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AMBIENTE
Lista da fauna nacional em perigo de extinção é atualizada após 12 anos; o número de espécies quase triplicou
Brasil tem 627 animais sob risco de sumir
LEONARDO WERNER
FREE-LANCE PARA A
AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Uma lista elaborada por 200
pesquisadores mostra que 627 espécies da fauna nacional correm o
risco de extinção. O número é
quase o triplo do registrado na última pesquisa do gênero, realizada em 1989, quando havia 218 espécies nessa situação.
A chamada lista vermelha, encomendada pelo governo para
orientar políticas de conservação
e atualizada agora, com 12 anos de
atraso, menciona ainda dez animais completamente extintos e
dois que só sobrevivem em cativeiro.
Os critérios para definir uma espécie ameaçada são vários. Eles
abrangem desde uma redução absoluta na população -uma perda observada de mais de 70% nos
últimos dez anos ou três gerações,
por exemplo, pode defini-la como
criticamente ameaçada- até
uma redução no habitat da espécie ou no território que ocupa.
Para Ângelo Machado, presidente do conselho curador do
Instituto Biodiversitas, que coordenou a pesquisa, o avanço no conhecimento sobre a fauna selvagem foi o fator que mais pesou no
aumento do número de espécies.
Além disso, a nova lista estudou
grupos que não foram analisados
pelo trabalho de 1989, quando
peixes e invertebrados, incluindo
insetos, não foram considerados.
Somente a inclusão da categoria
peixes resultou em 165 novos registros -quase 80% são espécies
de água doce.
Fatores como uma maior degradação do ambiente, em especial
poluição de rios, extermínio de
habitats, queimadas e pesca ilegal
foram agravantes da situação, segundo os pesquisadores.
Na avaliação de Gustavo Fonseca, cientista-chefe da ONG Conservation International do Brasil,
o crescimento da lista vermelha
não pode ser menosprezado só
porque foram incluídas novas espécies para análise. Para ele, a situação piorou, de fato.
"Vimos o avanço da degradação
na mata atlântica, que já vem sendo explorada há anos, para regiões como o cerrado e a floresta
amazônica", afirmou.
Padrão mundial
Segundo Fonseca, o Brasil ainda
está abaixo de padrões internacionais de extinção. O tolerável é
que até 12% da fauna esteja ameaçada. No país, esse número é de
9%. Para a comparação, são analisados apenas mamíferos e aves.
A lista foi produzida após 11 meses de pesquisa sobre cerca de mil
animais, divididos em oito grupos: aves, répteis, mamíferos, peixes, anfíbios, insetos, invertebrados terrestres e invertebrados
aquáticos. Foram utilizados critérios da IUCN (União Mundial para a Conservação da Natureza),
referência para o tipo de estudo.
O estudo, intitulado "Lista Oficial da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção", foi encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo Ibama (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis) e custou cerca de R$ 500 mil,
divididos entre o governo, a petrolífera Shell e a empreiteira Norberto Odebrecht.
Ele foi apresentado ontem durante um workshop em Belo Horizonte, mas o Ibama só deve publicar a lista no fim do mês, no
"Diário Oficial da União".
Fora da UTI
A lista vermelha deste ano também levantou pontos positivos,
como o fato de alguns animais terem saído de uma posição de risco. Foi o caso da harpia, a maior
águia das Américas, e do jacaré-de-papo-amarelo, predador que
habita a mata atlântica.
Segundo Marcio Martins, professor do departamento de Biologia da USP (Universidade de São
Paulo), o motivo foi a diminuição
da pressão da caça ao animal.
Martins, que coordenou o grupo
de estudo de répteis na pesquisa,
afirmou ainda que políticas de
conservação também reforçaram
a mudança.
Da mesma maneira, o peixe pirarucu, conforme mostrou a pesquisa, não corre mais risco de extinção. Apesar de ser a primeira
vez em que os peixes fazem parte
da lista, pesquisadores e zoólogos
internacionais o consideravam
um animal ameaçado.
O mico-leão-dourado, que era
considerado criticamente ameaçado, agora está em situação de
perigo, mostrando uma pequena
mas importante melhora, afirma
Gláucia Drummond, gerente-executiva da lista.
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