São Paulo, sábado, 15 de agosto de 2009

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Nova técnica ataca célula mãe do câncer

Estratégia permite testar simultaneamente 16 mil drogas que matam as células-tronco que fazem tumores crescerem

Descoberta pode acelerar o desenvolvimento de drogas que eliminam essas células, que são resistentes aos quimioterápicos comuns

NICHOLAS WADE
DO "NEW YORK TIMES"

Pesquisadores descobriram um modo de identificar substâncias capazes de atacar e matar de forma específica as chamadas células-tronco do câncer. O achado pode levar a uma nova geração de medicamentos e estratégias contra tumores.
Muitos cientistas acreditam que o crescimento do câncer é impulsionado por células-tronco tumorais que, por razões ainda pouco compreendidas, têm grande resistência a tratamentos tradicionais.
A quimioterapia pode matar 99% das células de um tumor, mas as células-tronco que sobram são capazes de fazer o câncer voltar ou espalhá-lo por outros tecidos do corpo, segundo essa linha de pesquisa.

Renovadas
A dificuldade de eliminar as células-tronco cancerosas tem a ver com o fato de que, diferentemente das células maduras, elas são capazes de renovar a si mesmas constantemente.
Até agora havia sido difícil testar essa hipótese, porque é difícil reconhecer as células-tronco do câncer. Mas uma equipe do Instituto Broad, nos EUA, achou uma forma de descobrir drogas que atacam as células-tronco tumorais e deixam as células normais ilesas.
É difícil multiplicar as células-tronco do câncer em quantidades suficientes no laboratório, mas a equipe do Instituto Broad usou um tipo de manipulação genética que mantém células de tumores de mama "presas" no estado de célula-tronco (veja quadro).
A equipe, liderada por Piyush B. Gupta, testou cerca de 16 mil substâncias, incluindo todos os quimioterápicos já aprovados para uso pelo governo americano. Em artigo na revista científica "Cell" desta semana, eles afirmam que 32 dessas substâncias conseguiram atacar com sucesso o alvo.
As moléculas podem ou não acabar desembocando em bons remédios no futuro, mas o sistema de avaliação de substâncias mostra pela primeira vez, dizem os pesquisadores, que é possível achar drogas que atacam as células-tronco e deixam de lado as células normais.
Outra abordagem que enfoca diretamente as células-tronco tumorais, baseada no uso de anticorpos, foi publicada neste mês pela OncoMed Pharmaceuticals, empresa fundada por Michael F. Clarke, pesquisador da Universidade Stanford que, em 2003, descobriu células-tronco em tumores de mama.
Se for possível desenvolver drogas eficazes contra células-tronco tumorais, uma estratégia óbvia seria usá-las em combinação com quimioterápicos conhecidos, de maneira que todas células de um tumor possam ser atacadas. Desse modo, o câncer poderia ser atacado da mesma maneira que a Aids é combatida hoje, ou seja, com um coquetel de substâncias que bloqueiam todas as saídas possíveis da doença.

Terra arrasada
A quimioterapia convencional muitas vezes dá certo porque as substâncias são aplicadas em doses tão grandes que matam todas as células. Mas essa política de terra arrasada é estressante para o paciente.
"Você provavelmente diminuiria as doses consideravelmente com uma combinação de drogas capaz de atacar tipos específicos de célula", diz Gupta. Eric S. Lander, diretor do Instituto Broad, afirma: "O verdadeiro problema é criarmos uma droga que mata 99,9% das células num tumor, mas deixa 0,1% delas vivas. A coisa vira uma vitória de Pirro".
Segundo Lander, o novo sistema de triagem e a ideia de usar combinações de drogas contra tumores têm "potencial de trazer uma verdadeira renascença terapêutica contra o câncer. "Se conseguirmos isso, vamos vencer."


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