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Lagartas tropicais têm cardápio restrito
Estudo mostra que "guerra química" entre as plantas e os animais é mais intensa nos trópicos do que em outras regiões
Biodiversidade dos insetos
permanece desconhecida;
estimativas mostram que
ainda falta descrever quase
17 milhões de espécies
David Wagner
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Lagarta (Antheraea polyphemus) que habita a zona temperada
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma equipe de treze cientistas coordenada por Lee Dyer,
da Universidade Tulane, de Nova Orleans, sul dos EUA, fez
uma análise detalhada da dieta
de larvas de insetos da ordem
Lepidóptera (mariposas e borboletas) em oito pontos do continente americano.
As coletas feitas em lugares
de clima temperado, como os
EUA e o Canadá, ou em áreas
tropicais (Panamá, Costa Rica,
Equador e Brasil) trouxeram
um dado novo sobre o comportamento desses insetos.
As dietas das lagartas tropicais são muito mais especializadas do que aquelas das suas
"primas" de florestas temperadas, mostrou o estudo.
A questão pode ter a ver com
uma "guerra química" mais intensa nas zonas próximas da linha do Equador. Nos trópicos,
como a interação entre plantas
e insetos é maior, por uma
questão de quantidade simplesmente, as plantas precisam
ser mais agressivas na síntese
de substâncias que as tornem
sem paladar para os animais. É
o jogo da evolução em curso.
O resultado dessa luta é que
os insetos acabam sendo forçados a reduzir bastante o seu
cardápio diário, para não sumirem antes da hora.
Mesmo com mais um elo
ecológico fechado, o trabalho
de Dyer e equipe - a brasileira
Helena de Morais, da Universidade de Brasília, especialista
em cerrado, é uma das pessoas
do grupo - ainda não conseguiu um avanço significativo no
campo quantitativo.
Isso, apesar de os cientistas
terem trabalhado com 75.000
amostras de taturanas e lagartas (larvas de insetos como borboletas e mariposas).
Apesar de o estudo ter lançado luzes sobre a distribuição de
insetos, especialmente nos trópicos, onde são mais abundantes, ele não ajudou a melhorar
as estimativas de quantas espécies desse grupo existem.
"Estamos muito longe de explicar a distribuição global da
biodiversidade", afirma o pesquisador Nigel Stork, da Universidade de Melbourne, Austrália, comentando o trabalho,
editado na ultima edição da revista científica "Nature".
Mesmo os besouros sendo
seres muito comuns, as explicações sobre biodiversidade
nos continentes se baseiam só
neles, nas plantas e nos grandes
mamíferos, diz Stork.
Já receberam nomes científicos 850.000 espécies de insetos. Faltaria ainda coletar, nomear e descrever algo entre
4,25 milhões e 17 milhões de
outros destes animais, segundo
Stork. Um número ainda mais
assombroso foi estimado pelo
pesquisador Terry Erwin em
artigo de 1982: só nos trópicos
existiriam em torno de 30 milhões de espécies de insetos.
Já o estudo feito por dezesseis pesquisadores da equipe de
Vojtech Novotny, da Universidade do Sul da Boêmia, República Checa, focalizou a floresta
tropical da Nova Guiné.
Sentido oposto
Foram estudadas aproximadamente 500 espécies de insetos comedores de folhagem (lepidópteros), madeira (besouros) e frutas (moscas).
Os oito pontos de amostragem cobrem uma área de
75.000 km quadrados.
Ao contrário da equipe de
Dyer, Novotny e colegas, que
também publicaram na "Nature", mostraram que havia um
pequeno índice de mudança na
composição das espécies de insetos ao longo da floresta.
Essa mudança ou taxa de
substituição na composição de
espécies de uma região para outra é conhecida pelos biólogos
como "diversidade beta".
O grupo de Novotny estima
que florestas tropicais como a
da Amazônia devem ter "diversidade beta" baixa de insetos,
pois apresentam baixa diversidade de tipos de vegetação.
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