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Crítica/"Gaia: Alerta Final"
Livro completa trajetória de cientista rumo ao pessimismo
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Para James Lovelock, os ambientalistas, os governos e a
ONU estão otimistas demais.
As ações para combate ao aquecimento global -como a substituição do petróleo por biocombustíveis e os programas
de reflorestamento- não serão
capazes de conter a escalada
mundial das temperaturas. Seu
novo livro, "Gaia: Alerta Final",
é em grande parte dedicado a
mostrar que o tempo para reverter a situação já passou e,
agora, resta aos humanos se
prepararem para sobreviver às
novas condições do planeta.
Outro objetivo da obra, claro,
é listar novos argumentos em
favor de sua principal teoria,
lançada em 1979, segundo a
qual a Terra seria uma espécie
de superorganismo capaz de se
autorregular. Catapultado a
ídolo dos ambientalistas na
época, Lovelock sofreu durante
muito tempo com um descrédito de cientistas que considerava sua teoria mitologia hippie.
Ele diz, porém, que oito das
previsões de seu trabalho já se
concretizaram. Uma delas é a
demonstração de que as florestas têm papel importante na
regulação do clima terrestre.
O livro que o cientista lança
agora é o oitavo que leva no título a palavra Gaia, nome com
que batizou sua hipótese. Repetições à parte, o tom de catastrofismo é mais recente no
discurso de Lovelock, e começou só no penúltimo volume da
série, "A Vingança de Gaia", de
2006. Naquele estágio, porém,
o autor ainda dizia ter fé em várias maneiras de tentar salvar o
mundo de um colapso.
"Gaia: Alerta Final" traz um
mensagem mais sombria: o homem abusou do planeta e, irremediavelmente, terá que arcar
com as consequências. Não há
como sustentar uma população
de 7 bilhões de habitantes, diz.
Uma onda de migrações em
massa impulsionada pela mudança climática será seguida
por uma redução considerável
da população do planeta.
Como evidência, compila estatísticas, artigos científicos e
usa um pouco de sua intuição
pessoal para mostrar que o
IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) está perigosamente errado. O grupo da ONU, diz, subestima as proporções do
aquecimento global. Mas, apesar do tom pessimista, Lovelock lista vários remédios para
atenuar o sofrimento da Terra.
O cientista defende apaixonadamente o uso de energia
nuclear como melhor forma de
geração de energia. Essa posição lhe custou o apoio de boa
parte do movimento ambientalista -sobretudo do Greenpeace, alvo de duras críticas no livro. Para Lovelock, o uso dos
reatores nucleares garantiria
energia limpa e não colocaria
em risco a segurança alimentar
do planeta -como fariam as
plantações para produção do
etanol.
Embora condene o uso de vários tipos de energia "renovável"-expressão que considera
equivocada, uma vez que os
materiais necessários a esta se
desgastam e precisam ser substituídos-, o cientista ataca especialmente as usinas eólicas.
Além de consumir concreto e
cimento, o método implicaria a
construção de usinas termoelétricas, poluidoras, para tempos em que o vento não sopra.
Lovelock enaltece no livro algumas controversas técnicas
de geoengenharia -nome dado
à manipulação de aspectos biológicos, físicos e químicos da
Terra. Entre uma de suas favoritas está uma espécie de cilindro vertical que bombearia a
água do fundo do oceano, rica
em nutrientes, para cima. Isso
aumentaria a população das algas fotossintetizantes, que removeriam mais dióxido de carbono da atmosfera.
Mesmo sendo insuficientes
para salvar toda a população da
crise do clima, diz, tecnologias
como essa é que evitarão a extinção da espécie humana.
(GM)
LIVRO - "Gaia: Alerta Final"
de James Lovelock; Ed. Intrínseca,
266 págs., R$ 29,90
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