São Paulo, sábado, 14 de fevereiro de 2004

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PROMESSA NA MEDICINA

Conselheiro de bioética do papa condena a pesquisa coreana com células-tronco embrionárias

Vaticano compara clonagem ao nazismo

DA REDAÇÃO

O Vaticano condenou ontem a clonagem de embriões na Coréia do Sul para obter células-tronco com finalidade terapêutica, feito publicado na revista "Science". Monsenhor Elio Sgrecia, conselheiro de bioética do papa João Paulo 2º, afirmou: "Isso seria uma repetição do que os nazistas fizeram nos campos de concentração" (na Segunda Guerra).
"Você não pode destruir vida humana na esperança de encontrar remédios para salvar outras vidas", afirmou Sgrecia, da Pontifícia Academia pela Vida. "Isso não é uma vitória, mas é pisar na vida humana duas vezes."
Sgrecia se referia ao experimento da Universidade Nacional de Seul, na Coréia do Sul, que conseguiu produzir pela primeira vez uma linhagem de células-tronco a partir de embriões humanos clonados. Com ajuda dessas células, que têm a capacidade de se transformar em qualquer tecido do corpo humano, os cientistas esperam desenvolver novos tratamentos para doenças como diabetes e Alzheimer -o que ainda deve demorar pelo menos uma década.
A Igreja Católica condena toda pesquisa com embriões que leve à sua destruição, como a obtenção das células-tronco embrionárias (retiradas de blastocistos, embriões com 100 a 150 células).
Sob pressão de deputados evangélicos e católicos, a Câmara dos Deputados do Brasil aprovou, no último dia 5, uma lei de biossegurança que proíbe pesquisa com embriões e ainda vai ser examinada no Senado. Se estivesse em vigor, um estudo como o sul-coreano seria ilegal.
Sgrecia defende que as pesquisas usem células-tronco retiradas do cordão umbilical ou de adultos, pois isso não implicaria destruição de vida (mas os cientistas acreditam que o potencial terapêutico das células-tronco adultas é menor). "Alguns cientistas estão enchendo as pessoas de falsas esperanças, e ao mesmo tempo cometem crimes, porque criar um embrião para suprimi-lo é um jogo tecnológico e desumano."
A pesquisa foi também condenada por Leon Kass, que preside o conselho de bioética da Presidência dos EUA. "A era da clonagem humana parece ter chegado: agora são clonados blastocistos para uma pesquisa, e logo serão clonados blastocistos para criar bebês".


Com agências internacionais


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