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Grupo japonês explica como se desenvolve o casco da tartaruga
Estrutura única surge a partir de fusão de costelas, não de placas na pele
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Combinando o estudo de embriões de tartaruga, galinha e
camundongo com a análise de
um fóssil de 220 milhões de
anos foi possível agora a um
grupo de cientistas explicar um
dos mistérios da evolução biológica: como se desenvolve o
casco das tartarugas.
Tartarugas, cágados e jabutis
são os únicos vertebrados envolvidos por esse casco arredondado. Os cientistas da equipe de Shigeru Kuratani, do
Centro Riken para Biologia do
Desenvolvimento, de Kobe, Japão, mostraram como a carapaça é formada pela fusão das costelas e detalharam as mudanças nos ossos e músculos para
que isso seja possível.
Uma hipótese dizia que essa
estrutura teria surgido a partir
da ossificação de placas dentro
da pele. Mas havia problemas
com essa ideia. Como explicar
que essas placas ósseas se fundiam com as costelas? E por
que as escápulas, ossos que nos
outros vertebrados fazem parte
do ombro, estão dentro, e não
fora, da caixa torácica?
Kuratani e colegas não precisaram de nenhuma tecnologia
revolucionária para comparar
os embriões de camundongo,
galinha e da tartaruga-de-carapaça-mole-chinesa (de nome
científico Pelodiscus sinensis).
Foram usadas ferramentas tradicionais do estudo da anatomia conhecidas faz um século.
Quando começa a gestação
os embriões de vertebrados são
muito parecidos, o que deixa
claro como todos tiveram um
ancestral comum. Mas, a um
terço da incubação da tartaruga, seu embrião começa a apresentar características únicas.
As costelas migram para a região dorsal e uma parte da parede do corpo dobra sobre si
mesma, criando a carapaça
dérmica. No processo são aproveitadas as mesmas ligações
entre osso e músculo comuns
aos outros animais, e algumas
novas são criadas.
Uma boa pista para o estudo
foi a descoberta na China da
mais antiga tartaruga fóssil, a
Odontochelys. Ela é claramente
um elo, uma forma intermediária entre animais sem casco e as
tartarugas. A Odontochelys não
tem carapaça, tem apenas a
parte de baixo, o plastrão.
A equipe que descreveu o
fóssil escreveu já em artigo no
ano passado na revista "Nature" que a nova espécie mostra
que o plastrão se desenvolveu
antes da carapaça e que o casco
das tartarugas não derivaria de
placas ósseas.
O casco duro das tartarugas
ajuda na sua defesa contra predadores. Mas por que ele surgiu? "O propósito último é às
vezes pouco claro na evolução.
Hoje, muitas das tartarugas
modernas usam o casco como
proteção. Mas, quando ele primeiro surgiu, eu não tenho
ideia para que servia", disse
Kuratani à Folha.
A Odontochelys só tinha proteção ventral. "Ela era um animal aquático e tinha um plastrão totalmente desenvolvido
que oferecia proteção contra
predadores vindos de baixo, o
que é possível para organismos
aquáticos, mas não para os terrestres", disse um dos autores
do artigo sobre o fóssil na "Nature", Olivier Rieppel, da Universidade Northwestern, EUA.
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