São Paulo, sábado, 14 de junho de 2008

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Neurociência revela sentidos de tenista

Estudo mostra que atletas têm percepção de espaço e movimento mais precisa que a de outras pessoas

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo de neurocientistas da Suíça mostrou que jogar tênis intensivamente faz bem ao cérebro. Os pesquisadores do país de Roger Federer, tenista número um do mundo, concluíram que as capacidades inatas que o ser humano tem de detectar o movimento e de perceber a velocidade são mais pronunciadas nesses atletas.
"Tanto a busca visual quanto as funções motoras da visão são aprimoradas pelo treinamento do tênis. Esse processo acaba ajudando também na melhora do desempenho do jogador", disse à Folha a cientista Leila Overney, da Escola Politécnica Federal de Lausanne.
O estudo do grupo liderado por Overney, o primeiro a medir o impacto do tênis na cognição humana, está publicado na edição desta semana da revista científica "PLoS One".
Para obter seus resultados, o grupo suíço reuniu 18 jogadores de tênis de alto nível, 18 triatletas e 19 sedentários. Os três grupos foram submetidos a sete tipos de testes neurológicos, feitos no computador.
Em um deles, por exemplo, os participantes precisavam identificar a presença ou não de uma bola de tênis na imagem que aparecia no monitor. E ela poderia surgir tanto na fotografia de uma das quadras de Roland Garros quanto na de uma paisagem qualquer.
Nesse tipo de teste, os tenistas tiveram mais de 70% de acerto nas fotos com o ambiente de Roland Garros. Uma vantagem de mais de 10% sobre os demais grupos. Nas fotos fora do universo do jogador, a porcentagem de acerto para os três grupos ficou entre 60% e 65%.
"O experimento, que é bem interessante, segue uma linha já avaliada em outros estudos, feitos com jogadores de basquete e de vôlei", diz Luiz Eugenio Mello, neurocientista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Segundo o brasileiro, os resultados obtidos no laboratório de neurociência cognitiva suíço indicam realmente um efeito de aprendizagem no cérebro.
"À medida em que joga tênis de forma profissional ou intensa, a pessoa desenvolve habilidades associadas ao tipo específico de esporte praticado", diz Mello. O estudo indica que nem todas as habilidades são desenvolvidas pela prática do tênis, apenas aquelas que são realmente relevantes para os movimentos da raquete.
"O uso dos triatletas é importante [para comparação], porque é um grupo que pratica esportes. Mas o controle quanto ao tênis em si, esporte de bola pequena e rápida, poderia ter sido feito com um esporte análogo, como o badminton".

Receita campeã?
Do ponto de vista da neurociência, entretanto, ainda não está pronta a receita para criar novos campeões. "Ainda precisamos responder à questão mais interessante do ponto de vista científico", diz Overney. "São os jogadores de tênis de alto nível que desenvolvem mais as suas habilidades visuais básicas? Ou por terem essa capacidade cerebral desenvolvida é que eles se tornam jogadores de alto nível?"


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