|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BIODIVERSIDADE
Apesar de tensão, entidades vão se reunir
Técnico da Funai afirma que vai processar pesquisador da Unifesp
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A Funai pretende marcar até o
final deste mês uma reunião para
decidir o destino de uma pesquisa
pioneira sobre o uso do conhecimento tradicional da biodiversidade. Mas um acordo entre os
pesquisadores e os índios craôs,
do Tocantins, ganhou outro empecilho: um funcionário da Funai
diz que irá processar o coordenador do estudo da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
A pesquisa, que começou em
1999, fez um levantamento de 138
plantas medicinais usadas pelos
craôs e estava sendo considerada
modelo por contemplar o pagamento de royalties (direitos de
propriedade intelectual) à tribo.
O estudo foi paralisado em 2001
pela dificuldade de definir quem
poderia atuar como representante legal dos índios.
Em junho deste ano, surgiu a
denúncia de que o acordo havia
sido feito com apenas 3 das 17 aldeias craôs. Por meio de Fernando Schiavini, técnico indigenista
da Funai, a Kapey (associação que
reúne todas as aldeias da etnia)
anunciou à Folha a intenção de
pedir R$ 25 milhões de indenização à Unifesp.
Uma segunda reunião no começo de julho, da qual tomaram parte líderes da Kapey e da Wyty-Cati
(pronuncia-se "votô-catí"), a associação que fez o acordo com a
Unifesp, produziu um documento dizendo que a primeira denúncia fora assinada sem que os índios soubessem de seu conteúdo e
que a pesquisa devia continuar.
Para Elisaldo Carlini, farmacologista da Unifesp que orientou o
trabalho da bióloga Eliana Rodrigues entre os índios, a ata mostra
que a objeção ao projeto não partia dos craôs, mas Schiavini (citado como "Fernando Schianeni"
no documento) discorda.
"Não sei qual a validade desse
documento, mas o primeiro foi
registrado em cartório e elaborado pelos índios na presença da
procuradora Maria Luiza Grabner, do Ministério Público Federal", disse Schiavini à Folha.
"O professor Carlini foi apressado ao divulgar essa ata. Na verdade, isso foi um ataque à minha
pessoa. Apareci na praça como
falsificador de documentos", disse o indigenista. Schiavini anuncia que vai processar Carlini por
calúnia e difamação e pedir uma
investigação sobre as circunstâncias em que a ata foi assinada.
"Se ele quiser processar alguém,
terá de processar os próprios índios", disse Eliana Rodrigues, ao
ser informada da intenção do técnico. "Nós não estávamos lá
quando essa ata foi feita." Cristina
Assimakopoulos, advogada da
comissão de propriedade intelectual da Unifesp, afirma que a universidade não difamou ninguém:
"Quem assinou esse documento
foram os próprios índios".
Apesar do problema, a Funai informou que uma reunião com todas as partes envolvidas (a própria entidade, a Unifesp, o Ministério Público Federal, os craôs e o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético, do Ministério do
Meio Ambiente) deve ser marcada para o fim deste mês ou para a
primeira semana de setembro.
Texto Anterior: Câmera discreta Próximo Texto: Panorâmica - Biotecnologia: Bezerro clonado faz anticorpo de humanos Índice
|