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MEMÓRIA
Carreira aliou fama internacional na pesquisa e excelência no jornalismo
Reis foi brasileiro que mais
fez por divulgação científica
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
José Reis, cientista e jornalista,
foi sem dúvida alguma o brasileiro que mais fez pela divulgação da
ciência no país. Conseguiu aliar
uma importante carreira de pesquisador com reputação internacional ao trabalho de explicar
ciência de modo didático através
da imprensa. Escreveu na Folha a
partir de 1947, quando o jornal se
chamava "Folha da Manhã".
Reis conseguiu fazer um trabalho de qualidade em quantidades
assombrosas: seus textos de divulgação científica são contados
aos milhares. Desde 1992, quando
foi criado o caderno Mais!, publicava lá sua coluna Periscópio.
Tornou-se nome de prêmio ainda
em vida. O CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) concede
anualmente o Prêmio José Reis de
Divulgação Científica a instituições, jornalistas e cientistas. Ele
também ganhou prêmios por seu
trabalho de divulgação, como o
Kalinga, entregue pela Unesco
(Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura). Entre outros ganhadores desse prêmio estão o filósofo britânico Bertrand Russell e a antropóloga americana Margaret Mead.
Nascido no Rio de Janeiro em 12
de junho de 1907, foi o antepenúltimo dos treze filhos de Alfredo de
Souza Reis e Maria Paula Soares
Reis. Sua formação científica foi
feita na Faculdade Nacional de
Medicina (1925-30) e no Instituto
Oswaldo Cruz (1928-29). Foi em
seguida ao Rockefeller Institute,
Nova York, se especializar em virologia, de 1935 a 36. Conheceu
cientistas famosos e foi influenciado por eles. Já nessa época se
preocupava com a disseminação
do conhecimento: trabalhou no
Rio como professor secundário.
Seu excelente currículo no Instituto Oswaldo Cruz fez com que
fosse convidado para trabalhar
como bacteriologista no Instituto
Biológico de São Paulo. Aposentou-se do instituto em 1958.
Reis começou a pesquisar interessado basicamente no que se
costuma chamar de "ciência pura", sem aplicações práticas imediatas. Mas passou a se interessar
também pela ciência aplicada
quando notou os problemas práticos que a avicultura no país tinha com doenças. Tornou-se um
especialista em doenças de aves
respeitado internacionalmente.
Entre seus assistentes estava sua
mulher, Annita Swenssen Reis.
Seu Tratado de Ornipatologia,
com participação de Annita e
Paulo Nóbrega, foi exemplo dessa
repercussão internacional.
Envolvido com a administração
do Instituto Biológico, acabou
adicionando a administração pública à sua lista de conhecimentos,
publicações e serviços prestados
-colaborou com reformas administrativas no governo paulista. Foi diretor geral do Departamento do Serviço Público durante cinco anos, nos governos de
Fernando Costa e Macedo Soares.
Também foi o organizador e o
primeiro diretor da Faculdade de
Ciências Econômicas e Administrativas, atual Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, da USP.
Reis foi um dos fundadores da
SBPC (Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência) em 1948,
junto com intelectuais e cientistas
como Maurício Rocha e Silva,
Paulo Sawaya e Gastão Rosenfeld.
Foi o primeiro secretário-geral da
entidade e depois presidente de
honra. Foi de novo eleito para
presidir o órgão em 1979, mas
problemas de saúde impediram
que exercesse o cargo.
Jornalista
Seu trabalho na Folha foi além
da divulgação de ciência. Foi diretor de redação do jornal de 1962 a
1967, quando pediu para deixar o
cargo. Foi um período delicado.
Após o movimento de 64 começaram perseguições políticas a cientistas, notadamente "a caça às
bruxas" na USP. Reis se engajou
pessoalmente na luta pela liberdade de expressão e na defesa dos
perseguidos na universidade.
É difícil escolher uma obra mais
representativa entre seus livros,
dada a amplitude de seus interesses. Há desde "Methoden der Virusforschung", um resumo em
alemão do que de mais moderno
havia sobre os vírus em 1939, escrito com H. da Rocha Lima e
Karl M. Silberschmidt.
Mas há também "A Cigarra e a
Formiga", adaptação da fábula
em que duas formigas de espécies
brasileiras entram na história.
Reis fez traduções de livros variados -sobre a criatividade, a
teoria da relatividade, os animais
da América do Sul ou obras técnicas em agricultura ou didáticas.
A carreira de Reis parece à primeira vista a coleção de atividades
muito diferentes, uma "aparente
falta de unidade", como ele disse
de si próprio certa vez. "Essa unidade, porém, sinto que ela existe.
Não é a unidade de uma linha reta
de quem segue sempre a mesma
trilha de pesquisa do começo ao
fim, mas é a unidade dos círculos
crescentes que leva a procurar implicações cada vez maiores para o
próprio conhecimento que vou
adquirindo."
O jornalista Ricardo Bonalume Neto
escreve sobre ciência e tecnologia desde
1985. Recebeu o Prêmio José Reis de Jornalismo Científico para o ano de 1990,
concedido pelo CNPq, em 1991.
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