São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

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PALEONTOLOGIA

Criatura conviveu com os dinossauros há 70 milhões de anos; fóssil foi desenterrado em Uberaba (MG)

Grupo apresenta paleocrocodilo mineiro

LIGIA DINIZ
DA SUCURSAL DO RIO

Foi apresentado ontem no Rio o crânio de um crocodilomorfo -réptil com características ósseas semelhantes às dos atuais crocodilos- de 70 milhões de anos. Descoberto em 2000, na região de Uberaba (MG), o fóssil é um dos mais bem conservados encontrados no país, com cerca de 70% do esqueleto preservado.
Batizado de Uberabasuchus terrificus -ou "terrível crocodilo de Uberaba"-, o réptil tinha características de predador, media entre 2,5 m e 3 m de comprimento e pesava até 300 kg. Ele comia dinossauros jovens e animais menores. Além disso, tinha os membros verticalizados e longos, o que o tornava capaz de se deslocar por centenas de quilômetros.
O crocodilomorfo tem como parente mais próximo uma espécie encontrada na ilha africana de Madagascar, o que poderá comprovar uma ligação da América do Sul com a África, passando pela Antártida, no Período Cretáceo (144-65 milhões de anos). Na época do U. terrificus, o oceano já separava África e América.
"Sua semelhança com o Mahajangasuchus insignis [crocodilomorfo de Madagascar] pode comprovar a existência de uma ponte que passava pela Antártida, que nessa época tinha condições climáticas semelhantes às da América", explica Ismar de Souza Carvalho, do Departamento de Paleontologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio), um dos coordenadores das escavações e pesquisas sobre o fóssil.
O diretor do Centro de Pesquisas Paleontológicas Llewellyn Ivor Price, em Uberaba, Luiz Carlos Borges Ribeiro, que também coordenou o trabalho, diz que o réptil mineiro viveu pouco antes da extinção dos dinossauros.
Segundo Borges, o animal foi encontrado após cinco anos de escavações na região de Peirópolis, em Uberaba. "É um achado único no planeta, um marco para a paleontologia brasileira."
Terceiro coordenador do estudo -publicado no fim de 2004, na revista científica "Gondwana Research"-, o paleontólogo da UFRJ Leonardo dos Santos Avilla diz que nos últimos cinco anos foram achados apenas fragmentos de crocodilomorfos no Brasil.
"Esse é o primeiro encontrado com a articulação completa dos ossos", diz. Avilla explica que, por sua cabeça, é possível dizer que o U. terrificus era terrestre. "Ele tinha as narinas na frente e os olhos nas laterais." As características impossibilitariam a vida na água: o réptil se afogaria, ao contrário dos crocodilos de hoje, que têm narinas e olhos no alto da cabeça.
Ismar Carvalho explica que não há parentesco entre o crocodilomorfo e os crocodilos atuais. Ele diz, no entanto, que a descoberta possibilitou a classificação dos crocodilomorfos de Gondwana em 12 novos grupos -só cinco já haviam sido organizados.
O esqueleto completo do crocodilomorfo e a reprodução do animal estarão expostos a partir do dia 25 deste mês no Museu dos Dinossauros, em Peirópolis.


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