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Plantas do cerrado vieram de todo o Brasil
Bioma, ao contrário de outros, não tem uma origem única; flora partiu tanto da Amazônia quanto dos pampas gaúchos
Tal formação misturada aconteceu porque vegetais se adaptaram facilmente ao fogo, principal característica da região, dizem cientistas
Edu Kessedjian - 27.abr.06/Folha Imagem
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Cerrado no Tocantins; vegetação cria cascas grossas e esconde sua biomassa sob o solo em adaptação às constantes queimadas
RICARDO MIOTO
DA REPORTAGEM LOCAL
A vegetação que ocupou o
cerrado saiu de todos os cantos
do Brasil. Escolha uma espécie
qualquer e ela pode ter origens
tanto na Amazônia quanto no
sertão nordestino ou nos pampas gaúchos -a flora é um mosaico de origens muito diversas.
Justamente por ter se formado pegando um pouco de cada
lugar distante, o cerrado possui
um biodiversidade tão grande.
Os cientistas brasileiros que
descobriram isso, fazendo análises no DNA das plantas (leia
mais à direita), ficaram surpresos, porque, em geral, ecossistemas não se formam assim.
Para ajudar a entender como
eles surgem, Marcelo Simon,
biólogo da Embrapa em Brasília e um dos autores do estudo,
dá um exemplo: a vegetação da
cordilheira dos Andes.
Quando os Andes se elevaram, há milhões de anos, foram
ocupados, em seguida, por uma
vegetação adaptada à nova
temperatura (regiões altas são
mais frias). Ela veio dos climas
temperados da América do
Norte e migrou como um todo.
Ao descobrir que as origens
do cerrado eram variadas, os
cientistas ficaram intrigados.
Por que a mistura ocorreu?
A resposta começa pela ideia
de que, se uma planta "quiser"
viver nos Andes, terá de vencer
o frio. Mas, se tentar se espalhar pelo cerrado, o maior problema será o fogo que aparece
nas épocas quentes -o clima
seco permite que incêndios naturais ocorram sempre.
Mas o fogo, os cientistas descobriram agora, não é uma barreira muito grande, ao contrário do frio. As plantas têm facilidade para criar resistência a
queimaduras. Vencer o frio requer uma adaptação prévia a
ele, em outro bioma. Já o fogo
não é um inimigo tão grande
-uma planta pode se acostumar fácil, venha de onde vier.
Vegetação casca-grossa
O programa de treinamento
das plantas para lidar com o fogo consiste, basicamente, em
dois pontos: é preciso virar casca-grossa e não ter medo de ir
parar debaixo da terra.
Quando o fogo surge, a casca
resistente e grossa até queima,
mas ela não deixa o interior da
planta ser danificado -é como
se a planta tivesse uma pele tão
grossa que pudesse passar pelo
meio de um incêndio.
A outra adaptação é ter raízes
bem grossas. Faz sentido: com
isso, a maior parte da massa da
planta fica por baixo do solo. Aí,
mesmo que passe um apocalipse de fogo pela região onde a
coitada está, ela vai sobreviver.
São características relativamente simples. Então, poucas
gerações após a colonização, as
plantas sobreviventes já estavam adaptadas ao cerrado.
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