São Paulo, domingo, 13 de setembro de 1998

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FUTURO
Teoria da relatividade geral prevê possibilidade de volta ao passado
Viagens no tempo

ÁLVARO MONTENEGRO
free-lance para a Folha

A possibilidade de realização de viagens no tempo, principalmente de voltar ao passado, é um tema que causa polêmica entre as duas principais teorias da física moderna, a da relatividade geral e a da mecânica quântica.
Pelas leis da relatividade geral, viagens ao passado seriam viáveis. Análises com base na mecânica quântica, porém, tendem a invalidar essa possibilidade.
No Universo descrito pelas equações da relatividade geral de Einstein, espaço e tempo não podem ser dissociados e não existem leis físicas que impeçam o deslocamento de uma partícula em qualquer "direção" do tempo.
Partindo das equações de Einstein, o matemático austríaco Kurt Gödel (1906-1978) demonstrou, em 1949, a existência do que chamou de "curvas do tempo fechadas". De acordo com as deduções de Gödel, a linha que descreve a passagem do tempo pode eventualmente se curvar até interceptar um de seus pontos do passado, formando um "círculo".
Teoricamente, uma pessoa que seguisse por essa linha curva de tempo, ao chegar nessa "encruzilhada", estaria "encontrando" o passado.
Isso possibilitaria ao viajante do tempo um encontro com si mesmo no passado. A situação é muito explorada pelas histórias de ficção científica, em que é comum o viajante modificar o passado de forma a alterar o futuro.
O que os entusiastas de ficção esquecem é que a presença do viajante do futuro no passado implica a manutenção exata da história futura. O fato de ele estar "visitando" o passado é prova de que o futuro não foi modificado.
Essa constatação inviabiliza bem mais do que os roteiros de filmes como "De Volta para o Futuro".
"Se aceitarmos a existência de linhas do tempo fechadas, vamos concluir que nossas ações estão pré-estabelecidas, pois elas precisam conduzir a história a um futuro que, de certa forma, já aconteceu. É o fim do livre-arbítrio", diz George Matsas, do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Mas, de acordo com Matsas, há bons indícios de que, na realidade descrita pela mecânica quântica, as portas que dão entrada às linhas de tempo fechadas são praticamente impossíveis de ser transpostas.
Nos anos 80, Kip Thorn, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (EUA), mostrou que a presença de "matéria com energia negativa" pode gerar estruturas que agem como "túneis" no espaço-tempo, os "wormholes" (buracos de minhoca).
Sob condições especiais, os wormholes poderiam funcionar como uma linha do tempo fechada, ou máquina do tempo.
Segundo Matsas, a matéria necessária para gerar os wormholes é incomum, não pode ser construída a partir dos elementos da tabela periódica. Uma de suas características é que porções desse tipo de matéria podem até mesmo se repelir (ao invés de se atrair).
Experimentos em laboratório já constataram efeitos indiretos que comprovam a existência de matéria com energia negativa.
Ela se forma no vácuo e seus elementos aparecem e desaparecem em intervalos curtíssimos de tempo, impossíveis de ser medidos pelos equipamentos disponíveis.
Ninguém sabe como criar a quantidade de energia negativa necessária para iniciar uma linha de tempo fechada.
Mas o que realmente inviabilizaria a construção das máquinas do tempo, de acordo com Matsas, seriam os intensos fluxos de energia que se formariam na periferia de uma massa de energia negativa.
"Esses fluxos seriam tão catastróficos que qualquer máquina do tempo seria destruída antes mesmo de ser usada", afirma o físico teórico da Unesp.
Mas, apesar de apontar empecilhos, a teoria da mecânica quântica não descarta a possibilidade da existência de linhas de tempo fechadas. Só sugere que seria impossível utilizá-las para uma viagem de volta ao passado.



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