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FUTURO
Teoria da relatividade geral prevê possibilidade de volta ao passado
Viagens no tempo
ÁLVARO MONTENEGRO
free-lance para a Folha
A possibilidade de realização de
viagens no tempo, principalmente
de voltar ao passado, é um tema
que causa polêmica entre as duas
principais teorias da física moderna, a da relatividade geral e a da
mecânica quântica.
Pelas leis da relatividade geral,
viagens ao passado seriam viáveis.
Análises com base na mecânica
quântica, porém, tendem a invalidar essa possibilidade.
No Universo descrito pelas
equações da relatividade geral de
Einstein, espaço e tempo não podem ser dissociados e não existem
leis físicas que impeçam o deslocamento de uma partícula em qualquer "direção" do tempo.
Partindo das equações de Einstein, o matemático austríaco Kurt
Gödel (1906-1978) demonstrou,
em 1949, a existência do que chamou de "curvas do tempo fechadas". De acordo com as deduções
de Gödel, a linha que descreve a
passagem do tempo pode eventualmente se curvar até interceptar um de seus pontos do passado,
formando um "círculo".
Teoricamente, uma pessoa que
seguisse por essa linha curva de
tempo, ao chegar nessa "encruzilhada", estaria "encontrando" o
passado.
Isso possibilitaria ao viajante do
tempo um encontro com si mesmo no passado. A situação é muito
explorada pelas histórias de ficção
científica, em que é comum o viajante modificar o passado de forma a alterar o futuro.
O que os entusiastas de ficção esquecem é que a presença do viajante do futuro no passado implica
a manutenção exata da história futura. O fato de ele estar "visitando" o passado é prova de que o
futuro não foi modificado.
Essa constatação inviabiliza bem
mais do que os roteiros de filmes
como "De Volta para o Futuro".
"Se aceitarmos a existência de
linhas do tempo fechadas, vamos
concluir que nossas ações estão
pré-estabelecidas, pois elas precisam conduzir a história a um futuro que, de certa forma, já aconteceu. É o fim do livre-arbítrio", diz
George Matsas, do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Mas, de acordo com Matsas, há
bons indícios de que, na realidade
descrita pela mecânica quântica,
as portas que dão entrada às linhas
de tempo fechadas são praticamente impossíveis de ser transpostas.
Nos anos 80, Kip Thorn, do Instituto de Tecnologia da Califórnia
(EUA), mostrou que a presença de
"matéria com energia negativa"
pode gerar estruturas que agem
como "túneis" no espaço-tempo,
os "wormholes" (buracos de minhoca).
Sob condições especiais, os
wormholes poderiam funcionar
como uma linha do tempo fechada, ou máquina do tempo.
Segundo Matsas, a matéria necessária para gerar os wormholes é
incomum, não pode ser construída a partir dos elementos da tabela
periódica. Uma de suas características é que porções desse tipo de
matéria podem até mesmo se repelir (ao invés de se atrair).
Experimentos em laboratório já
constataram efeitos indiretos que
comprovam a existência de matéria com energia negativa.
Ela se forma no vácuo e seus elementos aparecem e desaparecem
em intervalos curtíssimos de tempo, impossíveis de ser medidos
pelos equipamentos disponíveis.
Ninguém sabe como criar a
quantidade de energia negativa
necessária para iniciar uma linha
de tempo fechada.
Mas o que realmente inviabilizaria a construção das máquinas do
tempo, de acordo com Matsas, seriam os intensos fluxos de energia
que se formariam na periferia de
uma massa de energia negativa.
"Esses fluxos seriam tão catastróficos que qualquer máquina do
tempo seria destruída antes mesmo de ser usada", afirma o físico
teórico da Unesp.
Mas, apesar de apontar empecilhos, a teoria da mecânica quântica não descarta a possibilidade da
existência de linhas de tempo fechadas. Só sugere que seria impossível utilizá-las para uma viagem
de volta ao passado.
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