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Neurociência revela sentidos de tenista
Estudo mostra que atletas têm percepção de espaço e movimento mais precisa que a de outras pessoas
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Um grupo de neurocientistas
da Suíça mostrou que jogar tênis intensivamente faz bem ao
cérebro. Os pesquisadores do
país de Roger Federer, tenista
número um do mundo, concluíram que as capacidades inatas que o ser humano tem de
detectar o movimento e de perceber a velocidade são mais
pronunciadas nesses atletas.
"Tanto a busca visual quanto
as funções motoras da visão são
aprimoradas pelo treinamento
do tênis. Esse processo acaba
ajudando também na melhora
do desempenho do jogador",
disse à Folha a cientista Leila
Overney, da Escola Politécnica
Federal de Lausanne.
O estudo do grupo liderado
por Overney, o primeiro a medir o impacto do tênis na cognição humana, está publicado na
edição desta semana da revista
científica "PLoS One".
Para obter seus resultados, o
grupo suíço reuniu 18 jogadores de tênis de alto nível, 18
triatletas e 19 sedentários. Os
três grupos foram submetidos
a sete tipos de testes neurológicos, feitos no computador.
Em um deles, por exemplo,
os participantes precisavam
identificar a presença ou não
de uma bola de tênis na imagem que aparecia no monitor.
E ela poderia surgir tanto na
fotografia de uma das quadras
de Roland Garros quanto na de
uma paisagem qualquer.
Nesse tipo de teste, os tenistas tiveram mais de 70% de
acerto nas fotos com o ambiente de Roland Garros. Uma vantagem de mais de 10% sobre os
demais grupos. Nas fotos fora
do universo do jogador, a porcentagem de acerto para os três
grupos ficou entre 60% e 65%.
"O experimento, que é bem
interessante, segue uma linha
já avaliada em outros estudos,
feitos com jogadores de basquete e de vôlei", diz Luiz Eugenio Mello, neurocientista da
Unifesp (Universidade Federal
de São Paulo). Segundo o brasileiro, os resultados obtidos no
laboratório de neurociência
cognitiva suíço indicam realmente um efeito de aprendizagem no cérebro.
"À medida em que joga tênis
de forma profissional ou intensa, a pessoa desenvolve habilidades associadas ao tipo específico de esporte praticado", diz
Mello. O estudo indica que
nem todas as habilidades são
desenvolvidas pela prática do
tênis, apenas aquelas que são
realmente relevantes para os
movimentos da raquete.
"O uso dos triatletas é importante [para comparação], porque é um grupo que pratica esportes. Mas o controle quanto
ao tênis em si, esporte de bola
pequena e rápida, poderia ter
sido feito com um esporte análogo, como o badminton".
Receita campeã?
Do ponto de vista da neurociência, entretanto, ainda não
está pronta a receita para criar
novos campeões. "Ainda precisamos responder à questão
mais interessante do ponto de
vista científico", diz Overney.
"São os jogadores de tênis de alto nível que desenvolvem mais
as suas habilidades visuais básicas? Ou por terem essa capacidade cerebral desenvolvida é
que eles se tornam jogadores de
alto nível?"
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