São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

Próximo Texto | Índice

COMPORTAMENTO

Pesquisa na Tanzânia mostra que filhas prestam mais atenção em suas mães quando "pescam" cupins

Chimpanzé fêmea aprende mais e melhor

ALESSANDRO GRECO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Ninguém duvida de que meninas amadurecem mais rápido que meninos, mas três pesquisadoras da Universidade de Minnesota (EUA) descobriram que, quando se trata de aprender habilidades culturais, a regra vale também para os primos mais próximos dos seres humanos, os chimpanzés.
Durante quatro anos, Elizabeth Lonsdorf, hoje no Zoológico Lincoln Park, em Chicago, e colaboradores filmaram em vídeo o comportamento de 14 chimpanzés jovens -oito machos e seis fêmeas- no seu habitat natural, o Parque Nacional Gombe (Tanzânia), enquanto eles "pescavam" cupins de dentro de seus ninhos, usando gravetos, orientados por suas mães. Descobriram que as jovens chimpanzés são alunas bem melhores que seus colegas do sexo oposto.
Os resultados mostram que os jovens machos foram mal nas tarefas, se comparados com as fêmeas, isso apesar de as mães não terem mostrado preferência por ensinar seus filhotes fêmeas, ou vice-versa. Na média, as jovens fêmeas aprenderam a pescar aos 2 anos e 7 meses, enquanto os machos só conseguiram fazer o mesmo aos 4 anos e 10 meses. Uma diferença de nada menos que 2 anos e 3 meses.
As fêmeas também pescaram com mais freqüência e conseguiram pegar em média mais cupins por "gravetada" no cupinzeiro.
"Nossas descobertas mostram que as chimpanzés fêmeas começam a pescar cupins mais cedo que os machos, são mais habilidosas ao pescar quando aprendem a fazê-lo e usam uma técnica similar à de suas mães, enquanto os machos, não", diz Lonsdorf.
Mas isso não quer dizer necessariamente que os rapazes primatas tenham menos neurônios do que suas colegas de mesma idade. "As jovens fêmeas passaram mais tempo observando suas mães pescando, enquanto os jovens machos passaram mais tempo brincando com o cupinzeiro", diz Lonsdorf no artigo publicado hoje na revista científica britânica Nature (www.nature.com).
As brincadeiras masculinas também tiveram outros efeitos colaterais, além da demora no aprendizado. Eles não foram capazes de reproduzir a técnica de pesca usada por suas mães -a medição foi feita em relação à profundidade com que os gravetos foram espetados nos cupinzeiros pela mãe e como os jovens machos e fêmeas as seguiam.
Como conseqüência, os machos desenvolveram novas formas de introduzir o graveto, um sinal de criatividade -não fosse pelo fato de a técnica ser menos eficiente do que aquela que suas mães tentavam lhes ensinar.
No mundo dos chimpanzés, a diferença na forma de pescar cupins tem uma razão que dói no estômago. "A disponibilidade de proteína animal é limitada para chimpanzés. Machos adultos geralmente caçam pequenos macacos [de outras espécies] nas árvores, mas fêmeas quase sempre estão grávidas, ou com um bebê dependurado nelas. Cupins são uma rica fonte de proteína e gordura. Fêmeas podem pescar cupins e olhar seus bebês ao mesmo tempo", afirmou Lonsdorf ao jornal inglês "The Independent".
As fêmeas adultas, segundo o estudo, também passam mais tempo pescando do que os machos. Isso indica que ambos os sexos parecem fazer desde cedo atividades relacionadas aos diferentes papéis que vão desempenhar mais tarde na vida.
A falta de empenho masculino em aprender -ou sua necessidade de independência das mães, conforme o ponto de vista- também aparece, segundo os autores, no aprendizado de crianças humanas. E ela pode estar relacionada a uma diferença na forma de aprendizado entre os sexos. "A descoberta é um alerta aos pesquisadores que estudam o aprendizado de habilidades complexas, de que deveriam levar em conta o sexo, em seus trabalhos" disse Lonsdorf ao "Independent".
O estudo, segundo os autores, é o primeiro a apresentar evidências sistemáticas de diferença entre os sexos no aprendizado do uso de ferramentas, com chimpanzés no habitat natural. O desafio agora é provar que "uma diferença de aprendizado baseada no sexo pode conseqüentemente datar, no mínimo, do último ancestral comum entre homens e macacos", como afirmou Lonsdorf no artigo. Uma tarefa complicada, considerando que não se sabe ainda nem qual é esse ancestral.


Com agências internacionais


Próximo Texto: Panorâmica - Mapa da mina
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.