São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

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PALEONTOLOGIA

Pesquisador acha Amazonsaurus maranhensis ao tropeçar numa vértebra a 130 quilômetros de São Luís

UFRJ apresenta 1º dinossauro da Amazônia

Bruno Domingos/Reuters
Claudia Magalhães, da UFRJ, mostra modelo do A. maranhensis


ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) anunciaram ontem a descoberta na região amazônica brasileira de dinossauros que viveram há cerca de 110 milhões de anos, da espécie Amazonsaurus maranhensis. Até então, existiam somente suspeitas de que a Amazônia Legal (que inclui várias áreas não-florestadas e a porção oeste do Estado do Maranhão) já havia sido habitada por dinossauros.
A partir da descoberta de fragmentos de ossos de um único animal nas margens do rio Itapecuru, em Itapecuru-Mirim (a 130 km de São Luís), os pesquisadores reconstruíram toda a estrutura óssea do dinossauro.
Evidências de outras espécies de dinossauro já haviam sido encontradas em várias regiões do país, mas o animal cujos fósseis foram apresentados ontem pela UFRJ é o primeiro do grupo Diplodocoidea, uma subdivisão dos chamados saurópodes (os maiores dinossauros que habitaram o planeta). Esse tipo de saurópode já havia sido encontrado na América do Norte.
Além dos saurópodes, há dois outros grandes grupos de dinossauros: os terópodes (únicos carnívoros) e os ornitísquios (vegetarianos, como os saurópodes). O Amazonsaurus maranhensis, como foi denominado pelos pesquisadores da UFRJ, pesava aproximadamente dez toneladas e tinha comprimento de dez metros, incluindo uma longa cauda.
Os primeiros fragmentos de ossos do A. maranhensis foram encontrados em 1990 por pesquisadores da UFRJ, liderados pelo professor emérito da universidade Cândido Simões Ferreira.
A descrição da nova espécie foi feita por uma equipe liderada por Ismar Carvalho e Leonardo Avilla, da UFRJ, e por Leonardo Salgado, da Universidade Nacional de Comahue, na Argentina. A pesquisa recebeu financiamento da Faperj (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro).
O primeiro fragmento de um osso do animal foi encontrado quando, após 15 dias de pesquisa nas margens do rio Itapecuru, Ferreira tropeçou em um pedaço de vértebra. No início, os pesquisadores pensaram que fosse um osso de vaca, mas o estudo da densidade do osso mostrou que poderia ser de um dinossauro. A partir daí, começou um trabalho minucioso para retirar outros fragmentos sem causar danos.
Após serem transportados para a UFRJ, os fragmentos começaram a ser analisados. Um dos trabalhos mais difíceis foi montar o quebra-cabeça de toda a estrutura óssea do animal a partir dos fragmentos encontrados.
Ferreira, 84, chorou ontem ao ver a apresentação da descoberta: "É como um filho".
Carvalho conta que, como esse animal nunca havia sido encontrado no Brasil, foi preciso consultar pesquisadores estrangeiros para poder determinar que se tratava de um diplódoco.
Depois da identificação do animal, foi preciso esperar que uma revista especializada reconhecesse a descoberta. Isso aconteceu no mês passado, quando a revista "Cretaceous Research" (www.sciencedirect.com/science/journal/01956671) publicou o estudo de Carvalho, Avilla e Salgado.


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