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Carismático, o cascudo-zebra
pode virar "sopa", diz cientista
DA REPORTAGEM LOCAL
Flávio Lima, do Museu de
Zoologia, chama o bicho de "pequena celebridade" e "mico-leão-dourado dos cascudos";
Paulo Buckup, do Museu Nacional, lembra que já viu aquaristas europeus pagarem US$
100 por um exemplar.
A valorização do cascudo-zebra (Hypancistrus zebra; veja
foto acima, à dir.) tem seu lado
negro: de tanto ser coletado para virar bicho de estimação, o
animal se tornou ameaçado antes que o projeto de Belo Monte decolasse. "Esse tipo de coleta movimenta a economia da
região", diz Buckup.
Muitos outros cascudos habitam as regiões de corredeiras, os chamados pedrais, nas
bacias do Xingu e do Tapajós,
essa também sob risco de ser
afetada por grandes empreendimentos hidrelétricos.
Buckup calcula em algumas
centenas as espécies desconhecidas nesse tipo de ambiente
nas duas bacias. "Áreas de corredeiras são conhecidas por
apresentar uma fauna muito
característica e diferente da
que ocorre em ambientes mais
lentos", diz Leandro Melo de
Sousa, doutorando do Museu
de Zoologia da USP.
Além dos cascudos, há os
chamados canivetes, que gostam do fundo de pedras, peixes
elétricos e bagres de hábitos
noturnos. "Os animais têm
adaptações para ambientes de
alta energia, como órgãos adesivos, corpo achatado e nadadeiras estendidas", conta Lima.
São essas adaptações que
tornam os bichos incapazes de
sobreviver com a criação de
uma barragem. Na parte coberta pelo lago da usina, o fundo se
torna inóspito, pouco oxigenado. O lago de Belo Monte será
relativamente pequeno, mas o
problema, temem os ictiólogos,
será a diminuição da vazão da
água em certas épocas do ano.
"A água já é quente. Vai ficar
ainda mais quente e muito rasa. Aquilo vai ser uma sopa de
cascudo", compara Lima.
(RJL)
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