São Paulo, terça-feira, 15 de outubro de 2002

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ASTRONÁUTICA

Instalação seria montada no ponto de equilíbrio entre a Terra e o satélite, 800 vezes mais longe que a ISS

Nasa quer construir base próxima à Lua

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Embora a construção da ISS (Estação Espacial Internacional) ainda esteja longe de acabar, a Nasa está fazendo de tudo para deixar claro que seu programa tripulado não pára por aí. Durante o Congresso Espacial Mundial, que começou na última quinta-feira e vai até sábado, em Houston, EUA, a agência espacial americana apresentou o próximo item em sua lista de prioridades astronáuticas -uma nova base no espaço.
Esse novo posto avançado já seria um grande avanço, em comparação ao representado pela ISS, no objetivo de levar humanos além da baixa órbita terrestre -tópico que faz parte da "visão da Nasa". Mas sua verdadeira vocação seria a de trampolim, permitindo vôos ainda mais audaciosos, que incluiriam missões tripuladas à Lua ou mesmo a Marte.
O projeto é de autoria do NExT (Nasa Exploration Team, ou Grupo de Exploração da Nasa, em português), criado justamente para elaborar planos de maior alcance para a agência. Os detalhes só estão sendo apresentados agora em Houston, mas o site Space.com (www.space.com) antecipou algumas das informações.

Na esquina com a Lua
A base, apelidada de L1 Gateway, ficaria mais de 800 vezes mais distante da Terra que a ISS. Sua localização seria no primeiro dos cinco pontos de Lagrange do sistema Terra-Lua (daí o "L1" do nome). O ponto de Lagrange (ou de libração), nesse caso, é um local do espaço em que a gravidade da Terra e da Lua se compensam, fazendo com que um objeto ali localizado fique mais ou menos no mesmo lugar (com relação à Terra e à Lua) o tempo todo.
Em razão de a Terra ter muito mais massa do que a Lua, o L1 do sistema fica bem mais próximo do satélite (a 323 mil km da Terra e a apenas 61 mil km da Lua). Um objetivo perfeitamente atingível a partir da Gateway seria, portanto, uma nova viagem à superfície lunar, algo defendido por cientistas no congresso em Houston.
"Acredite, é um passo necessário", diz William Siegfried, um engenheiro da Boeing que está em Houston para participar de uma reunião que debaterá o retorno à Lua. "Deveríamos voltar para ficar e manter interesse público com um programa contínuo."
Também há mérito científico num retorno ao satélite natural. "Há sempre mais a aprender", diz David Criswell, da Universidade de Houston, que vai apresentar um trabalho sobre como gerar energia na Lua. "Você pode imaginar quanta pesquisa geológica foi conduzida na América desde que Colombo chegou. Missões não-tripuladas ou mesmo missões curtas do tipo Apolo não vão encontrar todas as respostas."

Agenda apertada
Segundo relatórios anteriores produzidos pelo NExT, esse trabalho de reforçar a presença humana nos pontos de Lagrange é uma tarefa que deve ser iniciada entre 2006 e 2011 -justamente após o fim da construção da ISS.
Com a estação, seria possível fazer estudos mais completos dos efeitos de longa duração da radiação cósmica sobre os astronautas, além de desenvolver técnicas para combater a baixa gravidade. Dois quesitos que precisarão ser bem conhecidos antes de qualquer missão tripulada à Marte, que exigiria muito mais planejamento do que uma simples volta à Lua.


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