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POLÍTICA CIENTÍFICA
Rede paulista começa a funcionar com equipamento emprestado; no Rio, falta verba para insumos
Dólar alto faz projeto proteoma empacar
CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA
A alta do dólar está atrapalhando a realização de projetos proteoma no país. Em São Paulo, a
implantação da rede de proteômica está atrasada devido à falta
de dinheiro para compra de equipamento. No Rio, onde a rede já
existe, falta verba para comprar
reagentes e mantê-la operando.
A rede paulista, financiada pela
Fapesp (Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo),
deve começar a funcionar nas
próximas semanas. A idéia original era ter convocado nove laboratórios em julho, por meio de
edital. Mas apenas um começará a
fazer o trabalho.
Ele será instalado no LNLS (Laboratório Nacional de Luz Síncrotron), em Campinas, e funcionará
com equipamentos cedidos temporariamente, para demonstração, pelas empresas Micromass
(britânica) e Applied Biosystems
(americana).
Com a suspensão das importações de equipamentos pela Fapesp, determinada em setembro
devido à alta do dólar, a compra
dos espectrômetros de massa para o proteoma não pôde ser realizada. Cada equipamento custa de
US$ 500 mil a US$ 800 mil.
Segundo Rogério Meneghini,
coordenador da Rede de Biologia
Molecular Estrutural da Fapesp,
após várias reuniões com representantes das empresas, decidiu-se que dois espectrômetros e uma
máquina preparadora de amostras virão "a custo zero" para o laboratório, em esquema de empréstimo, por seis meses.
A expectativa da fundação é
que, nesse período, as incertezas
sobre o câmbio estejam resolvidas
e que a Fapesp possa lançar um
edital convocando os laboratórios
interessados no proteoma.
Segundo o coordenador da rede
paulista, Carlos Bloch Jr., da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), os equipamentos chegam ao Brasil na próxima segunda-feira.
A rede fluminense, formada por
cinco laboratórios, saiu na frente
da paulista, mas enfrenta agora o
"day after": conseguiu comprar
os espectrômetros antes da desvalorização do real e começar a pesquisa, só que, agora, não tem dinheiro para adquirir gel de eletroforese bidimensional, insumo necessário para a análise molecular.
"É como se você fosse pintar
uma parede e tivesse comprado as
broxas, mas não tivesse tinta",
compara o biólogo Elias Walter
Alves, da Uenf (Universidade Estadual do Norte Fluminense), um
dos coordenadores da rede.
Como o material é perecível, ele
não pode ser comprado em grande quantidade. Os pesquisadores
do Rio têm estoque para mais
dois ou três meses e, segundo Alves, não há perspectiva imediata
de novas compras. Para piorar, as
verbas para pesquisa no Estado
estão congeladas.
"Estamos atrasados, mas tocando [o projeto]", afirma Alves. "O
que nos preocupa não é o dia de
hoje, mas o amanhã."
Próximo passo
O proteoma, estudo das interações entre todas as proteínas que
compõem um organismo, é o
passo lógico seguinte ao sequenciamento do genoma (o conjunto
dos genes). Isso porque as proteínas, codificadas nos genes, são as
moléculas que efetivamente fazem tudo num ser vivo. Enquanto
o genoma fornece o manual de
instruções para a produção de um
animal ou planta, com a análise
do proteoma é possível saber como essas instruções são executadas nas diferentes fases da vida.
Os espectrômetros de massa
servem para medir o peso de moléculas. As técnicas que permitiram seu uso para estudar proteínas renderam o Nobel de Química de 2002 para o americano John
Fenn e o japonês Koichi Tanaka.
São equipamentos elaborados,
que carregam eletricamente as
proteínas e as forçam a atravessar
um campo de vácuo. Quanto
mais leve, menor o chamado
"tempo de vôo" de uma proteína
na câmara. Tal informação, combinada à da carga, permite determinar a "assinatura" da molécula.
A rede paulista de proteômica
trabalharia com organismos que
já tiveram seu DNA sequenciado
pelos projetos genoma financiados pela Fapesp. A Folha apurou
que a diretoria do órgão de fomento paulista está apostando no
proteoma para obter respostas
práticas sobre o funcionamento
desses organismos, como a bactéria Xylella fastidiosa, causadora
da doença do amarelinho, que
afeta os laranjais do Estado.
A estréia no proteoma será com
a bactéria Xanthomonas, agente
do cancro cítrico, e com o café, cujo genoma está sendo sequenciado em parceria com a Embrapa.
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