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PALEONTOLOGIA
Esqueleto de carnívoro descoberto na China tem postura preservada e reforça ligação entre os dois grupos
Dinos dormiam como aves, revela fóssil
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Um filhote de dinossauro que
morreu dormindo há 130 milhões
de anos na China é a mais nova
evidência de que os pássaros de
hoje são os herdeiros daqueles
répteis. Seu esqueleto preserva
um flagrante inédito da posição
do animal durante sua última soneca. E mostra que os dinos dormiam exatamente como as aves.
A postura é conhecida de qualquer pessoa que já tenha visto um
pato cochilando à beira de um lago: pescoço curvado para trás e
cabeça escondida sob uma das
asas. Foi assim que a morte apanhou o pequeno dinossauro, que
recebeu dos pesquisadores que o
descobriram o apropriado nome
de Mei long -dragão em sono
profundo, em chinês.
O Mei long é um exemplo único
daquilo que os paleontólogos
chamam de comportamento fossilizado. Sendo apenas impressões numa rocha de um organismo que morreu há muito tempo,
os fósseis geralmente não dizem
muita coisa sobre o cotidiano desse organismo. E tais detalhes podem ser essenciais para definir relações de parentesco.
No caso do novo dinossauro
chinês, de apenas 53 cm de comprimento, o comportamento foi
congelado no tempo provavelmente devido a uma tragédia:
uma erupção vulcânica que arrasou uma parte da atual Província
de Liaoning, nordeste chinês, e
soterrou sua fauna e flora em cinzas quentes, como aconteceu na
cidade italiana de Pompéia.
"Nós não sabemos exatamente
como ele morreu. Pode ter sido
asfixiado por gases do vulcão. Só
sabemos que ele foi soterrado rapidamente", disse à Folha o paleontólogo Xing Xu, 35, da Academia Chinesa de Ciências, que descreve o Mei long na edição de hoje
do periódico científico britânico
"Nature" (www.nature.com).
Os fósseis espetacularmente
preservados de Liaoning já renderam a Xu e seus colegas descobertas que estão ajudando a resolver
os dois grandes debates da paleontologia: a relação evolutiva
entre dinossauros e aves e o "sangue quente" versus "sangue frio".
O grupo de Xu encontrou várias
espécies de terópodes (dinossauros bípedes predadores) com penas. Como a maior parte deles
não voava, a aposta é que as penas
tenham surgido no ancestral comum entre as aves e esses dinos
carnívoros para alguma outra
função, como a de "radiador";
elas ajudariam a manter constante a temperatura corporal.
Para alguns paleontólogos, isso
é um sinal de que pelo menos os
terópodes tinham um metabolismo semelhante ao das aves e regulavam sozinhos a temperatura
do corpo -tinham "sangue
quente", diferentemente dos outros répteis, de "sangue frio".
"Galinhassaurus rex"
Na semana passada, o próprio
Xu publicou um desses achados
fenomenais na mesma "Nature":
o Dilong paradoxus, ancestral do
Tyrannosaurus rex, que tinha o
corpo coberto de penas.
O próprio Mei long, além da
postura reveladora, tem características físicas que o aproximam
das aves, como o crânio. "Se não
fosse a presença de dentes, seria
um crânio aviano", diz Reinaldo
José Bertini, paleontólogo da
Unesp de Rio Claro.
Segundo Xu, As evidências de
que o Mei long estivesse dormindo na hora da morte vêm tanto da
composição das rochas em que
ele foi achado como da simetria
dos ossos. "Se você compara com
qualquer outro esqueleto de dinossauro, a postura é diferente",
afirmou. "O fóssil mostra que ele
teve uma morte tranqüila."
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