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Estudo revela maior bactéria conhecida
MARCELO LEITE
especial para a Folha
As bactérias não cansam de surpreender o homem. Agora apareceu uma tamanho família, no fundo do mar, visível a olho nu. Com
quase um milímetro de diâmetro,
a Thiomargarita namibiensis tem
volume cem vezes maior que o das
maiores bactérias conhecidas.
A esquisitice da nova bactéria
não se resume às dimensões avantajadas. Por se alimentar de substâncias consideradas poluentes
(sulfetos e nitratos), já se considera
a hipótese de empregá-la para
"limpar" regiões costeiras.
Como sugere o segundo nome (o
da espécie), ela foi encontrada na
costa da Namíbia, sul da África.
Sua descobridora é Heide Schultz,
estudante de doutorado alemã
(leia texto abaixo). O artigo sai na
revista "Science" de hoje.
O primeiro nome, sempre com
inicial maiúscula, designa o gênero
do organismo. No caso, significa
"pérola de enxofre". Schultz batizou-a assim porque seus depósitos
de enxofre (usado no lugar de oxigênio para "queimar" alimentos)
dão-lhe um brilho esbranquiçado.
A analogia com pérolas não pára
aí. Segundo a cientista alemã, é comum encontrar até uma dúzia de
células esféricas enfileiradas, mantidas juntas por uma bainha de
muco, como num colar.
Não foi por acaso que Schultz
descobriu a Thiomargarita, mas
quase. Ela foi à Namíbia em busca
de outras duas bactérias aparentadas, Thioploca ("trança de enxofre") e Beggiatoa (homenagem ao
microbiologista italiano Beggiato,
seu descobridor).
Ao examinar o lodo colhido a
cem metros de profundidade,
Schultz deu com as esferas brilhantes. Foi tomada pela surpresa,
como contou por e-mail à Folha.
Convencendo os colegas
"Sabia que estava olhando para
uma bactéria de enxofre, mas obviamente aquelas eram muito
maiores. Achei que não estavam
descritas, porque certamente as
conheceria. Fiquei excitada, mas
precisei de algum tempo para convencer meus colegas de que aquilo
era realmente uma bactéria."
Não parecia, de fato. A Thiomargarita tem 98% de seu espaço interno ocupado por um saco central (vacúolo) de nitrato. O corpo
da célula, seu citoplasma, fica
comprimido entre o vacúolo e a
membrana externa.
Como as primas Thioploca e
Beggiatoa, também tem bolinhas
(glóbulos) de enxofre, que lhe empresta o brilho característico. Ao
contrário delas, porém, a Thiomargarita não consegue se mover
por conta própria.
As outras duas deslizam pela
água e pelo lodo, quando começa a
faltar um de seus nutrientes básicos. A parente gigante depende do
mar turbulento da Namíbia, que
de tempos em tempos revolve o
fundo, liberando as substâncias.
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