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COMPORTAMENTO
Pesquisa na Tanzânia mostra que filhas prestam mais atenção em suas mães quando "pescam" cupins
Chimpanzé fêmea aprende mais e melhor
ALESSANDRO GRECO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Ninguém duvida de que meninas amadurecem mais rápido que
meninos, mas três pesquisadoras
da Universidade de Minnesota
(EUA) descobriram que, quando
se trata de aprender habilidades
culturais, a regra vale também para os primos mais próximos dos
seres humanos, os chimpanzés.
Durante quatro anos, Elizabeth
Lonsdorf, hoje no Zoológico Lincoln Park, em Chicago, e colaboradores filmaram em vídeo o
comportamento de 14 chimpanzés jovens -oito machos e seis fêmeas- no seu habitat natural, o
Parque Nacional Gombe (Tanzânia), enquanto eles "pescavam"
cupins de dentro de seus ninhos,
usando gravetos, orientados por
suas mães. Descobriram que as
jovens chimpanzés são alunas
bem melhores que seus colegas
do sexo oposto.
Os resultados mostram que os
jovens machos foram mal nas tarefas, se comparados com as fêmeas, isso apesar de as mães não
terem mostrado preferência por
ensinar seus filhotes fêmeas, ou
vice-versa. Na média, as jovens fêmeas aprenderam a pescar aos 2
anos e 7 meses, enquanto os machos só conseguiram fazer o mesmo aos 4 anos e 10 meses. Uma diferença de nada menos que 2 anos
e 3 meses.
As fêmeas também pescaram
com mais freqüência e conseguiram pegar em média mais cupins
por "gravetada" no cupinzeiro.
"Nossas descobertas mostram
que as chimpanzés fêmeas começam a pescar cupins mais cedo
que os machos, são mais habilidosas ao pescar quando aprendem a
fazê-lo e usam uma técnica similar à de suas mães, enquanto os
machos, não", diz Lonsdorf.
Mas isso não quer dizer necessariamente que os rapazes primatas tenham menos neurônios do
que suas colegas de mesma idade.
"As jovens fêmeas passaram mais
tempo observando suas mães
pescando, enquanto os jovens
machos passaram mais tempo
brincando com o cupinzeiro", diz
Lonsdorf no artigo publicado hoje na revista científica britânica
Nature (www.nature.com).
As brincadeiras masculinas
também tiveram outros efeitos
colaterais, além da demora no
aprendizado. Eles não foram capazes de reproduzir a técnica de
pesca usada por suas mães -a
medição foi feita em relação à
profundidade com que os gravetos foram espetados nos cupinzeiros pela mãe e como os jovens
machos e fêmeas as seguiam.
Como conseqüência, os machos
desenvolveram novas formas de
introduzir o graveto, um sinal de
criatividade -não fosse pelo fato
de a técnica ser menos eficiente
do que aquela que suas mães tentavam lhes ensinar.
No mundo dos chimpanzés, a
diferença na forma de pescar cupins tem uma razão que dói no estômago. "A disponibilidade de
proteína animal é limitada para
chimpanzés. Machos adultos geralmente caçam pequenos macacos [de outras espécies] nas árvores, mas fêmeas quase sempre estão grávidas, ou com um bebê dependurado nelas. Cupins são uma
rica fonte de proteína e gordura.
Fêmeas podem pescar cupins e
olhar seus bebês ao mesmo tempo", afirmou Lonsdorf ao jornal
inglês "The Independent".
As fêmeas adultas, segundo o
estudo, também passam mais
tempo pescando do que os machos. Isso indica que ambos os sexos parecem fazer desde cedo atividades relacionadas aos diferentes papéis que vão desempenhar
mais tarde na vida.
A falta de empenho masculino
em aprender -ou sua necessidade de independência das mães,
conforme o ponto de vista- também aparece, segundo os autores,
no aprendizado de crianças humanas. E ela pode estar relacionada a uma diferença na forma de
aprendizado entre os sexos. "A
descoberta é um alerta aos pesquisadores que estudam o aprendizado de habilidades complexas,
de que deveriam levar em conta o
sexo, em seus trabalhos" disse
Lonsdorf ao "Independent".
O estudo, segundo os autores, é
o primeiro a apresentar evidências sistemáticas de diferença entre os sexos no aprendizado do
uso de ferramentas, com chimpanzés no habitat natural. O desafio agora é provar que "uma diferença de aprendizado baseada no
sexo pode conseqüentemente datar, no mínimo, do último ancestral comum entre homens e macacos", como afirmou Lonsdorf
no artigo. Uma tarefa complicada,
considerando que não se sabe
ainda nem qual é esse ancestral.
Com agências internacionais
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