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GENOMA
Sucesso no sequenciamento do DNA da bactéria Xylella fastidiosa revela deficiência na pesquisa genética brasileira
Já faltam especialistas em bioinformática
RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O primeiro genoma completo
de um micróbio causador de
doença em plantas está descrito
por um consórcio brasileiro na
edição de hoje da revista científica
britânica "Nature". Até o final do
ano, deve ficar pronto outro sequenciamento de uma bactéria
desse tipo. Mas o avanço rápido
das pesquisas na área trouxe um
problema inesperado.
"Está se criando uma enorme
demanda de gente capacitada em
bioinformática", diz João Carlos
Setúbal, pesquisador do Instituto
de Computação da Unicamp que
chefiou o trabalho de computação do sequenciamento da bactéria Xylella fastidiosa, agente causador da doença do amarelinho,
que ataca as laranjeiras.
A importância da bioinformática -computação aplicada à biologia- se reflete no fato de Setúbal ser o autor sênior do trabalho
publicado na "Nature" (seu nome
é o último da lista de 116 cientistas
que assinam o estudo).
Segundo Setúbal, esse é o único
gargalo que pode atrapalhar, no
futuro próximo, a continuação de
estudos genômicos no Brasil. "Temos apenas dois grupos de bioinformática. Isso é muito pouco",
disse ele, em entrevista coletiva
para anunciar a publicação.
Base da biologia
"Entramos em uma nova fase. A
computação vai ser a base da biologia", diz o biólogo Andrew
Simpson, coordenador do sequenciamento da Xylella (e primeiro nome na lista de autores).
Simpson chefia o laboratório de
genética do Instituto Ludwig de
Pesquisa sobre o Câncer em São
Paulo. O Ludwig, em parceria
com a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo), está financiando um projeto sobre genes de cânceres comuns no Brasil (leia texto abaixo).
A Fapesp é a criadora e principal financiadora do consórcio de
pesquisa conhecido pela abreviatura Onsa (em inglês, Organização para Sequenciamento e Análise de Nucleotídeos). Trata-se de
uma instituição que só existe virtualmente, cujo papel é coordenar
vários laboratórios sequenciadores e de bioinformática.
Outros projetos estão sendo tocados, novos deverão começar
em breve e a Fapesp pretende decidir sobre os próximos a ser iniciados. Tudo isso torna ainda
mais urgente o aumento da capacitação em bioinformática.
Até o final do ano, deve ficar
pronto o sequenciamento do genoma da bactéria Xanthomonas
citri, causadora do cancro cítrico,
segundo José Fernando Perez, diretor científico da Fapesp. "O genoma é duas vezes maior e o orçamento é duas vezes mais barato", diz ele. Foram investidos cerca de 13 milhões de dólares no
programa da bactéria Xylella.
Rumo à Califórnia
O projeto atraiu interesse internacional. O Serviço de Pesquisa
em Agricultura do governo norte-americano e a associação de viticultores dos EUA vão financiar,
com a Fapesp, o sequenciamento
de uma variedade de Xylella que
ataca as uvas na Califórnia.
Além disso, também se está sequenciando no país o genoma da
cana-de-açúcar. Em agosto, deve
começar o trabalho com a Clavibacter xili, que causa doença na
cana. O fungo Paracoccidioides
brasiliensis, causador de uma micose, é outro que será sequenciado logo. Entre os projetos futuros,
é discutido o sequenciamento de
genomas de parasitas causadores
de doenças tropicais.
O sequenciamento da Xylella
terminou em janeiro deste ano. O
artigo científico publicado na
"Nature" de hoje inclui um mapa
detalhado dos 2.904 genes descobertos, 47% dos quais têm funções conhecidas ou presumidas,
pela comparação com outros genomas sequenciados (com genes
"homólogos", ou semelhantes).
Este é o 24º genoma de bactéria
completado e disponível para
consulta à comunidade científica
internacional.
O sequenciamento da bactéria
do amarelinho foi planejado com
o objetivo básico de tornar-se um
meio de treinar equipes na área
da genômica, extremamente
competitiva. O projeto foi anunciado em outubro de 1997.
A Xylella foi sequenciada por
um consórcio de 35 laboratórios
(um dos quais de bioinformática). "Hoje, já são 65 laboratórios
na rede Onsa", diz Perez. "Duzentos pesquisadores e técnicos foram treinados."
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