São Paulo, domingo, 17 de março de 2002

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Periscópio

Extinção nos mares

José Reis
especial para a Folha

Há uns 30 anos, em localidade marinha norte-americana, era possível colher abundantemente moluscos de determinada espécie. Hoje a imprensa noticia a próxima extinção dessa espécie.
O problema estende-se a outras espécies que vivem todo o seu ciclo no mar e mar e representa uma situação oposta à de décadas anteriores, quando se imaginava que as espécies oceânicas fossem, por natureza, inextinguíveis, dado o tamanho do ambiente, seu número e sua prolificidade.
Hoje a noção da inextinguibilidade está ameaçada de extinção. Segundo Marjorie Reaka-Kudla, da Universidade de Maryland em College Park, nos Estados Unidos, já riscamos milhares, se não centenas de milhares de espécies marinhas. De acordo com a pesquisadora, 1.200 espécies tornaram-se extintas nas últimas centenas de anos, na maioria espécies que vivem nos recifes de coral, ainda eram desconhecidas.
Poucos especialistas endossam números tão altos como os dessa bióloga -para alguns, a taxa de extinção de espécies é bem mais baixa-, mas muitos perderam a antiga complacência que enxergava as espécies marinhas como inextinguíveis. Afirmam eles que as atuais condições de vida estão exercendo pressão sem precedentes, especialmente a superpopulação com seus inúmeros efeitos: poluição, excesso de pescaria, introdução de espécies exóticas e destruição de habitat, acrescidos dos novos meios de pesca. Há em circulação nos oceanos grandes traineiras conhecidas como navios-fábrica, capazes de capturar e processar milhares de toneladas de peixe. Esses barcos são vistos por organizações ambientalistas como vilões dos oceanos, devido à sobrepesca e a captura incidental de espécies sem interesse comercial, simplesmente descartadas.
São muitas as fontes de má percepção na interpretação desses fatos. Além disso, é ainda muito grande a nossa ignorância biológica a respeito do mar.
Esses problemas provocam outros, como o de saber quantas espécies existem nos oceanos atualmente. Reaka-Kudla calcula que 275 mil espécies já foram até agora descritas, de um total de 1,8 milhão de espécies em todos os habitats, tanto na terra quanto no mar. Mas acrescenta que esses números exageram a baixa contagem das espécies e que a vida marinha é ainda muito mal conhecida.
Ela calcula que só os recifes de coral, sabidamente grandes reservatórios de biodiversidade, abrangem pelo menos 1 milhão de espécies e, possivelmente, 9 milhões. Outro pesquisador, Fred Grassle, da Rutgers University, também nos Estados Unidos, encontrou mais de 1.500 espécies do fundo oceânico. Para o mesmo autor, cerca de 10 milhões de espécies devem existir no fundo do mar em expansão, outrora suposto estéril.
Ainda não se conhece o número exato de espécies. Quando comparados os planos de organização no mar e na terra, chega-se à conclusão de que a terra, com todos os seus biomas e ecossistemas distintos, comporta 28 filos - os desenhos básicos que distinguem os grandes grupos de organismos, como os artrópodes (todos os crustáceos, insetos e seus parentes), os cordados (animais dotados de coluna vertebral) e os poríferos (todas as esponjas). Os mares contêm 43, segundo cálculos de Reaka-Kudla.



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