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ASTROBIOLOGIA
Pesquisa quer colocar um ponto final na discussão sobre grãos de meteorito oriundo do planeta vermelho
Estudo refuta evidência de vida marciana
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois pesquisadores, um deles
no Havaí e o outro em Londres,
querem colocar um ponto final na
discussão astrobiológica mais
quente da última década: eles afirmam que não há sinais de vida no
meteorito marciano ALH 84001.
Trata-se do último desdobramento de um debate que se estica
desde 1996, quando cientistas da
Nasa (agência espacial dos EUA)
anunciaram que pequenos cristais com propriedades magnéticas incrustados na rocha seriam resquícios de atividade bacteriana
em Marte há 3,9 bilhões de anos.
O ALH 84001 foi encontrado em
Allan Hills, na Antártida, em 1984.
O meteorito foi arrancado da superfície de Marte há 15 milhões de
anos, quando um asteróide se
chocou com o planeta. Depois de
vagar pelo espaço durante um
longo tempo, acabou caindo na
Terra, há 13 mil anos.
Encontrado em solo antártico
em 1984, foi classificado como
uma rocha proveniente de Marte
e guardado para estudos. Somente oito anos depois a Nasa, analisando extratos da rocha, viria a afirmar que havia encontrado nele cristais de origem supostamente biogênica -ou seja, formados pela ação de organismos vivos.
Logo em seguida, pesquisadores de outras instituições apresentaram estudos refutando a hipótese de que a única explicação para
a formação dos cristais era biológica. Entre esses críticos estava
Edward Scott, da Universidade do
Havaí (EUA). Mas nenhum dos
estudos anteriores foi tão contundente quanto o que ele publica
agora, feito em parceria com David Barber, da Universidade de
Greenwich (Reino Unido).
O artigo, presente na última edição da revista da Academia Nacional de Ciências americana, a "PNAS" (www.pnas.org), é categórico: "Nossos resultados fornecem forte evidência de que a maioria dos grãos de magnetita no ALH 84001, senão todos, são
abiogênicos em origem e se formaram pelo calor do choque do
meteorito", escreve a dupla.
Certezas e incertezas
O estudo afirma que as formas e
a distribuição dos cristais magnéticos no meteorito são indicativos
de que foram formados na própria rocha, e não por qualquer
bactéria, terrestre ou marciana.
"Estamos certos de que os grãos
não foram formados biogenicamente", disse à Folha Scott, por
telefone, de sua sala no Havaí. "E
muitas pessoas na comunidade
científica concordam totalmente
com as nossas conclusões."
Certamente entre eles não estão
os que iniciaram a controvérsia.
Everett Gibson, do Centro Espacial Johnson, da Nasa, foi um dos
líderes da pesquisa que em 1996
apontou a origem biogênica para
os grãos nos carbonatos presentes
no ALH 84001, e ele parece mais
convencido do que nunca de suas
impressões iniciais.
"Há carbonatos e carbonatos",
diz Gibson. "Há magnetita formada a partir de carbonatos que sofreram grande elevação de temperatura, até 400C, enquanto em
outros casos a temperatura não
passou de 80C. A rocha contém
os dois tipos, mas em seu estudo,
Barber e Scott não os separaram,
como nós fizemos antes."
Para ele, isso faz toda a diferença. Um dos tipos do cristal seria
biogênico, o outro não. Se alguém
tomasse um pelo outro, poderia
tirar uma conclusão errada.
Mesmo assim, Gibson entende
o ceticismo. "Idéias radicais em
ciência não costumam ser facilmente aceitas", ele diz. E pode pôr
"radical" nessa aí: seria a mais antiga evidência de vida já encontrada, mais velha até que os registros fósseis mais antigos da Terra.
"Mas nós acreditamos hoje, ainda mais do que em 1996, nas evidências que apontam a origem biogênica desses grãos", diz Gibson. "Se fosse uma rocha terrestre, ninguém discutiria. Mas é uma rocha de Marte."
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