UOL


São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 2003

Próximo Texto | Índice

ASTRONÁUTICA

Nave Shenzhou-5 deve fazer 14 órbitas com astronauta Yang Liwei; lançamento leva país à elite espacial

Chineses alçam seu primeiro vôo ao espaço

Xinhua/Reuters
Foguete Chang Zheng-2F decola de base no deserto de Gobi


SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Exatamente às 22h de ontem, horário de Brasília, um foguete de dimensões colossais subiu aos céus, a partir do Centro de Lançamento de Jiuquan, levando ao espaço a nave Shenzhou-5 e seu solitário ocupante, Yang Liwei, o primeiro astronauta chinês.
O evento foi noticiado imediatamente pela agência de notícias Xinhua, mas não teve transmissão ao vivo pela televisão. Após dez minutos, as autoridades confirmaram que o veículo se estabeleceu com sucesso em uma órbita em torno da Terra -feito que exige da nave espacial uma velocidade final de aproximadamente 28 mil quilômetros por hora.
"Não vou desapontar a terra-mãe. Vou completar cada movimento com total concentração. E honrarei o Exército Popular de Libertação e a nação chinesa", disse Yang, 38, horas antes do lançamento, segundo a rede de televisão norte-americana CNN.
Mais tarde, reportando da órbita terrestre, ele anunciou ao controle da missão: "Sinto-me bem e minhas condições são normais".
Segundo o plano de vôo estabelecido para a missão, a Shenzhou-5 ("nave divina", em chinês) deve dar um total de 14 voltas em torno da Terra, completando 21 horas no espaço antes do retorno.
Estiveram presentes ao lançamento o presidente Hu Jintao e seu antecessor, Jiang Zemin. "A missão tripulada marca a glória de nossa grande terra-mãe", disse Hu, após a decolagem.
O piloto Yang se tornou uma lenda viva na China assim que o foguete Chang Zheng-2F (Longa Marcha-2F) despachou a Shenzhou em seu tortuoso caminho até a órbita terrestre. Mas a escolha de seu nome não foi tão simples. Originalmente, todos os 14 astronautas treinados para o programa foram considerados elegíveis ao posto.
Com a data do lançamento se aproximando, os três melhores foram selecionados. Além de Yang, o grupo contava com Zhai Zhigang e Nie Haisheng. Foram notáveis entre os candidatos as ausências de Li Qinglong e Wu Jie, que foram preparados na Rússia em 1996 para formar a base do programa de astronautas chinês.
Ontem, o trio se apresentou à imprensa, e Yang emergiu como o escolhido para o vôo histórico (leia mais sobre o piloto da Shenzhou-5 no texto abaixo, à direita). A ele coube a missão de repetir, quatro décadas depois, um feito só realizado por duas nações no mundo, União Soviética (hoje Rússia) e Estados Unidos.
O primeiro vôo orbital da história foi efetivado em 12 de abril de 1961 por Iuri Gagarin, a bordo da nave soviética Vostok-1. O cosmonauta deu uma volta em torno da Terra e retornou 108 minutos após o lançamento.
Ele foi seguido em 5 de maio do mesmo ano pelo primeiro americano a visitar o espaço, Alan Shepard. Mas a missão era apenas um "salto" espacial, com a cápsula Mercury Freedom-7 sendo arremessada para cima e retornando na sequência, em 15 minutos.
O feito russo só foi equiparado pelo programa espacial americano em 20 de fevereiro de 1962, com o vôo de John Glenn, terceiro do programa Mercury e primeiro a dar voltas completas em torno do planeta, num total de três.
Desde então, nenhuma outra nação além dessas duas conseguiu enviar gente ao espaço. Estimativas internas feitas por gerentes do programa espacial chinês dão conta de que cerca de US$ 700 milhões foram gastos somente no desenvolvimento da nave Shenzhou. O valor não inclui o custo dos quatro lançamentos não-tripulados da nave (feitos entre 1999 e 2002) nem o que foi gasto para preparar a Shenzhou-5.
O investimento, entretanto, coloca a China em pé de igualdade com os grandes empreendedores da exploração espacial. Sua nave é até mais capaz que a Soyuz TMA, última versão da nave russa usada desde 1967 para transporte de tripulações até a órbita terrestre.
Ambos os veículos têm capacidade para três pessoas, e a Shenzhou tem a vantagem adicional de manter seu módulo orbital no espaço após o retorno da tripulação. Esse compartimento, com painéis solares próprios, pode manter experimentos em órbita por vários meses, mesmo sem a presença dos astronautas.
De resto, Shenzhou e Soyuz são bem parecidas, mas não por coincidência. Houve muita consultoria russa no projeto chinês, instaurado em 1993, e uma cápsula de retorno construída pela empresa RSC Energia chegou a ser importada da Rússia para estudo pelas equipes chinesas.
Atualmente, o cronograma prevê a realização de mais três vôos de qualificação, com desafios crescentes. Yang não deve fazer mais que testar os sistemas de suporte de vida (presentes no módulo de serviço) e os propulsores responsáveis pelo controle da orientação da nave no espaço.


Próximo Texto: Astronauta é piloto de 38 anos
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.