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CLIMA
Região norte do oceano teve a salinidade aumentada pela falta de chuvas, diminuindo fixação de gás do efeito estufa
Pacífico perde capacidade de absorver CO2
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Um dos mais importantes mecanismos do planeta para absorver CO2, o principal gás responsável pelo aquecimento global, pode
estar com defeito. Oceanógrafos
americanos verificaram que o Pacífico está diminuindo sua capacidade de retirar o gás da atmosfera
-mais uma má notícia para o já
combalido clima da Terra.
"Nosso estudo não diz nada sobre aquecimento -de fato, não
houve mudança significativa na
temperatura da superfície do
oceano nos 13 anos de dados que
nós analisamos", afirma o oceanógrafo John Dore, 37, da Universidade do Havaí.
Entretanto, mesmo sem reviravoltas perceptíveis na temperatura, Dore e seus colegas Roger Lukas, Daniel Sadler e David Karl
perceberam que uma seca persistente no Pacífico Norte aumentou
a concentração de sal do oceano e,
consequentemente, sua capacidade de retirar o indesejável dióxido
de carbono da atmosfera.
"O oceano funciona como um
sorvedouro de carbono sempre
que a pressão do CO2 nas águas
superficiais é menor que a pressão do CO2 no ar acima delas", explica Dore. Na prática, isso significa que o gás tende a passar dos lugares onde sua concentração é
maior para as áreas onde ele existe em menor concentração.
Quando uma área do oceano está borbulhando de fitoplâncton
(microrganismos marinhos que
fazem o papel das plantas, transformando gás carbônico e luz em
biomassa), por exemplo, a tendência é que o CO2 na água diminua e o que existe na atmosfera
passe para o mar.
Por outro lado, quando as águas
mais frias e cheias de material orgânico do fundo do oceano são
aquecidas e chegam à superfície,
cresce a concentração do gás, e ele
volta para a atmosfera. "A região
central do Pacífico Norte, onde
nós conduzimos o nosso estudo, é
um sumidouro de carbono, embora não muito forte. Mesmo assim, ela é importante por causa de
sua grande área", afirma Dore,
cujo estudo está na revista "Nature" (www.nature.com)
Situação salgada
Há, contudo, outro fator envolvido: o grau de salinidade do mar.
A seca que os pesquisadores havaianos observaram em 13 anos
de dados da estação meteorológica Aloha, cujo pico se deu entre
1996 e 2000, causou uma evaporação exagerada da água oceânica.
Ou seja: comparativamente, havia
menos água e mais sal ou outras
substâncias dissolvidas nela -incluindo o CO2, que passou a escapar para a atmosfera em vez de
afundar no oceano.
O difícil é saber quão abrangente é o fenômeno. Dore diz que a
seca observada pelo grupo havaiano cobriu boa parte das latitudes médias do Pacífico Norte e
pode estar ligada a uma seca ainda maior que atingiu a América
do Norte e a Europa, mas a conexão entre os dois eventos ainda
precisa ser confirmada.
Seja como for, o oceanógrafo
afirma que é preciso começar a
prestar atenção no fenômeno:
"Até onde nós sabemos, ninguém
tinha reconhecido que esse mecanismo poderia ser importante no
ciclo do carbono. A química por
trás dele está bem estabelecida,
mas, sem de dados de longo prazo, nenhuma evidência dos efeitos das mudanças de salinidade
teria aparecido".
Se o fenômeno for persistente (e
Dore diz que apenas vários anos
de muita chuva poderiam revertê-lo), regiões marinhas que hoje engolem dióxido de carbono podem
se transformar em fontes dele.
Mais CO2 na atmosfera significa
mais retenção de energia solar na
Terra -e, portanto, um aquecimento global mais acentuado.
Dore, contudo, pede cautela."É
só observando pacientemente
áreas específicas do oceano por
longos períodos que poderemos
entender essa variabilidade."
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