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MEDICINA
Substância que impede formação de aglomerados de proteínas será testada em humanos nas próximas semanas
Nova droga destrói placas de Alzheimer
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Utilizando um novo medicamento, uma equipe de cientistas
liderada pelo britânico Mark
Pepys conseguiu diminuir o acúmulo de proteínas que causa
doenças como o mal de Alzheimer e o diabetes tipo 2.
A descoberta abre a possibilidade de um novo tratamento para
essas doenças degenerativas. Segundo declarou à Folha Pepys, da
Royal Free and University College
Medical School, de Londres, nas
próximas semanas a droga começará a ser testada contra a doença
de Alzheimer, "num pequeno estudo de alguns poucos pacientes".
O trabalho, publicado na edição
de hoje da revista científica "Nature" (www.nature.com), mostrou bons resultados no tratamento de uma doença semelhante, a amiloidose.
Essa doença consiste no depósito anormal em órgãos e tecidos do
corpo de uma substância protéica
insolúvel, a amilóide, que resulta
de defeitos em uma proteína normal do sangue chamada SAP.
"Tenho trabalhado com a SAP
do sangue desde 75 e descobri em
97 a razão pela qual ela gruda nos
depósitos amilóides", diz Pepys.
Outra descoberta importante
dele ocorreu em 1984, quando ele
identificou o primeiro material
quimicamente definido que era
reconhecido pela SAP. "Mostrei
que essa pequena molécula poderia remover a SAP dos depósitos
amilóides em tecidos removidos
do corpo", afirma o pesquisador.
Sem interesse
Apesar de Pepys ter sugerido
então que essa molécula poderia
servir de base a um tratamento da
amiloidose, "as indústrias farmacêuticas não mostraram interesse
em desenvolver um tratamento
para essa doença algo rara".
Para surgir o interesse foi preciso que nos anos 90 se conhecesse
melhor a relação da substância
amilóide no cérebro e o desenvolvimento da doença de Alzheimer,
uma doença mais comum. Pepys
pôde então convencer a companhia Hoffman-La Roche a colaborar na descoberta da droga que
agora é anunciada na "Nature".
A droga já está sendo usada para tratar pacientes com amiloidose. Analisando a descoberta em
um artigo na mesma edição da revista científica, Leslie Iversen, do
King's College de Londres, afirmou que o uso da droga tem potencial para tratamento dos distúrbios de amilóide, e, possivelmente, do mal de Alzheimer.
Apesar de a proteína SAP ser
um componente normal do sangue, a diminuição dos seus níveis
trazida pela droga nos pacientes
não apresentou efeitos colaterais.
Segundo outros estudos recentes, as modificações nas proteínas
e o acúmulo de depósitos amilóides pode acontecer lentamente,
até mesmo dez a 20 anos antes de
aparecerem sintomas de doença.
Mas o fato de esses depósitos estarem sendo vistos agora como
uma causa e não consequência da
doença pode tornar o novo tratamento algo de fato eficaz.
A União Européia também deu
uma nova esperança aos portadores do mal de Alzheimer ontem,
ao apresentar seu orçamento
científico para os próximos cinco
anos. Pela primeira vez, uma parcela dos recursos -que são de
US$ 15,9 bilhões- será destinada
à pesquisa com células-tronco.
Esse tipo de célula, capaz de se
transformar em virtualmente
qualquer tecido do organismo, é
uma promessa no tratamento de
doenças degenerativas, como o
Alzheimer. Seu uso ainda é polêmico em alguns países.
Com agências internacionais
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