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BIODIVERSIDADE
Projeto deve recolher 3.000 espécies da mata atlântica até 2004; tumores e mal de Chagas são os alvos
Fiocruz testa plantas de MG contra câncer
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A mata atlântica e o cerrado de
Minas Gerais acabam de entrar na
mira da bioprospecção -a busca
por organismos com potencial
farmacêutico ou comercial. Até o
fim do ano que vem, pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) pretendem recolher e
testar 3.000 espécies de planta e
cem espécies de fungo contra
doenças como o câncer, o mal de
Chagas e a leishmaniose.
A fase de novas coletas ainda
depende de autorização, mas a
equipe do Centro de Pesquisas
René Rachou, em Belo Horizonte,
está em plena atividade. Com base numa biblioteca de extratos vegetais obtidos anteriormente, já
conseguiu resultados promissores contra alguns tipos de tumor e
contra o micróbio Trypanosoma
cruzi, causador do mal de Chagas.
"Algumas das plantas são de gêneros nunca antes investigados",
diz o farmacêutico Carlos Zani,
45, coordenador do projeto. "Vários extratos, oriundos de plantas
da família das leguminosas e da
família das asteráceas [a dos crisântemos], mostraram atividade
significativa em um ou mais ensaios", afirma. Zani não revela
quais são as espécies promissoras.
O número de novas espécies recolhidas (ainda não presentes no
banco de extratos da Fiocruz) deve ficar entre 1.000 e 2.000, comparável às 1.200 de um projeto similar de bioprospecção conduzido pela rede Biota, da Fapesp
(Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo).
Diferentemente do projeto paulista, contudo, a idéia é recolher
uma amostra aleatória de espécies
nativas em reservas florestais de
Minas, de preferência as que ainda não tenham uso na medicina
popular. Além das espécies de
planta, estão na mira dos pesquisadores fungos basidiomicetos
(do tipo dos cogumelos).
Zani diz que os testes realizados
até agora são de dois tipos. Um
deles verifica a capacidade dos extratos de impedir a proliferação
de tumores, ao misturá-los a três
linhagens de células cancerosas.
No caso do mal de Chagas, os
pesquisadores estão explorando o
potencial das plantas e fungos para barrar a ação da tripanotiona
redutase. Essa enzima (molécula
que acelera reações químicas) é
essencial para que o Trypanosoma cruzi consiga se desfazer dos
radicais livres, átomos soltos de
oxigênio que levam ao envelhecimento do parasita. Descobrir algo
que impeça essa manutenção celular ofereceria uma nova estratégia contra o micróbio. Cerca de
mil extratos já passaram pelos
dois tipos de teste.
No decorrer do projeto, as espécies coletadas também devem ser
testadas contra o microrganismo
causador da leishmaniose, de
acordo com Zani. Outro alvo dos
pesquisadores é a capacidade de
controlar o sistema de defesa do
organismo humano, algo que pode ser útil para combater a rejeição de transplantes.
O projeto tem apoio da Fapemig
(Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de Minas Gerais) e conta com verba de R$ 350 mil. Também participam a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e o Cetec (Fundação Centro
Tecnológico de Minas Gerais).
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