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Cientistas criam técnica barata para tirar CO2 do ar
Material especial converte gás de efeito estufa em substância com uso industrial
Química ainda não entende como mecanismo funciona; criar dispositivo para uso em grande escala ainda é um desafio, diz pesquisadora
Arnd Wiegmann/Reuters
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Fumaça sai de usina termelétrica em Colônia (Alemanha)
RICARDO MIOTO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um novo dispositivo apresentado ontem por cientistas
pode um dia se tornar uma máquina para salvar o planeta do
aquecimento global: ele tira o
CO2 do ar e o transforma em
compostos de carbono que podem ser vendidos como matéria-prima à indústria. Os pesquisadores holandeses autores
da invenção, porém, afirmam
que ainda não é possível aplicá-la em grande escala.
O que os cientistas fizeram
foi criar uma estrutura que ajuda o CO2 do ar a se transformar
em uma substância chamada
oxalato de lítio (veja quadro à
dir.). O mecanismo usa um
composto do tipo que os cientistas chamam de catalisador,
que serve para estimular e acelerar reações químicas.
Conseguir que uma placa feita de um material complexo à
base de cobre fizesse isso não
foi fácil. Estruturas com cobre
expostas ao ar geralmente reagem com o oxigênio (O2), não
com o gás carbônico (CO2). Isso
ocorre porque o oxigênio tem
muito mais facilidade para participar de reações químicas. Ele
é mais instável, se agrupa facilmente com outras moléculas. A
estrutura criada pelos holandeses, entretanto, quebra a expectativa e reage com o CO2.
Nem os cientistas entenderam direito como conseguiram
a façanha. "Por que isso aconteceu, nós não entendemos",
disse à Folha Elisabeth Bouwman, da Universidade Leiden,
na Holanda, que publicou, com
sua equipe, a descoberta na revista "Science". Eles são especialistas em estruturas sintéticas úteis como catalisadoras
em reações com carbono.
Eles ficaram especialmente
animados por três motivos.
Um deles é que a substância final em que o CO2 se transforma, o oxalato de lítio, é bastante estável. Isso significa que o
carbono está bastante preso
dentro dela -não vai voltar para a atmosfera tão cedo.
O segundo é que o oxalato de
lítio pode servir como insumo
na fabricação de produtos de
limpeza doméstica ou de substâncias úteis para uso em componentes de refrigeradores.
O último é que o catalisador
que criaram é "reciclável". Ou
seja, ele pode ser utilizado de
novo após oxalato de lítio ser
removido dele. Isso torna o
mecanismo mais viável.
O processo, porém, ainda está longe de sair dos laboratórios e ganhar escala. Dificilmente se tornaria viável rápido
o suficiente para conter o aquecimento global nas próximas
décadas. Segundo Bouwman,
seu estudo "é só o começo".
Ainda assim, é um grande
passo. Todos os mecanismos
propostos até hoje para tirar
CO2 da atmosfera e transformá-lo em outra substância gastavam uma quantidade proibitiva de energia. O mecanismo
holandês, entretanto, é mais
simples e, assim, tem um consumo elétrico pequeno.
Algumas substâncias usadas
no processo, porém, ainda encareceriam um ganho em escala. Uma delas é o lítio. Por isso,
diz Bouwman, o próximo passo
é fazer pequenas modificações
nas estruturas usadas. O trabalho vai adiante em um constante processo de tentativa e erro.
"Fazemos as modificações e
observamos o que acontece: se
o complexo fica mais reativo, se
a reação vai mais rápido."
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