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Superobservatório "migra" para os EUA
Experimento de raios cósmicos instalado na Argentina terá segunda versão no Colorado com sete vezes o seu tamanho
Latino-americanos temem que sítio inicial do projeto se torne coadjuvante em pesquisa internacional que pode levar ao Prêmio Nobel
ANDRÉ LOBATO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA EM MALARGÜE (ARGENTINA)
Após ter destacado um grupo
de brasileiros como protagonistas de uma das descobertas
recentes mais importantes da
física, o Observatório Pierre
Auger, na Argentina, pode perder a capacidade de se manter
na linha de frente da ciência.
Em 2007, essa enorme rede
de detectores nas planícies do
Estado de Mendoza deu aos
cientistas uma ideia mais clara
sobre a origem dos misteriosos
raios cósmicos de ultraenergia,
partículas que bombardeiam a
atmosfera da Terra.
O Auger é hoje uma colaboração de 17 países. Seus planos de
ampliação, porém, preveem a
instalação apenas de um segundo campo de detectores, nos
EUA. E cientistas do sítio capitaneado pela ala latino-americana do grupo temem agora
que o aparato na Argentina fique para trás na capacidade de
gerar conhecimento inédito.
Ocupando uma área de 3.000
km2 em Mendoza, o sítio Sul do
Auger teve seu auge ao descobrir que raios cósmicos ultraenergéticos não são um fenômeno espalhado igualmente por
todo o Universo. Eles vêm de
lugares específicos, e os principais suspeitos são as galáxias
com chamados núcleos ativos,
onde a gravidade de buracos
negros gigantes confere grande
energia à matéria em volta.
Dando sequência ao projeto
original de observatórios nos
dois hemisférios, a colaboração
tem o projeto do sítio Norte
quase pronto, e começou a corrida atrás de financiadores. Esse outro campo de detectores,
no Colorado (EUA), terá sete
vezes o tamanho do argentino.
A disparidade de tamanho
criou certa frustração nos cientistas alocados no sítio Sul da
colaboração. Após terem conquistado seu lugar na física do
século 21, temem que seu experimento se torne obsoleto frente ao grande irmão do norte.
Na opinião de Angela Olinto,
da Universidade de Chicago
-que está no comando do sítio
americano- "se você pensar na
ciência, o melhor é fazer [a ampliação] no Norte". Para ela, o
sítio Sul deve se voltar a raios
cósmicos mais fracos, enquanto o Norte ficará com os de altíssima energia: pouco estudados e mais próximos de render
um estudo candidato ao Nobel.
Rubén Squartini, físico que
trabalha no sítio argentino, vê
com desconfiança a diferença
entre os dois observatórios.
"Tenho uma percepção muito
subjetiva: a de que depois que
construam o Auger Norte, não
vão dar dinheiro ao Sul", diz.
Carlos Escobar, chefe do grupo brasileiro no sítio Sul, reconhece que o Norte é necessário
ao grupo como um todo, mas,
como Olinto, diz que Mendoza
ainda tem algo a oferecer.
"Temos que mostrar unidade, senão nenhuma instituição
vai nos financiar", diz. Ele defende, porém, que uma parte
dos US$ 120 milhões necessários ao sítio Norte siga para o
Sul. Em vez de ter 21 mil km2, o
Norte passaria a ter 18 mil km2
e o sítio da Argentina ficaria
com mais 2.000 km2.
Ronald Shellard, co-presidente do conselho da colaboração do Auger, diz que isso permitiria ao grupo produzir mais
ciência de ponta enquanto o sítio Norte não fica pronto.
Outra possibilidade de ampliar o Auger Sul sem construir
novos detectores seria aumentar o espaço entre os instrumentos. A rede de 3.000 km2,
passaria a ter 5.000 km2, estima Hans Klages, alemão integrante da colaboração. Olinto
diz que uma das prioridades é
manter as novas gerações de
doutores em física em atividade. "Eles precisam ter coisas
novas para descobrir", afirma.
Folha Online
Assista a um sobrevôo
virtual no observatório
www.folha.com.br/090721
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