultados positivos com
as seqüências já obtidas.
O negócio do eucalipto movimenta no Brasil algo ao redor
dos R$ 80 bilhões, aproximadamente 4% do PIB nacional.
(EDUARDO GERAQUE)
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