São Paulo, terça, 13 de outubro de 1998 |
Índice CIÊNCIA Prêmio de Medicina e Fisiologia vai para três cientistas norte-americanos; escolha é criticada por espanhóis Estudos-base do Viagra ganham Nobel
das agências internacionais O Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia deste ano foi conferido ontem a três farmacologistas norte-americanos descobridores do princípio que possibilitou o desenvolvimento da droga contra impotência Viagra. Robert Furchgott, Ferid Murad e Louis Ignarro demonstraram entre 1977 e 1986 como o gás óxido nítrico (NO) transmite sinais pelo corpo e o papel da substância no controle do sistema circulatório. Segundo informe do Instituto Karolinska -o centro sueco de pesquisa médica que participa da seleção do Nobel-, a noção de que um gás produzido por uma célula atravessa suas membranas e regula a atividade de outras células é um princípio totalmente inovador. A descoberta tem aplicações práticas no tratamento de doenças cardiovasculares, de infecções generalizadas, do câncer e até mesmo da impotência, de acordo com o instituto. Furchgott, 82, da Universidade Estadual de Nova York, estabeleceu, em 1980, que os vasos sanguíneos se dilatam (ficam mais largos) sob efeito de uma molécula produzida nos próprios vasos que faz com que suas células musculares relaxem. Murad, 62, da Universidade do Texas, em Houston, já tinha determinado, em 1977, que certas drogas usadas contra a hipertensão arterial agem depois de liberar óxido nítrico. Numa série de experimentos, Ignarro, 57, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, e Furchgott determinaram que a molécula proposta por Furchgott em 1980 era o NO. Seus resultados foram publicados em 1986. "Foi Ignarro quem descobriu o princípio que possibilitou o uso do Viagra como uma droga para impotência", afirmou Sten Orrenius, professor de toxicologia do Instituto Karolinska. Além da impotência, medicamentos à base de NO podem auxiliar no tratamento da aterosclerose (endurecimento das artérias) e da hipertensão por favorecerem o relaxamento dos vasos. O gás está presente na maioria dos seres vivos e é produzido em vários tipos de células. Além de atuar no sistema cardiovascular, o NO também é importante no controle de outras funções biológicas. O prêmio de US$ 955,5 mil será dividido entre os três. ² Críticas à escolha Vários órgãos científicos espanhóis criticaram o fato de não estar entre os premiados o pesquisador hondurenho Salvador Moncada, que estuda o NO na Universidade de Londres, no Reino Unido. Segundo Santiago Peláez, coordenador do Programa Europeu de Medicina, os ganhadores são merecedores, mas as contribuições de Moncada não poderiam ter sido esquecidas. O presidente da Sociedade Espanhola de Cardiologia disse estar "perplexo" pela exclusão de Moncada, pois ele seria responsável "pela principal pista" dos achados. Juan Tamargo, diretor do Instituto de Farmacologia e Toxicologia do Conselho Superior de Investigações Científicas da Espanha, também criticou a premiação. Tamargo afirmou que a decisão foi "injusta", pois foi Moncada quem "evidenciou desde o ponto de vista bioquímico até o mecanismo molecular" a atuação do NO. Índice |
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