São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 2010

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Crítica/"Gaia: Alerta Final"

Livro completa trajetória de cientista rumo ao pessimismo

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para James Lovelock, os ambientalistas, os governos e a ONU estão otimistas demais. As ações para combate ao aquecimento global -como a substituição do petróleo por biocombustíveis e os programas de reflorestamento- não serão capazes de conter a escalada mundial das temperaturas. Seu novo livro, "Gaia: Alerta Final", é em grande parte dedicado a mostrar que o tempo para reverter a situação já passou e, agora, resta aos humanos se prepararem para sobreviver às novas condições do planeta.
Outro objetivo da obra, claro, é listar novos argumentos em favor de sua principal teoria, lançada em 1979, segundo a qual a Terra seria uma espécie de superorganismo capaz de se autorregular. Catapultado a ídolo dos ambientalistas na época, Lovelock sofreu durante muito tempo com um descrédito de cientistas que considerava sua teoria mitologia hippie.
Ele diz, porém, que oito das previsões de seu trabalho já se concretizaram. Uma delas é a demonstração de que as florestas têm papel importante na regulação do clima terrestre.
O livro que o cientista lança agora é o oitavo que leva no título a palavra Gaia, nome com que batizou sua hipótese. Repetições à parte, o tom de catastrofismo é mais recente no discurso de Lovelock, e começou só no penúltimo volume da série, "A Vingança de Gaia", de 2006. Naquele estágio, porém, o autor ainda dizia ter fé em várias maneiras de tentar salvar o mundo de um colapso.
"Gaia: Alerta Final" traz um mensagem mais sombria: o homem abusou do planeta e, irremediavelmente, terá que arcar com as consequências. Não há como sustentar uma população de 7 bilhões de habitantes, diz. Uma onda de migrações em massa impulsionada pela mudança climática será seguida por uma redução considerável da população do planeta.
Como evidência, compila estatísticas, artigos científicos e usa um pouco de sua intuição pessoal para mostrar que o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) está perigosamente errado. O grupo da ONU, diz, subestima as proporções do aquecimento global. Mas, apesar do tom pessimista, Lovelock lista vários remédios para atenuar o sofrimento da Terra.
O cientista defende apaixonadamente o uso de energia nuclear como melhor forma de geração de energia. Essa posição lhe custou o apoio de boa parte do movimento ambientalista -sobretudo do Greenpeace, alvo de duras críticas no livro. Para Lovelock, o uso dos reatores nucleares garantiria energia limpa e não colocaria em risco a segurança alimentar do planeta -como fariam as plantações para produção do etanol.
Embora condene o uso de vários tipos de energia "renovável"-expressão que considera equivocada, uma vez que os materiais necessários a esta se desgastam e precisam ser substituídos-, o cientista ataca especialmente as usinas eólicas. Além de consumir concreto e cimento, o método implicaria a construção de usinas termoelétricas, poluidoras, para tempos em que o vento não sopra.
Lovelock enaltece no livro algumas controversas técnicas de geoengenharia -nome dado à manipulação de aspectos biológicos, físicos e químicos da Terra. Entre uma de suas favoritas está uma espécie de cilindro vertical que bombearia a água do fundo do oceano, rica em nutrientes, para cima. Isso aumentaria a população das algas fotossintetizantes, que removeriam mais dióxido de carbono da atmosfera.
Mesmo sendo insuficientes para salvar toda a população da crise do clima, diz, tecnologias como essa é que evitarão a extinção da espécie humana. (GM)


LIVRO - "Gaia: Alerta Final"

de James Lovelock; Ed. Intrínseca, 266 págs., R$ 29,90



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