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Índio cultivava pimenta há 6.100 anos
Análise de fósseis microscópicos identifica técnicas complexas de agricultura em sete sítios arqueológicos da América
Sementes de espécies de
pimenteiras foram achadas
em associação ao milho;
novos estudos vão enfocar
áreas no território brasileiro
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Há 6.100 anos, antes mesmo
de os índios americanos inventarem a cerâmica, eles já dominavam o cultivo da pimenta e
do pimentão. O que sustenta a
tese de que em vários pontos do
continente já se praticava uma
agricultura complexa.
Registros arqueológicos
apresentados hoje na revista
"Science" (www.sciencemag.
org) mostram que, depois dessas domesticações, as variedades de pimenta espalharam-se
pelas Américas. Após os europeus atravessarem o Atlântico,
elas acabaram ganhando o
mundo também.
"Acredito que as pimentas
começaram a ser usadas como
condimento pelo mesmo motivo que as torna populares hoje.
O sabor é bom e deixa a enfadonha dieta do dia-a-dia muito
mais interessante", disse à Folha a arqueóloga Linda Perry,
do Museu Smithsonian de História Natural, em Washington.
A pesquisadora, primeira autora do artigo científico, analisou o material fóssil (sementes
principalmente) de sete localidades, dispersas pelas Américas e localizadas em cinco países: Bahamas, Equador, Panamá, Peru e Venezuela.
Em todos os sítios arqueológicos estudados as pimentas de
cinco espécies do gênero Capiscum (ao qual pertencem o chili
mexicano, a páprica e a malagueta) apareceram junto com o
milho, base da dieta indígena.
"Nossas evidências mostram
que essas duas plantas migraram juntas ao longo das Américas." Para a pesquisadora, o milho e a pimenta formaram uma
espécie de complexo alimentar
daquela época.
Complexidade
Como analisou a presença de
sementes fossilizadas de pimenta e de outros alimentos
tanto no solo quanto em fragmentos de rochas, de ferramentas de pedra e de pedaços
de cerâmica (no caso das amostras mais recentes), Perry pôde
evidenciar a forte presença de
uma agricultura complexa nos
pontos estudados.
Segundo a pesquisadora, no
sítio de Loma Alta, no Equador,
o mais antigo a ser estudado,
havia uma série de evidências
que mostravam a importância
da agricultura para a região.
"Eles tinham um sistema
complexo de agricultura por lá.
Havia uma preocupação com a
existência de área irrigáveis naturalmente", comenta Perry,
em seu estudo publicado hoje.
O artigo colabora ainda com
novos dados sobre a história da
domesticação das pimentas.
"As evidências apenas botânicas mostravam até agora que
a pimenta poderia ter sido domesticada há 6.000 anos no
México. Nosso material fóssil
mostra que já havia domesticação da pimenta no Equador há
6.100 anos", afirma a cientista.
"Mas não temos condições
de precisar com exatidão o local do primeiro centro de domesticação e dispersão ainda",
analisa. Provavelmente, segundo os cientistas, a pimenta chegou domesticada ao Equador.
"A origem mesmo do Capsicum foi na Bolívia. E, talvez, a
espécie domesticada no Equador não esteja entre as cinco
mais importantes do ponto de
vista econômico", afirma Perry.
Bastante confiante em seu
método de rastrear as dietas
pré-históricas, Perry admite
que a história da pimenta está
longe de chegar ao fim.
"Estamos animados com os
microfósseis. Eles nos permitem traçar a origem, a domesticação e a dispersão das pimentas. Temos é que achar mais sítios", avisa a pesquisadora, que
agora quer vir para o Brasil.
"O potencial de acharmos
fósseis de pimenta no Brasil é
muito grande. Nossas próximas
pesquisas poderão revelar novos padrões interessantes."
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