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Periscópio
Extinção nos mares
José Reis
especial para a Folha
Há uns 30 anos, em localidade marinha norte-americana, era possível
colher abundantemente moluscos de determinada espécie. Hoje a imprensa noticia a próxima extinção dessa espécie.
O problema estende-se a outras espécies que vivem todo o seu ciclo no mar e
mar e representa uma situação oposta à
de décadas anteriores, quando se imaginava que as espécies oceânicas fossem,
por natureza, inextinguíveis, dado o tamanho do ambiente, seu número e sua
prolificidade.
Hoje a noção da inextinguibilidade está ameaçada de extinção. Segundo Marjorie Reaka-Kudla, da Universidade de
Maryland em College Park, nos Estados
Unidos, já riscamos milhares, se não
centenas de milhares de espécies marinhas. De acordo com a pesquisadora,
1.200 espécies tornaram-se extintas nas
últimas centenas de anos, na maioria espécies que vivem nos recifes de coral,
ainda eram desconhecidas.
Poucos especialistas endossam números tão altos como os dessa bióloga
-para alguns, a taxa de extinção de espécies é bem mais baixa-, mas muitos
perderam a antiga complacência que enxergava as espécies marinhas como inextinguíveis. Afirmam eles que as atuais
condições de vida estão exercendo pressão sem precedentes, especialmente a
superpopulação com seus inúmeros
efeitos: poluição, excesso de pescaria, introdução de espécies exóticas e destruição de habitat, acrescidos dos novos
meios de pesca. Há em circulação nos
oceanos grandes traineiras conhecidas
como navios-fábrica, capazes de capturar e processar milhares de toneladas de
peixe. Esses barcos são vistos por organizações ambientalistas como vilões dos
oceanos, devido à sobrepesca e a captura
incidental de espécies sem interesse comercial, simplesmente descartadas.
São muitas as fontes de má percepção
na interpretação desses fatos. Além disso, é ainda muito grande a nossa ignorância biológica a respeito do mar.
Esses problemas provocam outros, como o de saber quantas espécies existem
nos oceanos atualmente. Reaka-Kudla
calcula que 275 mil espécies já foram até
agora descritas, de um total de 1,8 milhão
de espécies em todos os habitats, tanto
na terra quanto no mar. Mas acrescenta
que esses números exageram a baixa
contagem das espécies e que a vida marinha é ainda muito mal conhecida.
Ela calcula que só os recifes de coral, sabidamente grandes reservatórios de biodiversidade, abrangem pelo menos 1 milhão de espécies e, possivelmente, 9 milhões. Outro pesquisador, Fred Grassle,
da Rutgers University, também nos Estados Unidos, encontrou mais de 1.500 espécies do fundo oceânico. Para o mesmo
autor, cerca de 10 milhões de espécies devem existir no fundo do mar em expansão, outrora suposto estéril.
Ainda não se conhece o número exato
de espécies. Quando comparados os planos de organização no mar e na terra,
chega-se à conclusão de que a terra, com
todos os seus biomas e ecossistemas distintos, comporta 28 filos - os desenhos
básicos que distinguem os grandes grupos de organismos, como os artrópodes
(todos os crustáceos, insetos e seus parentes), os cordados (animais dotados de
coluna vertebral) e os poríferos (todas as
esponjas). Os mares contêm 43, segundo
cálculos de Reaka-Kudla.
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