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Evolução eliminou relógio biológico de renas no Ártico
Estudo mostra que animais em alta latitude não liberam hormônio do sono em ciclo de 24 horas
RICARDO MIOTO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os animais do Ártico ficam
sem saber o que é escuridão por
vários meses durante o verão e,
depois, sem ver a luz por outros
tantos durante o inverno. Essa
condição, segundo um novo estudo, eliminou nas renas o ciclo
biológico de 24 horas -o chamado ritmo circadiano-, que
diz ao organismo quando ficar
ativo e quando descansar. Biólogos que fizeram a descoberta
acreditam que as conclusões
também possam ser válidas para outros mamíferos do local.
Na maioria dos animais, inclusive nos humanos, o ciclo
circadiano controla diariamente parte da oscilação no nível do
hormônio melatonina, ligado
ao sono, mesmo que não haja
luz. Por causa desse hormônio,
se um humano for morar no Ártico, continuará sentindo sono
diariamente, ainda que com dificuldade de regular o horário.
Mas agora os cientistas perceberam que a liberação de melatonina no organismo das renas tem pouco ou nada a ver
com um ciclo de 24 horas. Ela
está relacionada quase que exclusivamente com a presença
ou ausência de luz.
Isso é uma vantagem para os
animais, segundo os cientistas,
pois seria um desperdício se
eles estivessem em "modo noturno" durante o verão ensolarado, com o metabolismo desacelerado justamente quando as
condições para procurar comida são excelentes.
Por isso, nesse período, os
animais dedicam quase 24 horas por dia para encontrar alimento. Em consequência, não
dormem por longas horas diariamente, como os humanos.
Para descansar, tiram cochilos
em série, distribuídos pelo dia.
Nos períodos de escuridão,
os animais não chegam a hibernar, mas baixam consideravelmente os seus gastos metabólicos. Ou seja, ficam bem menos
ativos, como que economizando energia por vários meses.
"A vida desses animais seria
muito difícil no Ártico se eles tivessem um relógio interno diário forte", diz Andrew Loudon,
zoólogo da Universidade de
Manchester e um dos autores
do estudo, que foi publicado na
revista "Current Biology".
Segundo os pesquisadores,
os povos humanos do Ártico só
não desenvolveram a mesma
característica porque chegaram à região relativamente cedo, em comparação com as renas. A evolução pode levar centenas de milhares de anos para
moldar uma adaptação assim.
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