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AMAZÔNIA
Medições realizadas por grupo da USP indicam, no entanto, que excesso de fumaça causa colapso na fotossíntese
Queimada faz floresta crescer, diz estudo
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
A poluição do ar gerada por
queimadas da Amazônia é algo
totalmente nocivo, certo? Bem,
era isso o que os cientistas pensavam até recentemente. Até um
grupo da Universidade de São
Paulo descobrir que partículas
presentes na fumaça podem, na
verdade, estimular o crescimento
das árvores, fazendo-as retirar
mais carbono da atmosfera.
Um estudo realizado por Paulo
Henrique de Oliveira, do Instituto
de Física da USP, constatou que
aerossóis produzidos por queimadas e lançados na atmosfera a
concentrações dez vezes maiores
que o normal na Amazônia aumentam em 20% a fotossíntese,
reação pela qual as plantas retiram gás carbônico do ar e o fixam
na forma de raízes, folhas e caule.
O mesmo efeito foi observado em
três pontos diferentes, dois em
Rondônia e um no Pará, o que
afasta a coincidência.
"Ficamos espantados, porque o
efeito é contra-intuitivo", diz Paulo Artaxo, orientador de Oliveira.
Explica-se: as partículas suspensas na fumaça reduzem a quantidade de luz que incide diretamente sobre as plantas, o que, em tese,
reduziria também a fotossíntese.
O que os cientistas descobriram, no entanto, foi que os aerossóis da fumaça aumentam a luminosidade difusa, o que parece ser
vantajoso para as plantas.
Na última sexta-feira, Artaxo
apresentou os dados do estudo a
um grupo de cientistas que participavam de uma reunião do LBA
(Experimento de Grande Escala
da Biosfera-Atmosfera na Amazônia) em Brasília. Os resultados
foram submetidos a um periódico
internacional para publicação.
Carbono misterioso
Segundo o pesquisador da USP,
o estudo de Oliveira chama atenção para "mais um impacto antropogênico [humano] que ainda
não havia sido descoberto".
De quebra, pode ajudar a explicar um antigo mistério amazônico: quanto carbono a floresta de
fato retira do ar e fixa nas árvores.
Responder a essa questão é um
dos objetivos principais do LBA.
Isso porque as primeiras estimativas indicavam que a Amazônia
fosse um grande "ralo" de carbono, retirando do ar anualmente
cerca de 5 toneladas por hectare.
Um número tão alto teria implicações diretas para a políticas de
clima, pois indicaria que a Amazônia estaria retirando do ar boa
parte do gás carbônico (principal
causador do efeito estufa) que a
humanidade nele despeja por
meio da queima de combustíveis
fósseis, como o petróleo.
Só que a conta não fechava: para
que tamanha absorção ocorresse,
a floresta deveria ter o dobro do
tamanho que tem. Refinando as
medidas das chamadas torres de
fluxo, estruturas dispostas acima
do dossel e equipadas com instrumentos para medir temperatura,
umidade e trocas gasosas na floresta, o resultado ficava mais modesto. Ainda assim, em vários
pontos a fixação de carbono era
mais alta do que o esperado, por
volta de uma tonelada por hectare
ao ano ou mais.
Artaxo crê que a explicação possa estar nas queimadas, que estariam transformando a floresta
num ralo de carbono.
"As emissões de queimadas estão mudando o balanço de carbono na Amazônia", disse. "Isso em
parte pode se explicar pelo transporte a longa distância de aerossóis de queimadas vindos de Mato Grosso [para RO e PA]."
Mas que os produtores rurais
não se animem a achar que queimadas são um bom negócio: o excesso de aerossóis pode levar e leva o sistema ao colapso. Ao mesmo tempo em que se descobriu
que concentrações de aerossóis
dez vezes maiores que o valor
normal aumentam a fotossíntese,
ultrapassar em muito esse limite
-algo que também acontece
com freqüência na floresta durante as queimadas- corta completamente a reação, como se caísse a
noite sobre a mata.
Ozônio
Um outro estudo do mesmo
grupo, conduzido num laboratório do Instituto Botânico de São
Paulo por Patrícia Bulovas, mostrou que a produtividade primária (fotossíntese) de uma das
commodities que mais provocam
a queima da floresta -a soja-
cai em 30% devido à exposição a
um outro poluente liberado durante as queimadas, o ozônio.
"É um resultado importante,
porque mostra que as queimadas
também trazem prejuízo para o
sojicultor", diz Artaxo. A idéia,
agora, é medir o efeito do ozônio
no campo, em lavouras de soja.
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