São Paulo, Sexta-feira, 16 de Abril de 1999
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Estudo revela maior bactéria conhecida

MARCELO LEITE
especial para a Folha

As bactérias não cansam de surpreender o homem. Agora apareceu uma tamanho família, no fundo do mar, visível a olho nu. Com quase um milímetro de diâmetro, a Thiomargarita namibiensis tem volume cem vezes maior que o das maiores bactérias conhecidas.
A esquisitice da nova bactéria não se resume às dimensões avantajadas. Por se alimentar de substâncias consideradas poluentes (sulfetos e nitratos), já se considera a hipótese de empregá-la para "limpar" regiões costeiras.
Como sugere o segundo nome (o da espécie), ela foi encontrada na costa da Namíbia, sul da África. Sua descobridora é Heide Schultz, estudante de doutorado alemã (leia texto abaixo). O artigo sai na revista "Science" de hoje.
O primeiro nome, sempre com inicial maiúscula, designa o gênero do organismo. No caso, significa "pérola de enxofre". Schultz batizou-a assim porque seus depósitos de enxofre (usado no lugar de oxigênio para "queimar" alimentos) dão-lhe um brilho esbranquiçado.
A analogia com pérolas não pára aí. Segundo a cientista alemã, é comum encontrar até uma dúzia de células esféricas enfileiradas, mantidas juntas por uma bainha de muco, como num colar.
Não foi por acaso que Schultz descobriu a Thiomargarita, mas quase. Ela foi à Namíbia em busca de outras duas bactérias aparentadas, Thioploca ("trança de enxofre") e Beggiatoa (homenagem ao microbiologista italiano Beggiato, seu descobridor).
Ao examinar o lodo colhido a cem metros de profundidade, Schultz deu com as esferas brilhantes. Foi tomada pela surpresa, como contou por e-mail à Folha.

Convencendo os colegas
"Sabia que estava olhando para uma bactéria de enxofre, mas obviamente aquelas eram muito maiores. Achei que não estavam descritas, porque certamente as conheceria. Fiquei excitada, mas precisei de algum tempo para convencer meus colegas de que aquilo era realmente uma bactéria."
Não parecia, de fato. A Thiomargarita tem 98% de seu espaço interno ocupado por um saco central (vacúolo) de nitrato. O corpo da célula, seu citoplasma, fica comprimido entre o vacúolo e a membrana externa.
Como as primas Thioploca e Beggiatoa, também tem bolinhas (glóbulos) de enxofre, que lhe empresta o brilho característico. Ao contrário delas, porém, a Thiomargarita não consegue se mover por conta própria.
As outras duas deslizam pela água e pelo lodo, quando começa a faltar um de seus nutrientes básicos. A parente gigante depende do mar turbulento da Namíbia, que de tempos em tempos revolve o fundo, liberando as substâncias.


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