São Paulo, sábado, 14 de agosto de 2010

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Acelerador nacional será mais potente

Projeto que custará US$ 200 milhões já tem protótipos, mas ainda não há cronograma oficial para construção

Nova máquina que está sendo projetada por cientistas em Campinas permitirá aplicações em diversos campos


Rodrigo Capoeta/Folhapress
Anel de luz síncroton atual atende à metade da demanda de pesquisas de país e já é considerado obsoleto por cientistas

SABINE RIGHETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Pesquisadores brasileiros já estão trabalhando em protótipos para o segundo acelerador de partículas do país (e da América Latina). Se construída, a nova máquina será compatível com as mais avançadas do mundo.
Batizado de Sirius, o projeto do LNLS (Laboratório Nacional de Luz Síncrotron), de Campinas, no interior de São Paulo, ainda não tem um sinal verde do MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia). Mas os primeiros aportes de recursos, R$ 9 milhões, já foram liberados. O projeto total custaria US$ 200 milhões.

MAIS LUZ
Diferentemente do acelerador do Cern (Organização Europeia para Pesquisa Nuclear), os aceleradores brasileiros - o que já existe e o que deve ser construído- funcionam como fonte da chamada luz síncrotron, que corresponde a uma ampla gama do espectro luminoso, com grande intensidade.
Essa radiação, gerada pela aceleração de elétrons que correm em órbita fechada num anel, é emitida em feixes de luz finos (18 feixes no anel atual, 38 no Sirius).
Tais feixes podem gerar imagens em alta resolução, por exemplo, de materiais deteriorados ou de uma única molécula.
O anel de luz síncrotron atual foi inaugurado em 1998 e, hoje, é considerado obsoleto."Ninguém no Brasil tinha conhecimento de luz síncrotron na época. Sabíamos que teríamos de fazer um novo anel em alguns anos", conta o diretor do LNLS, Antonio José Roque da Silva.
A demanda pelo anel atual, mesmo "ultrapassado", está maior do que sua capacidade. São 1.600 experimentos realizados por ano, o que cobre metade dos pedidos que chegam ao LNLS.
O novo anel, que terá o dobro de energia de operação do atual e medirá 146 m (cinco vezes mais que o de hoje), poderá realizar quatro vezes mais pesquisas, estima o coordenador do projeto, Ricardo Rodrigues.
"É importante ampliar a possibilidade de realização de estudos ainda não viáveis no país, em áreas como paleontologia, materiais e microbiologia", analisa Silva, diretor do LNLS.

RAIO-X DE DINO
O espectro (grosso modo, a "cor", embora também valha para luz não visível) e o brilho da fonte de luz do anel projetado permitirá penetrar superfícies de alguns centímetros de espessura.
Na paleontologia, por exemplo, a luz síncrotron com a capacidade do Sirius levaria à geração de imagens em 3D do interior de um ovo fossilizado de dinossauro.
"No Brasil, os pesquisadores teriam de quebrar o fóssil para analisar seu interior", explica o físico francês Yves Petroff. Ele veio ao Brasil no final do ano passado para trabalhar no projeto do novo anel de luz síncrotron.
Embora o projeto não esteja formalmente aprovado pelo governo, boa parte dos pesquisadores do LNLS já trabalha nas inovações tecnológicas para o novo anel.
Os estudos envolvem até engenharia civil -no caso, para a construção do prédio que abrigará o acelerador em Campinas. "Estamos fazendo testes para analisar a vibração do piso com base em micrômetros [milionésimos de metro]. Vamos desenvolver o piso mais estável do país", diz o diretor do LNLS.
Se as obras começassem hoje, o anel ficaria pronto em 2016. Para esse ano, já estão previstos mais R$ 30 milhões do MCT para desenvolvimento dos protótipos.


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