São Paulo, segunda-feira, 13 de setembro de 2010

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Estudo cria radioterapia personalizada

Método, em fase de testes, prevê como cada paciente deve reagir à radioatividade para adequar o tratamento

Ideia de pesquisadores de Recife pode reduzir os efeitos colaterais e aumentar a eficiência da terapia por radiação

GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO

Uma nova forma de interpretar a presença de proteínas no corpo dos pacientes com câncer pode ser a chave para garantir tratamentos desenvolvidos sob medida para cada um deles.
A aposta é de pesquisadores da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), que estão trabalhando em um método para prever como cada organismo irá se comportar ao ser exposto à terapia com radiação.
Esse tipo de tratamento é importante para destruir as células tumorais, mas acaba atingindo também partes saudáveis do organismo.
Com a ajuda de um exame de sangue, os cientistas da UFPE analisam a expressão (ou seja, a intensidade da produção) de algumas proteínas do corpo humano, como a p53 e a p21, que são responsáveis por regular a resposta das células às agressões da radioterapia.
A partir daí, é possível deduzir a reação do organismo e regular o tratamento. Além de aumentar a efetividade da radioterapia, o diagnóstico reduziria os efeitos colaterais da medicação, dosando a radiação de forma a poupar os doentes mais vulneráveis.
"É impossível dizer com precisão absoluta como cada paciente irá reagir, mas nós temos sido muito bem-sucedidos ao criar padrões de reação", afirma Ademir Amaral, coordenador da pesquisa e presidente da SBBN (Sociedade Brasileira de Biociências Nucleares).
A ideia é otimizar o tratamento com base no caminho molecular que leva à formação do tumor e não apenas identificar o local específico em que ele se manifesta.
Amaral e sua equipe, que desenvolvem o trabalho há dez anos, iniciaram o acompanhamento de cerca de 200 pessoas de cidades da região metropolitana de Recife.
A perspectiva é que o método seja aplicável a todos os tipos de tumor. Mas, por enquanto, o núcleo trabalha somente com casos de câncer no colo do útero, de cabeça e pescoço e no sangue.
Nesta etapa ainda não são feitas alterações no tratamento convencional de tumor. Os cientistas se concentram, com base na análise das proteínas, em documentar as reações previstas para cada organismo.
"Precisamos conseguir um número expressivo de acertos nas previsões antes de passar para a próxima fase, que é sugerir as mudanças no tratamento", diz Amaral.
Segundo ele, a taxa de sucesso nas antecipações tem sido expressiva.

EM CONTA
Uma das principais vantagens do método, segundo seu coordenador, é que não deve ficar caro incorporá-lo aos exames que hoje são de praxe no tratamento.
"O paciente faria só um exame a mais", disse. "A preocupação é ser acessível para toda a população", completa Amaral.
Os pesquisadores ainda não sabem dizer quando o tratamento, que ainda está em fase de testes, poderá chegar ao mercado.


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