São Paulo, segunda-feira, 16 de abril de 2007

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Longe de ser "único", pirahã tem traços comuns com o alemão, dizem críticos

DA REDAÇÃO

No trabalho "A Excepcionalidade do Pirahã: uma reavaliação", os lingüistas compararam o pirahã com várias línguas e descobriram que o idioma, longe de ser um "caso excepcional", tem semelhanças com o alemão, o bengali e o chinês.
A suposta matemática única dos pirahãs, afirmam, é compartilhada por outras tribos da Amazônia, como os xetás (até mesmo o tupi tinha um sistema de contagem limitado), que só contam até três. E há, sim, evidências de recursividade.
Além disso, Everett tem despertado a fúria de antropólogos e lingüistas brasileiros, que o acusam veladamente de "monopolizar" os pirahãs, restringindo o acesso de outros às aldeias, e de pesquisar sem autorização da Funai (Fundação Nacional do Índio) - o que a sede da Funai confirma.
"No cerne disso tudo há uma confusão sobre o que é a Gramática Universal", disse David Pesetsky à Folha. Acho que Everett confundiu a teoria de Chomsky, Hauser e Fitch", afirmou, referindo-se à sua reformulação, que Chomsky publicou em 2003 juntamente com Marc Hauser, de Harvard, e Tecumseh Fitch, da Universidade St. Andrews (Escócia).
"O fato de não se poder dizer em pirahã "A canoa do irmão de João", por exemplo, existe em alemão. Everett diz que esse fato em pirahã se deve à cultura extremamente limitada, mas os alemães não têm essa limitação cultural. Eles navegam na internet. Então, o fato em alemão não se deve à cultura."

Sem elaboração
Rodrigues afirma que Everett "não tem uma teoria e sim uma hipótese", que padece de uma "falta de elaboração teórica". "A experiência imediata, para nós, é uma forma que ele encontrou de colocar todas as observações que ele acha interessantes no mesmo saco. Isso é cientificamente frágil", disparou. "E, se fosse assim, por que a limitação cultural só influencia a linguagem e não outras partes do sistema cognitivo, como a visão?" -questiona.
Everett publicou no mesmo Lingbuzz uma resposta a Rodrigues e colegas, a quem chama de "lingüistas de gabinete". Também os acusa de ter usado seus escritos de 20 anos atrás para refutar sua tese.
"Não há evidência em pirahã de recursividade", disse Everett à Folha, por e-mail, num português perfeito. "Além do mais, o Chomsky nem define bem o que ele quer dizer com isso -muito menos o Fitch, que foi comigo para a aldeia.
Everett, que tem visto de residente permanente no Brasil, diz que sempre pesquisa com autorização "do delegado da Funai de Porto Velho" e que sempre estimula, não impede, que outros visitem a área. "No entanto, os pirahãs quase não falam português e eu sou o único pesquisador secular que já aprendeu a língua deles."
Tecumseh Fitch diz que a questão ainda está aberta. "[Mas] é um truísmo que a cultura molda a linguagem. É por isso que o brasileiro tem a palavra "samba" e escocês tem a palavra "haggis". E daí? As implicações disso para a Gramática Universal são nulas." Ele continua: "Everett, como muitos críticos de Chomsky, tem uma concepção própria da Gramática Universal, contra a qual ele se bate". Mas seus dados "são tão convincentes quanto a falta de evidência pode ser -ou seja, não muito". (CA)

NA INTERNET - Leia os artigos de


Nevins e colegas e a resposta de Everett (em inglês)
http://ling.auf.net/lingbuzz/@FMOHZRLOElguQmMB/VKSrtjhf?230



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