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BIOMEDICINA
Estudo acha grupo de genes mais ativos nessas estruturas versáteis, o que pode ampliar potencial terapêutico
Grupo revela essência das células-tronco
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma equipe de cinco pesquisadores na Universidade Harvard,
EUA, revelou o pano de fundo genético que caracteriza as células-vedetes da ciência atual. Os cientistas descobriram um conjunto
de 216 genes mais ativos em células-tronco de camundongos, sejam elas embrionárias, neuronais,
ou as que dão origem ao sangue.
O que deixa os cientistas excitados com essas células é sua versatilidade. Células-tronco são aquelas que dão origem a todos os outros tipos de célula do corpo, após
um processo chamado diferenciação. Isso faz delas excelentes
candidatas para terapias, pois poderiam servir para consertar defeitos do organismo -como, por
exemplo, uma parte do cérebro
destruída pelo mal de Alzheimer.
O artigo descrevendo a descoberta está publicado na edição de
hoje da revista científica "Science" (www.sciencemag.org).
Para os cientistas, o principal
achado do estudo é que diferentes
tipos de células-tronco -as embrionárias e as adultas, do cérebro
ou do sangue- ativam certos genes em comum, que provavelmente regulariam suas propriedades essenciais -aquelas que
fazem uma célula-tronco ser uma
célula-tronco, ou "célula estaminal", como se diz em Portugal.
"Em cada tipo de célula estaminal que estudamos detectamos
cerca de 2.000 genes sobreativados. Desses, apenas 216 são comuns a todas elas. Portanto, cada
célula estaminal tem sobreativados muitos genes que lhe são específicos", declarou à Folha um
dos autores do estudo, o português Miguel Ramalho-Santos.
Ou seja, é possível que novas e
ainda desconhecidas funções celulares e genéticas estejam para
ser descobertas nessas células.
As semelhanças encontradas
entre células-tronco (ou estaminais) provenientes de embriões e
as adultas do cérebro deixaram os
pesquisadores otimistas quanto à
possibilidade de, no futuro, se desenvolverem terapias para regenerar neurônios em doenças neurológicas degenerativas.
Vaivém científico
O achado é uma mostra de como as descobertas científicas tendem a ser pendulares. Na mesma
revista "Science", ainda no mês
passado, uma outra equipe de
pesquisadores nos Estados Unidos não conseguiu fazer com que
células-tronco tiradas da medula
óssea de camundongos se transformassem em células nervosas,
como fora anunciado quase dois
anos atrás por dois grupos independentes de cientistas.
Essa revelação demonstra que
ainda vai ser necessária muita
pesquisa antes que essa promessa
fantástica, de "fazer cérebro a partir de osso", se torne realidade.
Os dois estudos do ano 2000 indicavam que células da medula
óssea (onde são produzidas as células sanguíneas) de animais
adultos, depois de injetadas em
outros camundongos, migravam
até o cérebro e ali eram capazes de
originar células neuronais, de tecido nervoso -que, geralmente,
são de regeneração difícil.
Os novos experimentos estão
relatados em apenas uma página
de comunicação rápida na revista
e sugerem que nem toda célula-tronco é capaz de se "transdiferenciar" nas células neuronais.
"Eu acredito que a pesquisa
com células-tronco adultas e embrionárias vai se provar proveitosa a longo prazo, e que aquilo que
nós descobrirmos sobre um tipo
de célula vai ser informativo sobre
o outro tipo", disse à Folha o
coordenador da equipe de pesquisa, David Shine.
Ele acha, porém, que novas terapias baseadas em células-tronco
ainda vão precisar de muito mais
pesquisa antes de renderem aplicações clínicas.
Raridade
Comentando o trabalho do grupo de Shine, Ramalho-Santos
afirma que "é possível que a diferenciação de células estaminais da
medula óssea em células nervosas
seja um evento muito raro, ou que
dependa de variáveis como fundo
genético, protocolo experimental
etc. O que é certo é que vários grupos não conseguem reproduzir
esse resultado".
Por outro lado, ele afirma que é
relativamente fácil obter neurônios em larga quantidade a partir
de células-tronco embrionárias.
"O nosso estudo avança com uma
explicação para isso: células estaminais embrionárias e células estaminais neuronais partilham muitos dos mesmos genes entre si, mas não com as células estaminais da medula óssea", afirma o pesquisador português.
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