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Terapia gênica é fraca contra vírus da Aids
Primeiro teste para avaliar eficiência de tratamento mostra que não há redução significativa da carga viral de pacientes
Por outro lado, tratamento é seguro e as células de defesa aumentaram nas pessoas tratadas, em relação às que receberam apenas placebo
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
A terapia gênica no tratamento da Aids é promissora,
mas na prática ainda está longe
de poder substituir o uso de antirretrovirais. É o que mostram
os resultados do primeiro teste
clínico para avaliar a eficácia da
terapia gênica no combate ao
HIV, publicados em artigo de
Ronald Mitsuyasu, da Universidade da Califórnia (EUA), e
colegas na revista científica
"Nature Medicine".
Houve uma pequena melhora nos níveis de linfócito T
CD4+ (células que coordenam
a defesa do organismo e que são
ao mesmo tempo destruídas
pelo HIV) nos indivíduos tratados, em comparação àqueles
que receberam placebo. Porém,
não houve redução da carga viral nos pacientes.
O teste foi feito com 74 pacientes. Eles receberam ou placebo ou células-tronco de sangue (glóbulos brancos em estágios iniciais de desenvolvimento) contendo uma sequência de
RNA -espécie de auxiliar do
DNA. Essa sequência de RNA,
chamada pelos médicos de
OZ1, atua como uma enzima
que ataca o RNA do HIV, impedindo-o de produzir duas proteínas-chave.
A OZ1 se mostrou segura, e
não causou efeitos adversos durante o tratamento -ao contrário dos antirretrovirais, que
costumam provocar efeitos colaterais nos pacientes.
Segundo o artigo, o estudo
indica que a terapia gênica é segura para tratar pessoas com
HIV e pode ser desenvolvida
como uma terapia convencional para Aids.
Os autores do trabalho, animados, afirmam no documento
publicado que o estudo é o
"maior avanço na área".
Para o infectologista Esper
Kallás, pesquisador da Universidade de São Paulo, "os resultados obtidos, embora modestos, mostram que a manipulação genética das células é uma
forma viável de tentar tratar
doenças humanas".
Para ele, que não demonstra
a mesma empolgação dos autores, existe a expectativa teórica
de a terapia gênica substituir o
tratamento com antirretrovirais. Porém, os resultados do
teste "mostram que ainda estamos longe disso".
"A melhora da contagem de
linfócitos T CD4+ foi discreta.
Por outro lado, o estudo não foi
capaz de demonstrar que esse
tratamento reduziu significativamente a quantidade do HIV",
afirmou o médico.
Segundo ele, o fato mais importante é que o tratamento foi
seguro e bem tolerado pelos voluntários. "Existem muitas outras formas de atuar geneticamente nas células, e vários pesquisadores estão discutindo essas alternativas."
Vacina
A terapia gênica é mais uma
esperança para curar a Aids,
uma vez que a criação de uma
vacina não tem sido bem sucedida até o momento. Em 2007,
o teste mais avançado de uma
vacina, criada pela farmacêutica Merck, foi suspenso depois
que 82 voluntários expostos ao
vírus (49 vacinados e 33 do grupo de controle) acabaram contaminados.
Mesmo assim, os pesquisadores tentam se manter otimistas. "Embora os resultados
anunciados em 2007 tenham
sido desapontadores, os pesquisadores têm se empenhado
em descobrir e propor novas
formas para desenvolver uma
vacina eficaz. Isso deve demorar mais do que gostaríamos,
mas há muitos grupos trabalhando para abreviar esse tempo", afirmou Kallás, cujo grupo
trabalha na pesquisa de vacinas
contra a Aids há aproximadamente dez anos.
"Uma vacina eficaz e segura
contra a Aids pode ser a única
forma de controlarmos de forma significativa o avanço da
epidemia, principalmente em
países com recursos limitados."
Colaborou RAFAEL GARCIA ,
da Reportagem Local
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