São Paulo, Sábado, 14 de Agosto de 1999
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Estudo liga relógio biológico à ação da cocaína no organismo

RICARDO BONALUME NETO
especial para a Folha

O mesmo material genético das moscas de fruta que regula o seu relógio biológico também está envolvido na sensibilização do organismo ao consumo de cocaína.
O fenômeno foi descoberto em moscas drosófilas, mas uma forma dele pode existir nos seres humanos, e estar vinculada ao risco de se viciar em drogas.
Os chamados relógios biológicos são os mecanismos que controlam os ritmos e ciclos das várias funções nos seres vivos, como dormir e estar acordado.
O estudo, publicado na edição da "Science" de ontem, mostra que as moscas que tiveram retirados vários de seus genes que têm papel chave no relógio biológico também perderam a capacidade de se sensibilizar com a cocaína.
Expostas à cocaína, as drosófilas têm reações parecidas com a de animais vertebrados como o homem. Voam de maneira irregular e estendem a probóscide ("tromba", o aparelho bucal dos insetos).
"A cocaína ocorre naturalmente na folha de coca. Alguns postularam que sua função inicial nessas plantas era a de um agente antiinseto", disse à Folha Jay Hirsh, da Universidade de Virgínia (EUA), principal autor do estudo,.
O "consumo" regular da droga pelos insetos -e por seres humanos- afeta sistemas de transmissão de impulsos do sistema nervoso. "É isso que a faz tão perigosa", diz Hirsh.
A descoberta de agora segue uma linha de pesquisa com um começo curioso. Hirsh e seus colegas usavam drosófilas sem cabeça como um meio de poder injetar drogas diretamente na medula dos insetos.
"Estávamos tentando usar essas moscas decapitadas para genética seletiva quando um colega sugeriu que tentássemos dar cocaína a moscas intactas como um aerossol", diz o pesquisador.


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