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PALEONTOLOGIA
Criatura conviveu com os dinossauros há 70 milhões de anos; fóssil foi desenterrado em Uberaba (MG)
Grupo apresenta paleocrocodilo mineiro
LIGIA DINIZ
DA SUCURSAL DO RIO
Foi apresentado ontem no Rio o
crânio de um crocodilomorfo
-réptil com características ósseas semelhantes às dos atuais
crocodilos- de 70 milhões de
anos. Descoberto em 2000, na região de Uberaba (MG), o fóssil é
um dos mais bem conservados
encontrados no país, com cerca
de 70% do esqueleto preservado.
Batizado de Uberabasuchus terrificus -ou "terrível crocodilo de
Uberaba"-, o réptil tinha características de predador, media entre 2,5 m e 3 m de comprimento e
pesava até 300 kg. Ele comia dinossauros jovens e animais menores. Além disso, tinha os membros verticalizados e longos, o
que o tornava capaz de se deslocar por centenas de quilômetros.
O crocodilomorfo tem como
parente mais próximo uma espécie encontrada na ilha africana de
Madagascar, o que poderá comprovar uma ligação da América
do Sul com a África, passando pela Antártida, no Período Cretáceo
(144-65 milhões de anos). Na época do U. terrificus, o oceano já separava África e América.
"Sua semelhança com o Mahajangasuchus insignis [crocodilomorfo de Madagascar] pode
comprovar a existência de uma
ponte que passava pela Antártida,
que nessa época tinha condições
climáticas semelhantes às da
América", explica Ismar de Souza
Carvalho, do Departamento de
Paleontologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio), um dos
coordenadores das escavações e
pesquisas sobre o fóssil.
O diretor do Centro de Pesquisas Paleontológicas Llewellyn
Ivor Price, em Uberaba, Luiz Carlos Borges Ribeiro, que também
coordenou o trabalho, diz que o
réptil mineiro viveu pouco antes
da extinção dos dinossauros.
Segundo Borges, o animal foi
encontrado após cinco anos de
escavações na região de Peirópolis, em Uberaba. "É um achado
único no planeta, um marco para
a paleontologia brasileira."
Terceiro coordenador do estudo -publicado no fim de 2004,
na revista científica "Gondwana
Research"-, o paleontólogo da
UFRJ Leonardo dos Santos Avilla
diz que nos últimos cinco anos foram achados apenas fragmentos
de crocodilomorfos no Brasil.
"Esse é o primeiro encontrado
com a articulação completa dos
ossos", diz. Avilla explica que, por
sua cabeça, é possível dizer que o
U. terrificus era terrestre. "Ele tinha as narinas na frente e os olhos
nas laterais." As características
impossibilitariam a vida na água:
o réptil se afogaria, ao contrário
dos crocodilos de hoje, que têm
narinas e olhos no alto da cabeça.
Ismar Carvalho explica que não
há parentesco entre o crocodilomorfo e os crocodilos atuais. Ele
diz, no entanto, que a descoberta
possibilitou a classificação dos
crocodilomorfos de Gondwana
em 12 novos grupos -só cinco já
haviam sido organizados.
O esqueleto completo do crocodilomorfo e a reprodução do animal estarão expostos a partir do
dia 25 deste mês no Museu dos
Dinossauros, em Peirópolis.
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