São Paulo, quinta-feira, 16 de maio de 2002

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MEDICINA

Substância que impede formação de aglomerados de proteínas será testada em humanos nas próximas semanas

Nova droga destrói placas de Alzheimer

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Utilizando um novo medicamento, uma equipe de cientistas liderada pelo britânico Mark Pepys conseguiu diminuir o acúmulo de proteínas que causa doenças como o mal de Alzheimer e o diabetes tipo 2.
A descoberta abre a possibilidade de um novo tratamento para essas doenças degenerativas. Segundo declarou à Folha Pepys, da Royal Free and University College Medical School, de Londres, nas próximas semanas a droga começará a ser testada contra a doença de Alzheimer, "num pequeno estudo de alguns poucos pacientes".
O trabalho, publicado na edição de hoje da revista científica "Nature" (www.nature.com), mostrou bons resultados no tratamento de uma doença semelhante, a amiloidose.
Essa doença consiste no depósito anormal em órgãos e tecidos do corpo de uma substância protéica insolúvel, a amilóide, que resulta de defeitos em uma proteína normal do sangue chamada SAP.
"Tenho trabalhado com a SAP do sangue desde 75 e descobri em 97 a razão pela qual ela gruda nos depósitos amilóides", diz Pepys.
Outra descoberta importante dele ocorreu em 1984, quando ele identificou o primeiro material quimicamente definido que era reconhecido pela SAP. "Mostrei que essa pequena molécula poderia remover a SAP dos depósitos amilóides em tecidos removidos do corpo", afirma o pesquisador.

Sem interesse
Apesar de Pepys ter sugerido então que essa molécula poderia servir de base a um tratamento da amiloidose, "as indústrias farmacêuticas não mostraram interesse em desenvolver um tratamento para essa doença algo rara".
Para surgir o interesse foi preciso que nos anos 90 se conhecesse melhor a relação da substância amilóide no cérebro e o desenvolvimento da doença de Alzheimer, uma doença mais comum. Pepys pôde então convencer a companhia Hoffman-La Roche a colaborar na descoberta da droga que agora é anunciada na "Nature".
A droga já está sendo usada para tratar pacientes com amiloidose. Analisando a descoberta em um artigo na mesma edição da revista científica, Leslie Iversen, do King's College de Londres, afirmou que o uso da droga tem potencial para tratamento dos distúrbios de amilóide, e, possivelmente, do mal de Alzheimer.
Apesar de a proteína SAP ser um componente normal do sangue, a diminuição dos seus níveis trazida pela droga nos pacientes não apresentou efeitos colaterais.
Segundo outros estudos recentes, as modificações nas proteínas e o acúmulo de depósitos amilóides pode acontecer lentamente, até mesmo dez a 20 anos antes de aparecerem sintomas de doença.
Mas o fato de esses depósitos estarem sendo vistos agora como uma causa e não consequência da doença pode tornar o novo tratamento algo de fato eficaz.
A União Européia também deu uma nova esperança aos portadores do mal de Alzheimer ontem, ao apresentar seu orçamento científico para os próximos cinco anos. Pela primeira vez, uma parcela dos recursos -que são de US$ 15,9 bilhões- será destinada à pesquisa com células-tronco.
Esse tipo de célula, capaz de se transformar em virtualmente qualquer tecido do organismo, é uma promessa no tratamento de doenças degenerativas, como o Alzheimer. Seu uso ainda é polêmico em alguns países.


Com agências internacionais

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