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CÉLULAS-TRONCO
Projeto que levanta proibição de pesquisa com embrião é bem recebido, mas bioeticista recomenda cautela
Cientistas aprovam mudança em projeto
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Para cientistas brasileiros, a alteração no projeto de lei sobre
biossegurança que elimina a proibição de usar embriões humanos
em pesquisa é um avanço no
combate a várias doenças, em especial as de origem genética, com
o uso das células-tronco embrionárias. Mas ao menos um bioeticista pede prudência e diz temer o
que isso possa acarretar para o
status jurídico dos embriões.
No novo texto para a lei, o substitutivo do deputado Aldo Rebelo
(PC do B-SP), relator do projeto,
foi retirado o inciso IV do artigo
8º da atual Lei de Biossegurança,
segundo o qual é vedada "a produção, armazenamento ou manipulação de embriões humanos
destinados a servir como material
biológico disponível".
A Folha adiantou ontem a mudança defendida por Rabelo. Se
aprovada no Congresso, permitiria as pesquisas com células-tronco embrionárias. Elas são encontradas em embriões de poucos
dias de vida e são verdadeiros curingas biológicos, podendo assumir a forma de qualquer tecido do
organismo. Sua obtenção, porém,
exige a destruição do embrião do
qual são retiradas, o que levanta
dúvidas éticas sobre o seu uso.
Para o médico Ricardo Ribeiro
dos Santos, que estuda células-tronco adultas (retiradas da medula óssea), os benefícios da técnica justificam o procedimento.
"As clínicas de fertilização in vitro
produzem muitos embriões que
nunca vão ser usados. Entre jogá-los na lata do lixo e usá-los para
terapia, você não tem o que fazer,
a escolha é óbvia", afirma.
O uso das células-tronco embrionárias poderia ter papel importante em doenças de origem
genética, nas quais células-tronco
adultas do próprio doente não teriam efeito por ter o mesmo DNA,
avalia Ribeiro dos Santos.
"Eu acho que é um superavanço", diz Lygia da Veiga Pereira,
pesquisadora do Instituto de Biociências da USP. "É muito importante que haja permissão para que
trabalhemos com células-tronco
embrionárias."
Segundo a bióloga, a autorização daria ao Brasil vantagem
competitiva no cenário científico
internacional. "Nós, por exemplo,
no nosso laboratório, já trabalhamos com células-tronco embrionárias de camundongo. Caso fosse permitido, poderíamos começar a trabalhar com células humanas imediatamente."
Para o bioeticista e padre Leo
Pessini, do Centro Universitário
São Camilo, em São Paulo, o projeto de lei mostra que, "no fundo,
são irreconciliáveis" as visões de
mundo de grande parte dos cientistas e das pessoas que defendem
os embriões.
"Numa linha utilitarista, você
pode até dizer que tudo pode.
Mas, se formos mais prudentes,
podemos perceber que o embrião
não é uma coisa e não pode ser
tratado como coisa", afirma. Pessini defendeu o aprofundamento
das pesquisas com células-tronco
adultas e criticou o projeto: "Toda
legislação que enfraqueça a proteção ao embrião humano é perigosa e deveria ser evitada".
A bióloga Mayana Zatz, da USP,
disse que "só poderia dar os parabéns" à proposta de Rebelo. "O
potencial de tratamento para inúmeras doenças neuromusculares,
o diabetes e o mal de Parkinson é
gigantesco", diz Zatz.
A pesquisadora disse que comitês de ética podem estabelecer limites aceitáveis para a pesquisa
na área e que um caminho seria o
uso de embriões de clínicas de fertilização que já não podem gerar
uma gravidez, mas ainda são capazes de ser fonte de células-tronco. Para Zatz, a técnica não precisa estar acoplada à clonagem terapêutica, que usaria um embrião
clonado do doente.
(REINALDO JOSÉ LOPES)
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