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Malária pode ter matado Tutancâmon, sugere DNA
Infecção teria tornado fatal uma fratura na perna do rei; homicídio é descartado
Análise publicada por grupo
internacional revela que
faraó adolescente tinha vários problemas de saúde
e esclarece sua genealogia
Associated Press - 05.jan.05
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Oarqueólogo Zahi Hawass (centro), chefe do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito, examina múmia de Tutancâmon
DA REDAÇÃO
Nem queda de biga, nem golpe na cabeça, nem envenenamento encomendado. Tutancâmon, o mais famoso soberano do Egito antigo, morreu provavelmente de complicações de
uma fratura no fêmur e de uma
infecção grave por malária.
A conclusão é da análise patológica mais completa já feita
na múmia do jovem faraó, publicada hoje por pesquisadores
do Egito, da Alemanha e da Itália na revista médica "Jama".
Durante dois anos, o grupo
fez análises de DNA, tomografias computadorizadas e medições exaustivas em Tutancâmon e outras 15 múmias. Destas, dez eram aparentadas com
o rei-menino, morto em 1324
a.C. aos 19 anos.
Zahi Hawass, o onipresente
chefe do Conselho de Antiguidades do Egito e líder da pesquisa, diz que os novos dados
permitem descartar a hipótese
de que Tutancâmon tenha sido
assassinado a mando de seu vizir, Aye -que queria tomar-lhe
a mulher, Anquesenâmon.
"Uma fratura repentina na
perna, possivelmente causada
por uma queda, pode ter resultado em um estado potencialmente fatal, quando uma infecção por malária ocorreu", escreveram Hawass e colegas.
Ossos frágeis
A julgar pelo estado de seu
esqueleto, Tutancâmon era o
candidato perfeito a uma fratura séria. O estudo revelou que o
faraó tinha uma série de deformações nos ossos e uma doença
rara semelhante à artrite.
Tomografias de seu pé esquerdo mostraram mais problemas: o pé era virado para
dentro, um dos dedos tinha
uma falange a menos e alguns
ossos tinham sinal de necrose.
Os pesquisadores atribuem
esta última à síndrome de Köhler, uma doença dolorosa na
qual a interrupção do fluxo sanguíneo destrói os ossos. Tutancâmon precisava andar apoiado
em uma bengala, o que possivelmente explica por que 130
desses objetos (alguns com sinais de uso) foram achados em
sua tumba. "A doença ainda estava ocorrendo no momento da
morte", afirma o grupo.
Todos esses problemas eram
provavelmente hereditários,
decorrentes da má constituição
genética do rei-menino. A linhagem de Tutancâmon era repleta de casamentos consanguíneos, algo rotineiro entre os
faraós e causa conhecida de
propagação de doenças genéticas. Os exames de DNA revelaram que o próprio Tutancâmon
era produto de incesto, do casamento do faraó Aquenáton
com uma de suas irmãs.
A identidade da mãe do faraó
permanece incerta. Pode ser
que se trate da rainha Nefertiti,
mas os arqueólogos preferem
chamá-la de KV35YL (sigla para "mulher jovem da tumba 35
do Vale dos Reis).
Dois fetos de meninas de cinco e sete meses foram confirmados como as filhas nascidas
mortas do rei. Mas a mãe das
meninas tampouco pôde ser
identificada com certeza como
Anquesenâmon. Por ora, a mulher de Tutancâmon fica registrada apenas como KV21A.
Uma das surpresas da análise
genética foi que tanto Tutancâmon quanto outras múmias da
família tinham em seu sangue
genes do Plasmodium falciparum, protozoário causador da
malária na África. "Até onde sabemos, esta é a mais antiga evidência genética de malária numa múmia com datação precisa", afirmam os cientistas.
O faraó e seu bisavô, Yuya, tinham inclusive sinais de múltiplas infecções (a diversidade de
genes de plasmódio no sangue
dos dois era mais alta). Segundo os autores, Tutancâmon poderia até mesmo ter sofrido da
forma mais grave da doença. Isso explicaria também a quantidade de plantas medicinais encontradas na tumba -chamadas de "farmácia além-túmulo"
pelos pesquisadores.
A infecção, agindo sobre um
corpo já tão fragilizado, teria liquidado o monarca.
Visão de artista
Apesar de terem detectado
tantas moléstias, os cientistas
também desfizeram um mito
médico sobre Tutancâmon e
sua família. Como os faraós de
Aquenáton em diante eram representados sempre de forma
afeminada em obras de arte, especulou-se que eles sofressem
de síndrome de Marfan, outra
doença genética que produz
seios em homens e ossos alongados. Nenhum sinal da doença
foi encontrado nas múmias. A
bizarrice artística provavelmente resultava apenas de um
decreto de Aquenáton sobre
como retratar os reis.
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