São Paulo, quinta-feira, 14 de junho de 2001

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HISTÓRIA

Maior instituição de pesquisa do país, a Max Planck, se desculpa pelos experimentos nos campos de concentração

Ciência alemã pede perdão por nazismo

ROBERT KOENIG
DA "SCIENCE NOW"

Durante meio século, sobreviventes de experimentos nazistas nos campos de concentração esperaram das sociedades científicas alemãs um pedido formal de desculpas -assim como maiores detalhes sobre as pesquisas que levaram aos abusos sofridos.
No dia 7 deste mês, algumas dessas vítimas finalmente receberam as desculpas explícitas do chefe da principal organização de pesquisa do país, a Sociedade Max Planck, que substituiu a Sociedade Kaiser Wilhelm (KWG), responsável por estudos abomináveis durante a Segunda Guerra.
A desculpa histórica aconteceu durante um simpósio sobre experimentação humana patrocinado pela comissão presidencial Max Planck, que investiga as atividades da KWG durante o Terceiro Reich, no período de 1933 a 1945.
Na cerimônia de abertura, o presidente da Max Planck, Hubert Markl, expressou aos sobreviventes de experimentos nos campos "profundo lamento, compaixão e vergonha por tais crimes terem sido promovidos, cometidos e não prevenidos por cientistas alemães".
Markl afirmou que "existem evidências científicas que mostram, sem sombra de dúvida, que diretores e funcionários dos institutos Kaiser Wilhelm organizaram e mesmo participaram ativamente dos crimes do regime nazista. A Sociedade Max Planck, como herdeira da Sociedade Kaiser Wilhelm, precisa enfrentar esses fatos históricos e assumir sua responsabilidade moral".
A desculpa de Markl foi seguida de emocionados discursos de duas vítimas dos experimentos com gêmeos feitos pelo médico Joseph Mengele no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. De um total estimado em 1.500 gêmeos usados por Mengele nos seus experimentos, menos de 200 indivíduos sobreviveram à guerra e somente 80 estão vivos hoje. Mengele costumava injetar em um dos gêmeos uma substância tóxica ou um patógeno e usava o outro como controle.
"Éramos usados como cobaias humanas", disse Eva Mozes Kor, de Indiana (EUA), que sobreviveu aos abusos de Mengele, juntamente com sua irmã, Miriam.
Embora Mengele não trabalhasse na KWG, ele colaborou em muitos projetos com cientistas da instituição. A comissão continuará investigando qualquer evidência que possa surgir. Embora muitos documentos sobre crimes nazistas estejam irremediavelmente perdidos, alguns dos sobreviventes dizem que o ato de prestação de contas acalma suas mentes e, talvez, previna futuras atrocidades. "Seres humanos fizeram Auschwitz", diz a sobrevivente Jona Laks. "Não existe garantia de que não se repetirá."



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