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Uso de floresta contra CO2 preocupa ecólogo
Além da retenção de carbono, biodiversidade tem de ser critério na demarcação de reservas, diz Pimm
REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma análise assinada por alguns dos principais biólogos da
conservação do mundo chama
a atenção para o possível lado
negro dos projetos de Redd
(Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), conceito que pode ser
incluído num futuro acordo climático global. Segundo os cientistas, se não forem pensados
com cuidado, os planos de Redd
podem fazer mais mal do que
bem para a biodiversidade.
O britânico Stuart Pimm,
professor da Universidade Duke (EUA) e um dos autores do
estudo na revista "Current Biology", diz logo de cara que se
trata de uma crítica construtiva. "O artigo, na verdade, é bastante esperançoso em relação
ao Redd. Só quisemos dizer que
os países precisam prestar
atenção na biodiversidade ao
traçar seus planos nessa área",
declarou Pimm à Folha.
A princípio, o conceito de
Redd parece a maneira ideal de
unir proteção ambiental e luta
contra a mudança climática.
Reflorestar, é claro, equivale a
retirar gases-estufa da atmosfera, já que as árvores em crescimento absorvem CO2, o principal desses gases.
Evitar o desmatamento, por
sua vez, teria papel importante
no esforço contra o aquecimento global, já que 18% das
emissões mundiais de carbono
estão ligadas à destruição das
matas tropicais. Os atuais debates sobre Redd incluem a
possibilidade de os países com
grandes áreas de floresta nativa
receberem doações dos países
industrializados, ou mesmo comercializarem créditos de carbono caso consigam demonstrar redução do desmate.
Hotspots
O problema é que, dentro dos
esquemas de Redd, pode ser
mais fácil proteger certas áreas
do desmatamento do que outras. A grande preocupação, diz
o estudo na "Current Biology",
é com as áreas denominadas de
"hotspots" -ecossistemas que
já perderam a maior parte de
sua área e, mesmo assim, abrigam uma enorme proporção de
espécies endêmicas, ou seja,
que só existem neles e em nenhum outro lugar.
O próprio Brasil possui dois
hotspots, o Cerrado e a mata
atlântica. Evitar o desmatamento nessas áreas, que já são
densamente povoadas e totalmente incorporadas à agropecuária nacional, seria muito
mais difícil e caro do que aumentar a proteção de áreas na
Amazônia, por exemplo.
Outro problema potencialmente sério seria o chamado
"vazamento". Nesse caso, evitar o desmate em certas áreas
poderia simplesmente levar à
"exportação" da devastação para outros locais. Foi o que aconteceu com a criação de grandes
reservas na Amazônia peruana:
a derrubada acabou sendo simplesmente transferida para
ecossistemas vizinhos, contam
os pesquisadores.
Apesar dos riscos, Pimm considera que o Brasil tem potencial para obter esquemas de
Redd que compatibilizem redução de emissões e proteção
da biodiversidade. Ele elogia, o
fato de que a diminuição do
desmatamento no Cerrado tenha sido incluída na proposta
brasileira de redução de emissões. "O ministro [do Meio Ambiente, Carlos] Minc tem mostrado essa preocupação."
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