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MEDICINA
Estudo indica que vírus altera as proteínas da superfície para se esconder do sistema de defesa do corpo
Mutação agrava virulência de hepatite C
da Reportagem Local
A "esperteza" do vírus da hepatite C (HCV), que altera sua aparência após uma pessoa ser infectada por ele, pode explicar por
que alguns casos resultam em
quadros crônicos, levando a problemas mais graves como cirrose
hepática e câncer de fígado.
Cientistas do Instituto Nacional
de Alergia e Doenças Infecciosas
(Niaid, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, selecionaram 12
pacientes que foram infectados
pelo vírus, mas tiveram destinos
diferentes. Enquanto alguns manifestaram uma infecção aguda,
outros tiveram hepatite fulminante ou crônica.
A intenção da pesquisa era descobrir modificações no HCV que
indicassem por que as pessoas tinham resultados diferentes para
uma infecção causada pelo mesmo agente.
"Essa pesquisa pode explicar
como o vírus consegue se manter
no corpo, além de dar informações que permitirão aos cientistas
preverem o desenvolvimento crônico da infecção", disse Anthony
Fauci, diretor do Niaid.
Segundo o estudo, publicado
ontem na revista "Science", em
15% dos casos os portadores do
HCV são curados. A infecção se
torna crônica em 85% dos casos.
Etapas iniciais
A tese da pesquisadora Patrizia
Farci, coordenadora do estudo,
era a de que o HCV se modificava
durante a infecção. "Alguma coisa ocorre nas etapas iniciais da infecção que pode antecipar o destino dos pacientes", afirmou Farci,
que também trabalha na Universidade de Cagliari, na Itália.
Mudanças foram observadas
nas proteínas da superfície do vírus. Uma vez que a superfície se
modifica, o sistema de defesa do
corpo não consegue mais identificar o vírus. Isso permite que o
HCV "disfarçado" se esconda do
sistema de defesa e que a infecção
se torne crônica e mais grave.
Comportamento similar já foi
observado em outros vírus, como
o HIV (Aids) e o influenza (gripe).
Esse é o primeiro estudo a relacionar esse processo com o HCV.
Nos pacientes em que o vírus
não se modificava após um primeiro contato com o sistema de
defesa, o HCV era completamente eliminado após algumas semanas. Ou seja, sem a modificação
das proteínas da superfície do vírus, o sistema de defesa pode produzir anticorpos que o identificam e destroem.
Na maior parte dos casos, variações genéticas no HCV apareceram somente após o contato inicial com os anticorpos. Esses pacientes desenvolveram infecções
crônicas. As modificações ocorreram de 10 a 12 semanas após a
contaminação.
O contato do HCV com os anticorpos estimula a mudança nas
proteínas da superfície do vírus,
permitindo que se esconda do
sistema de defesa. Paradoxalmente, a defesa inicial do corpo
impede a defesa posterior.
"Nós sabíamos que o corpo respondia à infecção logo no começo do processo de instalação da
doença, mas em muitos pacientes
o HCV é mais inteligente do que o
sistema de defesa", disse Farci. "O
HCV muda as proteínas da superfície assim que o anticorpos
criados pelo paciente começam a
atacar. O vírus se camufla e continua no corpo sem ser detectado."
O próximo passo, segundo a
pesquisadora, será descobrir os
tipos de mutação que ajudam o
HCV a se esquivar do sistema de
defesa. Com essa informação, seria possível obter novas formas
de tratar e prevenir a hepatite C.
A cirrose e câncer hepático pós-HCV provocam a morte de 8.000
pessoas por ano nos EUA. No
Brasil estima-se em 2,4 milhões
de infectados, mas não há estatísticas sobre mortes.
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