São Paulo, sexta-feira, 17 de março de 2000


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MEDICINA
Cientistas dos EUA desenvolvem processo que pode identificar doença na saliva e urina de pacientes
Técnica facilita detecção do câncer

GABRIELA SCHEINBERG
da Reportagem Local

O combate contra o câncer ganhou novas armas: exames que usam amostras de saliva, urina e escarro, o que evita a necessidade de injeções ou cirurgias, como biopsias (retirada de tecido do tumor para análise).
O estudo, feito pela Universidade Johns Hopkins, dos EUA, dá um passo significativo naquela que é hoje a principal estratégia de ataque aos tumores -o diagnóstico precoce. Com um exame rápido e simples, tudo fica mais fácil.
O estudo avaliou a eficácia desse teste em humanos que tinham tumores de cabeça ou pescoço, pulmão ou bexiga.
Para criar o teste, usou-se DNA (material genético) de mitocôndrias, estruturas localizadas dentro das células que atuam no sistema de produção de energia para o corpo funcionar.
Primeiro, os cientistas identificaram mutações no DNA mitocondrial (mtDNA) relacionadas a esses tipos de câncer em 20 pacientes. Essas mutações serviram como um gabarito.
Em seguida, eles estudaram as amostras de saliva, urina e escarro desses pacientes. Para finalizar, eles compararam o material do mtDNA mutante (o gabarito) com o retirado dos pacientes.
A intenção era descobrir se era possível encontrar alterações no mtDNA nessas amostras. A resposta foi positiva.
No estudo, publicado na revista "Science", o mtDNA mutante foi identificado em todas as amostras dos pacientes com câncer de pulmão ou bexiga. Em pacientes com câncer de cabeça ou pescoço, seis dos nove pacientes analisados apresentaram a alteração.
Apenas para o estudo, trechos de tumores precisaram ser retiradas por meio de biopsia para ser usadas como gabarito para as amostras. "Mas isso pode mudar no futuro", disse Henning Usadel, co-autor do estudo, à Folha.
Ele explica que, no futuro, as informações sobre as mutações específicas dos tumores investigados estarão todas dentro de um chip. Esse chip poderá, então, analisar o material de forma simples e rápida. "Há várias indústrias já trabalhando com chips. O que falta são as informações sobre mutações", disse Usadel.
Segundo ele, um chip com as informações desse estudo poderá estar pronto em um ano.
A princípio, o teste da Johns Hopkins poderá ser usado em pacientes que já tiveram câncer e que fazem acompanhamento para descobrir novos tumores. "O teste também poderá ser usado por pacientes que fazem parte de grupos de risco para a doença, como fumantes ou aqueles com histórico familiar", afirmou.
Para o cientista, a maior descoberta desse estudo foi a de que o DNA mitocondrial pode servir como marcador para o câncer. Um marcador é uma espécie de etiqueta que pode identificar um tumor.
O material genético sempre foi alvo de terapias e diagnósticos. No entanto, cientistas sempre ativeram-se ao material genético da célula, que fica dentro do núcleo.
O núcleo da célula contém apenas duas cópias do DNA, que vem tanto do pai quanto da mãe. Em contrapartida, o DNA mitocondrial existe em quantidades muito maiores. "Muitas cópias do mtDNA estão presentes em uma mesma célula", afirmou Usadel.
"É mais fácil usar o mtDNA como marcador, pois ele é abundante e mais simples de detectar", disse Usadel.
O teste tem o potencial de ser usado como triagem, mesmo para pacientes que não têm histórico familiar."Mais importante é que poderemos descobrir o tumor ainda em estágio inicial, de forma que o paciente tenha uma maior oportunidade de cura", disse David Sidransky, co-autor do estudo.
A criação de um método para detecção precoce de câncer poderia beneficiar todo o mundo, inclusive o Brasil. Dados do Instituto Nacional do Câncer estimam que 12.750 pessoas morreram de câncer de pulmão em 1999 e que 19.600 tiveram a doença diagnosticada.
No caso de câncer de esôfago, cerca de 5.260 pessoas morreram e 7.000 descobriram ter o problema no ano passado.


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