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DESENVOLVIMENTO
Grupo de 31 países, que inclui o Brasil, concentra 98% de artigos mais citados no mundo, diz relatório
Desigualdade afeta produção científica
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Que o mundo é desigual, muitos
sabem. Noruegueses vivem bem
mais e melhor que moçambicanos, como costuma revelar o Índice de Desenvolvimento Humano,
divulgado ontem pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento).
No entanto, um novo estudo sobre a ciência no planeta mostra
que a situação tende a piorar cada
vez mais, pois os países ricos -os
"noruegueses"- investem muito
mais e melhor em ciência e inovação tecnológica do que os mais
pobres -os "moçambicanos".
O artigo está publicado na revista científica britânica "Nature"
(www.nature.com) de hoje, de
autoria de David King, o principal
assessor científico do governo do
Reino Unido.
O estudo mostra que apenas 31
países -incluindo o Brasil- estão representados no 1% dos mais
importantes artigos científicos,
aqueles que foram os mais citados
por outros cientistas.
Há várias maneiras de medir a
produção científica dos países e
seu impacto geral na ciência, nenhuma das quais é perfeita. Um
artigo pode ser muito citado por
outros cientistas por estar totalmente errado, por exemplo. Mas,
em geral, e em grandes conjuntos
de dados, quanto mais citado,
mais impacto tem uma pesquisa.
King fez comparações entre a
produção de artigos desses 31 países mais significativos na ciência
mundial. O grupo dos 31 responde por 98% dos artigos mais citados de todos -1% da produção
total de artigos. Os outros 162 países do planeta contribuíram com
os 2% restantes.
Distância
"As nações com mais citações
estão se distanciando do resto do
mundo", diz King. É o caso dos
oito países mais ricos do mundo,
o grupo conhecido como G8
-com a exceção da Rússia, cujo
investimento em ciência caiu desde o fim da União Soviética.
Mas não são só os países mais ricos que se beneficiam da ciência e
de sua versão aplicada à indústria
e agricultura, caso óbvio dos
EUA, do Japão e da Alemanha.
Países pequenos, mas com alto
grau de desenvolvimento humano e de renda per capita, também
alavancam o seu desenvolvimento com inovação tecnológica
Comparando-se a riqueza econômica e o avanço em ciência,
percebe-se que países como Israel, Suécia e Suíça estão tão
adiantados quanto gigantes como
os Estados Unidos.
Mas os EUA permanecem à
frente da Europa em vários fatores. Mesmo que o conjunto dos
países do Velho Continente possa
ter um número maior ou equivalente de artigos científicos publicados, os artigos dos pesquisadores americanos têm maior impacto em termos de citações.
O estudo feito por King mostrou que vários países melhoraram muito sua classificação. Por
exemplo, entre 1993 e 1997, o Brasil produziu 0,84% dos artigos
científicos indexados no mundo
-isto é, registrados no banco de
dados. De 1997 a 2001 foi 1,21%.
Os artigos de pesquisadores dos
EUA até diminuíram em número
-de 37,46% a 34,86% nos dois
períodos acima. Mas continuam
sendo de longe bem mais citados
que o resto -62,76% entre o grupo de 31 países, de 1997 a 2001.
Um detalhe curioso revelado
pelas tabulações de King foi o
avanço recente na pesquisa britânica -mas com origens que os
cientistas do mundo todo deplorariam. Os cortes de verba ao financiamento da pesquisa nos
anos 80 e 90 serviram para "cortar
a gordura" da ciência britânica.
Darwinismo
Sobraram os grupos de pesquisa
mais competentes, que aumentaram a participação do Reino Unido entre os artigos mais citados.
Citando talvez o mais famoso dos
cientistas britânicos de todos os
tempos, Charles Darwin, "pai" da
teoria da evolução, foi o caso da
"sobrevivência dos mais aptos".
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