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Nova técnica ataca célula mãe do câncer
Estratégia permite testar simultaneamente 16 mil drogas que matam as células-tronco que fazem tumores crescerem
Descoberta pode acelerar o desenvolvimento de drogas que eliminam essas células, que são resistentes aos quimioterápicos comuns
NICHOLAS WADE
DO "NEW YORK TIMES"
Pesquisadores descobriram
um modo de identificar substâncias capazes de atacar e matar de forma específica as chamadas células-tronco do câncer. O achado pode levar a uma
nova geração de medicamentos
e estratégias contra tumores.
Muitos cientistas acreditam
que o crescimento do câncer é
impulsionado por células-tronco tumorais que, por razões
ainda pouco compreendidas,
têm grande resistência a tratamentos tradicionais.
A quimioterapia pode matar
99% das células de um tumor,
mas as células-tronco que sobram são capazes de fazer o
câncer voltar ou espalhá-lo por
outros tecidos do corpo, segundo essa linha de pesquisa.
Renovadas
A dificuldade de eliminar as
células-tronco cancerosas tem
a ver com o fato de que, diferentemente das células maduras,
elas são capazes de renovar a si
mesmas constantemente.
Até agora havia sido difícil
testar essa hipótese, porque é
difícil reconhecer as células-tronco do câncer. Mas uma
equipe do Instituto Broad, nos
EUA, achou uma forma de descobrir drogas que atacam as células-tronco tumorais e deixam
as células normais ilesas.
É difícil multiplicar as células-tronco do câncer em quantidades suficientes no laboratório, mas a equipe do Instituto
Broad usou um tipo de manipulação genética que mantém células de tumores de mama
"presas" no estado de célula-tronco (veja quadro).
A equipe, liderada por Piyush
B. Gupta, testou cerca de 16 mil
substâncias, incluindo todos os
quimioterápicos já aprovados
para uso pelo governo americano. Em artigo na revista científica "Cell" desta semana, eles
afirmam que 32 dessas substâncias conseguiram atacar
com sucesso o alvo.
As moléculas podem ou não
acabar desembocando em bons
remédios no futuro, mas o sistema de avaliação de substâncias mostra pela primeira vez,
dizem os pesquisadores, que é
possível achar drogas que atacam as células-tronco e deixam
de lado as células normais.
Outra abordagem que enfoca
diretamente as células-tronco
tumorais, baseada no uso de
anticorpos, foi publicada neste
mês pela OncoMed Pharmaceuticals, empresa fundada por
Michael F. Clarke, pesquisador
da Universidade Stanford que,
em 2003, descobriu células-tronco em tumores de mama.
Se for possível desenvolver
drogas eficazes contra células-tronco tumorais, uma estratégia óbvia seria usá-las em combinação com quimioterápicos
conhecidos, de maneira que todas células de um tumor possam ser atacadas. Desse modo,
o câncer poderia ser atacado da
mesma maneira que a Aids é
combatida hoje, ou seja, com
um coquetel de substâncias
que bloqueiam todas as saídas
possíveis da doença.
Terra arrasada
A quimioterapia convencional muitas vezes dá certo porque as substâncias são aplicadas em doses tão grandes que
matam todas as células. Mas essa política de terra arrasada é
estressante para o paciente.
"Você provavelmente diminuiria as doses consideravelmente com uma combinação
de drogas capaz de atacar tipos
específicos de célula", diz Gupta. Eric S. Lander, diretor do
Instituto Broad, afirma: "O verdadeiro problema é criarmos
uma droga que mata 99,9% das
células num tumor, mas deixa
0,1% delas vivas. A coisa vira
uma vitória de Pirro".
Segundo Lander, o novo sistema de triagem e a ideia de
usar combinações de drogas
contra tumores têm "potencial
de trazer uma verdadeira renascença terapêutica contra o
câncer. "Se conseguirmos isso,
vamos vencer."
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