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Alunos terão de devolver parte de bolsa da Capes
Repasse com reajuste de 20% foi feito por engano a pesquisadores da Unicamp
Estudantes estão irritados com confusão; universidade diz que errou valor porque governo federal descumpriu sua promessa de aumento
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma confusão em relação ao
reajuste de bolsas de pós-graduação da Capes (Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior) obrigará
600 pesquisadores da Unicamp
a devolver parte do dinheiro recebido pelo mês de março.
O governo havia anunciado
que as bolsas da Capes e do
CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e
Tecnológico) seriam reajustadas em 1º de março. Entretanto, as duas agências de fomento
afirmam agora que a data de
reajuste está indefinida.
Alunos da Unicamp (Universidade Estadual Paulista), porém, chegaram a receber a bolsa com reajuste. As bolsas hoje
são de R$ 940 (mestrado) e R$
1.394 (doutorado). Com o aumento de 20% prometido, elas
passariam para R$ 1.130 e R$
1.620, respectivamente.
"É um absurdo essa bagunça.
Recebemos um e-mail uma semana após receber a bolsa avisando que teríamos que devolver o valor que veio a mais. Mas
a bolsa já é muito baixa e o custo de vida em Campinas, alto",
afirma a doutoranda de política
científica e tecnológica da Unicamp Rebeca Buzzo Fertrin.
O anúncio do reajuste, feito
em novembro do ano passado
pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, incentivou a estudante a deixar um emprego na
Caixa Econômica Federal e a
tentar uma bolsa.
Sua colega, Josimara Martins
Dias, 26, também ficou irritada
com o problema. "Eles anunciam o aumento, concedem a
bolsa com reajuste e, agora,
querem o dinheiro de volta?
Estamos nos sentindo injustiçados", afirma.
Segundo ela, ser pesquisador
no Brasil, nas condições atuais,
é uma "profissão de fé". "Partem do pressuposto de que o
pesquisador tem condição de
se manter por conta própria, o
que não é verdade. O valor não
é nada motivador", diz.
Um e-mail da Secretaria de
Pós-Graduação da Unicamp
enviado aos alunos na quinta-feira passada informa que as
bolsas com reajuste de 20% foram pagas "indevidamente".
"Ocorreu um problema na Capes (que não sabemos detalhes). O valor pago a mais será
descontado em folha de pagamento. Em breve, provavelmente na segunda-feira [anteontem], a Pró-Reitoria de Pós-Graduação vai informar
qual será a forma de desconto",
diz o texto da universidade.
Marcel Esteves, mestrando
em geografia, aguarda a decisão. Para ele, a redução da bolsa
no próximo mês para compensar o valor pago a mais pode ser
interpretada como irregularidade. "Há uma instrução normativa que garante o valor das
bolsas definido pelo governo.
Então, dependendo da interpretação jurídica, pode ser irregular reduzir de R$ 940 para R$
740, por exemplo", afirmou.
Outro lado
Procurada, a Capes afirmou
que o erro foi cometido pela
Unicamp e que, até agora, não
repassou o valor das bolsas com
reajuste para as universidades.
Em seu site na internet, a Capes diz que o aumento no valor
das bolsas "ainda não pode ser
concretizado em razão de circunstâncias ocorridas ao longo
da tramitação do Orçamento
geral da União".
A pró-reitora de pós-graduação da Unicamp, Teresa Atvars,
admitiu o problema e afirmou,
por meio da assessoria de imprensa, que a universidade estuda uma forma de compensação que tenha o menor impacto
possível na vida dos estudantes.
Ela disse ainda que a Unicamp tem a tradição de pagar a
bolsa no quinto dia útil do mês,
mesmo que a Capes atrase, "o
que ocorre freqüentemente".
"O reajuste havia sido anunciado. A Unicamp pagou, como
sempre faz, mas a Capes e o governo descumpriram o que haviam prometido", disse.
Esse seria o terceiro reajuste
concedido pelo governo federal
desde 2004 -até então, o valor
estava congelado.
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